Essa expressão, cunhada pelo filósofo húngaro Georg Lucaks, foi usada
para designar aqueles casos onde os intelectuais se beneficiam
profissionalmente de sua proximidade física ou política junto ao Poder.
No caso brasileiro, esse fenômeno é mais complicado, porque - além das
benesses materiais e culturais - há também o chamado "tráfico de
influências", sobretudo quando se é parente em primeiro grau do
governante de turno.
Como se não bastasse a imensa pletora de familiares que ocupam cargos na
administração estadual (e municipal), temos o agravante daqueles que
utilizam vínculos de parentesco para obterem vantagens profissionais. É o
caso de um conhecido advogado, dublê de escritor, poeta e promotor
cultural, que se vale do parentesco com o mandatario estadual para se
apresentar como patrono ou mecenas das letras e das artes em Pernambuco,
mobilizando os meios de comunicação de massa, contratando figurinhas
carimbadas nos meios literários e editorais oficiais e organizando
feiras, tertúlias e convescotes literários.
Se essas atividades fôssem promovidas no âmbito privado, com recursos
privados e destinados ao mercado, não haveria nada a comentar sobre o
assunto. Intitularia-se "Showbusses", industria cultural, mercado
cultural ou coisa do gênero. No entanto, o problema começa com a
estreita proximidade desses negócios culturais com o Poder Público e
isso numa época em que se fala tanto de "transparência", "acontability",
"prestação de contas" da gestão etc. De nada adianta fazer propaganda
da gestão, quando esse "intimismo" compromete a essência republicana e
democrática da administração. É como se fôsse um cosmético ou uma
simples maquiagem, destinada a ocultar os outros negócios e atividades
que grassam à sombra do Poder, sem nenhum controle ou fiscalização.
Ninguém, em são consciência pode ser contra o patronato privado de
atividades culturais, pagas e destinadas a um público pagante. No
entanto, quando este patronato é bafejado pelo influxo da sempre
generosa proteção estatal, aí a coisa muda de figura. Esse arranjo é bem
conhecido: o estado investe, constrói, gasta recursos públicos, e o
particular se beneficia, às vezes cobrando dos usuários e espectadores
ingressos ou pedágios exorbitantes.
É preciso submeter esse modelo de financiamento público-privado da
cultura, das letras e das artes a uma séria, isenta e equilibrada
auditoria pública, para que isto não se configure, mais uma vez, num
modo de privatização de lucros e socialização de prejuízos ou na
reedição do velho e conhecido patrimonialismo familiar no estado de
Pernambuco.
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário