Pernambuco piorou sob Eduardo Campos. Não há porque imaginar que faria melhor, governando o Brasil. É sua performance que deve ser avaliada, e não sua juventude ou "novas idéias". Não cabem debates vazios sobre Marina Silva, e sua suposta santidade ou suposto fundamentalismo. Marina pode e deve ser avaliada - inclusive por associar sua força política a um gestor tão medíocre. Mas é o currículo de Campos que precisa ser esquadrinhado agora.
Eduardo tem 48 anos. É formado em economia. Nunca trabalhou na iniciativa privada. Com 21 anos, em 1986, foi ungido chefe de gabinete de seu avô, Miguel Arraes. Em 1990, 25 anos, se elegeu deputado. De lá para cá só fez política. Governa o estado desde 2007. Conquistou o eleitorado como herdeiro político de Arraes, três vezes governador de Pernambuco; Eduardo foi secretário da fazenda, em uma das gestões. Vem sendo apresentado como candidato moderno e independente, próximo de empresários e ambientalistas, de tucanos e petistas. Não quer ser do contra. Diz que é capaz de "fazer melhor".
Se é mesmo, porque não fez em Pernambuco? O discurso de Campos não resiste a uma brisa de realidade. A reportagem de Murilo Camarotto, do Valor, é um tufão. Camarotto fez um levantamento detalhado dos dois últimos censos da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), e cruzou com dados dos ministérios da Saúde e Educação. Ouviu especialistas em Pernambuco. Escreveu uma reportagem de uma página. O texto é de jornal, sóbrio. As conclusões são arrasadoras para a candidatura de Campos.
A maior parte dos indicadores sociais de Pernambuco não subiu na gestão Campos. Diversos caíram. O estado caiu no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ficou estagnado em expectativa de vida. Dos 23 estados brasileiros, Pernambuco está em 17º no Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Subiu somente um degrau desde 2005, um ano antes da eleição de Campos. No ensino médio se manteve em 17º, no período. O estado é o 8º com mais analfabetos. É o 16º em acesso a abastecimento de água, 19º em consultas médicas por habitante, e por aí vai.
A desculpa que é estado nordestino e pobre não justifica. Pernambuco teve performance pior que vários estados nordestinos. E foi dos estados que mais recebeu verba federal - recebeu mais de 2 mil obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.
A reportagem de Camarotto aponta melhora em alguns poucos indicadores. Mas revela um fato surpreendente. Explica porque o PIB pernambucano cresceu tanto (5,1% ao ano entre 2006 e 2012) e sua população continua com uma vida tão difícil. A professora da Universidade Federal de Pernambuco, Tatiane de Menezes, se baseia no chamado Índice Sintético de Pobreza Multidimensional para dar seu veredito sobre o governador. O índice agrega dados de acesso ao conhecimento e ao trabalho, disponibilidade de recrusos, desenvolvimento infantil, vulnerabilidade e condições habitacionais.
No Nordeste, Pernambuco foi o segundo estado que menos baixou este indicador entre 200 e 2010. Sua posição no ranking da pobreza "multidimensional" inclusive subiu, de oitavo para sexto lugar. Segundo a economista, o crescimento do PIB se deu através de uma industrialização forçada, que atrai fábricas dando muitos benefícios fiscais e recursos do estado. "O PIB fica acima da média nacional", diz Tatiane, "mas vai para poucos empresários." E as melhores vagas, segundo ela, vão para trabalhadores que vêm do Sul e Sudeste. São fatia cada vez maior da população economicamente ativa de Pernambuco. Os pernambucanos não têm qualificação para estas vagas, justamente as melhor remuneradas.
Importante dizer que a violência caiu. Caiu 5,5% ao ano entre 2008 e 2013. Pernambuco foi dos poucos estados que conseguiu reduzir a violência no período. E com isso tudo, ainda é o segundo estado mais violento, com 38 assassinatos para cada cem mil habitantes, ficando apenas atrás de Alagoas.
A performance de Eduardo Campos faz as gestões pedestres de Aécio Neves e Dilma Rousseff parecerem brilhantes. Minas e Brasil avançaram muito mais que Pernambuco. Aliás, a maioria dos vizinhos de Pernambuco no nordeste também avançaram muito mais. Campos conquistou a avaliação de governador mais bem avaliado do Brasil à custa de factóides e relações públicas, que não resistem à análise fria dos dados.
O trabalho de Murilo, correspondente do Valor em Recife, é nova prova de que ainda há espaço - e necessidade - para o bom e velho jornalismo, investigativo e analítico. E demonstra que o Brasil não tem terceira via nas eleições de 2014. Por enquanto.
A íntegra da reportagem está aqui. É necessário se cadastrar. Vale a pena.
André Farastieri, Portal R7
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