pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: O governador, o secretário e Gilberto Freyre
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Michel Zaidan Filho: O governador, o secretário e Gilberto Freyre



A despeito da lei Maria da Penha, das delegacias especializadas nos crimes contra a mulher e da criação de uma secretaria destinada á promoção de ações em favor da mulher, o assassinato das mulheres em Pernambuco bem como os abusos praticados contra os homossexuais não diminuíram em nosso estado. Há muitas razões para isso: e aquelas ligadas à mentalidade dominante não é menos importante.


Agora a pouco, tivemos um exemplo dessa arraigada mentalidade misogínica e homofóbica protagonizado , nada mais nada menos, pelo ex-secretário da Defesa Social, policial oriundo da corporação militar federal. Há uma mentalidade muito persistente, transmitida e encorajada pelas mulheres e alguns magistrados, do que a violência praticada contra as mulheres e os homossexuais é causada pelas próprias vítimas!



Numa espécie de vitimologia de botequim, os defensores dessa tese alegam que são as mulheres e os próprios homossexuais que dão motivo e pretexto para que sejam atacados, vilipendiados pela polícia e outros meliantes. O argumento é que os policiais recebem, na rua, muitos bilhetinhos com declarações de amor e de desejo enviados pela população civil a eles, numa espécie de excitação social por causa da farda, dos músculos, do porte atlético, da virilidade etc.etc.etc. E que muitos agentes fardados da segurança pública do estado simplesmente não resistem ao assédio sexual. Pode uma coisa como essa?



Não sei se o governador, que acaba de se reunir com uma conhecida entidade de direitos humanos do Recife, compartilha com essa tese do seu ex-subordinado e releve os crimes sexuais cometidos pela polícia contra mulheres negras e pobres e homossexuais. Se compartilha, deve ter bebido esses ensinamentos valiosos numa leitura vesga da obra de outro ilustre pernambucano de Apipucos, Gilberto Freyre, que fala explicitamente no resquício de uma herança sado-masoquista oriunda das relações escravagistas em nossa região.



A questão é a seguinte: supondo que a herança verdadeira, nós devemos louvar e exaltar essa virilidade dos machos copuladores contra fêmeas exitadas, mais ainda pelos homens de farda e de porrete, ou devemos combater essa herança como uma patologia histórica e social? - Curioso é que a secretária da Mulher, ex-aluna de Ciência Política, que defendeu uma dissertação sobre "o feminismo como crítica civilizatória", não seja convidada a participar dessa discussão!



Ela não é, por acaso, a secretária dos assuntos relativos à mulher em Pernambuco? O que é que ela tem a dizer sobre o assunto? Trata-se de uma crime tipificado no código penal essa tendência sado-masoquista da polícia contra criatura indefesas e pobres ou é um traço cultural-nordestino-pernambucano do qual muito nos honramos ou nos orgulhamos, como nossos antepassados faziam das cicatrizes da sífilis - prova de masculinidade entre as escravas e mucamas?



De toda maneira, cabe uma palavra (e ações) tranquilizadoras do chefe do Poder Público em nosso estado, sobre um aparelho policial em relação ao qual, o chefe do executivo estadual, nunca alimentou ilusões.



Pelo contrário: foi se socorrer dos favores da Universidade (invadida pela corporação policial) para achar uma fórmula de lhe dar com essa polícia. Se a polícia é um mal necessário na sociedade, é preciso se cercar dos controles e remédios indispensáveis para tolher seus abusos e arbitrariedades que a posse (e a esperança de impunidade) de um distintivo e uma arma parece conferir a seus membros. Vai ser polícia, quem não pode ser engenheiro, arquiteto, médico, advogado, capitalista ou qualquer outra coisa.



Os policiais são filhos do povo, pela sua origem humilde e sem oportunidades de crescer na vida. Infelizmente, são os que mais oprimem a população, talvez por um efeito de distanciamento psicológico, cujo fim seria renegar as próprias origens sociais. o que fazer para acabar com isso?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da UFPE

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