Há muitas maneiras e modos de se ocupar o campus universitário da UFPE.
A pior delas é pela Polícia Militar. O campus universitário da UFPE tem
autonomia política e administrativa, está subordinado à jurisdição
federal. Quando um reitor - ou um membro da comunidade universitária
qualquer - invoca a presença da corporação militar estadual para
resolver alguma contenda ou conflito interno, abre um precedente muito
perigoso para outros tipos de ação ou incursão por parte de agentes cujo
objetivo deveria ser a proteção das pessoas.
Todo mundo sabe que é muito fácil investir o chamado "Poder de Polícia"
de outras funções e missões, não necessariamente republicanas e
democráticas. A história das ditaduras civis e militares está cheia de
exemplos de como é possível fazer isso. E até hoje, estudamos as
consequências dessas operações perigosas.
O Poder de Polícia nunca é neutro, menos ainda num estado de duvidosa
constitucionalidade, onde o império da lei oscila ao sabor das
conveniências políticas dos mandatários de plantão.
As recentes manifestações estudantis no Campus universitário da UFPE,
sob o reitorado de um egresso da esquerda militarizada, foram
manifestações contra a privatização dos serviços hospitalares,
ambulatoriais prestadas pela Universidade, através do SUS, a quem não
pode pagar por um bom plano de saude.
Embora o HC já estivesse submetido ao "modelo operacional" que
implicava em cobrança e tratamento diferenciado (segundo um manual
publicado), a estratégia do governo federal de privatizar os hospitais
universitários, através de uma empresa privada de presação de serviços
hospitalares (EBSH) se configura como um crime de lesa-cidadania e uma
clara transferência de responsabilidades da parte do gestor
público-estatal para uma entidade privada, sem nenhuma vinculação
institucional com o Estado brasileiro.
Nós já conhecemos essa manobra e sabemos de suas graves consequência s
para a população usuária do Hospital. Sobre ser ilegal, essa medida
atenta contra os pilares do Sistema Único de Saude, e vai prejudicar os
mais necessitados.
Quando os estudantes se organizaram para protestar contra essa manobra
maligna e antipopular, já tinham se manifestado inúmeras vezes nos
órgãos colegiados da UFPE e em outros atos públicos com o objetivo de
barrar o processo de privatização. A ocupação simbólica do prédio da
administração central da UFPE é um gesto de defesa do patrimônio
público, patrimônio da sociedade recifense, pernambucana e brasileira.
Não era contra ninguém. Era a favor da população.
Chamar a Polícia para reprimir essas legítimas e democráticas
manifestações não é só um ato antipedagógico por parte de quem chamou; é
fascista. É um ato de intolerância e de incapacidade de lidar
democraticamente com os protestos da comunidade universitária.
Os estudantes não quebraram nada. Não destruiram nada. Não surrupiaram
nada. Exerceram o seu legítimo direito de protestar contra um ato
administrativo que interpretaram como ilegal e danoso para os usuários
dos serviços de saude. Poderiam até estender o protesto a outros
simbolos de privatização na UFPE, como cursos de Pós-graduação pagos,
núcleos de pesquisa pagos, prestação de serviços remunerada etc. Talvez
isso seja um começo. Um bom começo.
É preciso lembrar que o principal mandatário da UFPE declarou
publicamente que os estudantes da UFPE não são capazes de atentar contra
o patrimonio da instituição. E que os excessos poderiam ter sido
praticado por gente de fora da comunidade universitária. Bom lembrete:
qual é o nome da instituição que costuma infiltrar seus agentes nos
movimentos sociais, com o fim de desmoralizá-los e justificar a
criminalização de suas ações? = Ganha um doce, quem acertar.
Mais uma vez, somos obrigados a concordar com os Titãs: "Polícia, para
quem precisa de Polícia". E, "Viva os estudantes", como dizia a cantora
Violeta Parra. Eles são mil vezes melhores do que os professores e os
administradores da UFPE: ainda acreditam em princípios.
Michel Zaidan Filho, sociólogo, professor da UFPE
Nenhum comentário:
Postar um comentário