O pré-candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, esteve na segunda-feira em São Paulo em um evento para 200 empresários, organizado pelo Estado e pela Agência Corpora Reputação Corporativa. Lá, disse que pretende acabar com a troca de favores e cargos que se estabeleceu no presidencialismo de coalizão brasileiro e que vai romper com as “velhas raposas” da política. Esse tem sido o mantra de Campos, entoado, horas depois, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura. Disse que a “sétima economia do mundo” não pode fazer “política velha”, ou seja, distribuir ministérios para manter a base política.
O pré-candidato é experiente, sabe como funciona a política brasileira e a diferença entre discurso e prática. Quando foi eleito governador de Pernambuco, em 2006, tinha o apoio de 17 partidos. Campos teve de abrigar a turma na sua gestão. Logo de saída, criou oito novas secretarias, entre as quais Recursos Hídricos, Mulher e Articulação Social e Regional. Elevou de 18 para 26 o número de pastas. Em 2011, logo depois da sua reeleição, criou outras duas: Meio Ambiente e Secopa. “Vamos reduzir pela metade os ministérios”, disse ao criticar os 39 da pré-candidata petista Dilma Rousseff.
Mas por que Campos não reduziu o número de secretarias quando ele era governador de Pernambuco? Sim, ele reduziu. De 28 secretarias para 23. Mas só no apagar das luzes do seu governo, no começo deste ano, quando ele já sabia que três meses depois sairia do governo do Estado para ser candidato à Presidência. Governou, portanto, durante mais de sete anos com uma estrutura administrativa de secretarias maior do que a que recebeu ao assumir em 2007.
Em outro momento da entrevista, Campos disse ser necessário ter “coragem de colocar na oposição” as velhas raposas. Tampouco foi isso que ele fez em Pernambuco. Inclusive, deu sobrevida política a muitas delas. Nos quase oito anos de governo, nomeou parentes de políticos, que podem ser considerados “velhas raposas”. A filha de Severino Cavalcanti (PP), Ana Cavalcanti, foi indicada para a Secretaria dos Esportes. Sebastião Oliveira, primo de Inocêncio Oliveira (PR), ocupou a Secretaria dos Transportes – ele emplacou ainda o titular da Secretaria de Turismo.
Campos deu espaço em seu governo para o PT (Cultura), PC do B (Ciência e Tecnologia), PV (Meio Ambiente), PSD (Instituto de Recursos Humanos) e por aí vai. Os partidos que lhe deram apoio na Assembleia participaram da sua administração, como acontece na velha política. Até partidos que eram da oposição ganharam espaço no governo e passaram a apoiá-lo. O PSDB, por exemplo, ganhou a Secretaria de Trabalho e a presidência do Detran – que antes estavam com o PTB. O PMDB, de Jarbas Vasconcelos, também oposição até outro dia, indicará o vice-candidato na chapa do PSB ao governo do Estado neste ano.
Como resultado dessa distribuição de cargos, a oposição ao ex-governador na Assembleia foi raquítica. Das 49 cadeiras de deputados estaduais, nem dez se dispuseram a estar na contramão do Executivo. No final do ano passado, PT e PTB decidiram passar para a oposição. Mas só porque terão candidato próprio na eleição ao governo de Pernambuco. Abandonaram os cargos, num movimento parecido com o do PSB, de Campos, que em 2013 desembarcou do governo Dilma após a decisão de que o ex-governador seria candidato à Presidência.
Campos não é “sonhático”. Sabe como funciona a política brasileira e como, infelizmente, as maiorias no Congresso e nas Assembleias são formadas. Mas disse, no Roda Viva, que no seu caso agregará as legendas em torno de um “programa de governo”. Nada de troca-troca. Retórica parecida surge no PT, da presidente Dilma, e no PSDB, do ex-governador Aécio Neves, quando instados a falar sobre as indicações políticas em seus respectivos governos.
Por fim, o pré-candidato do PSB enalteceu o apoio suprapartidário que sua pré-candidatura recebe em Pernambuco. “O Estado marcha em grande unidade para votar num filho da terra, que governou com largueza, que não perseguiu, que o fez o bem para muita gente e que agora pode ser presidente da República. Então, eu acho bom que o meu Estado esteja se unindo de norte a sul, de leste a oeste, todos os lados políticos para poder ajudar a gente a chegar à presidência da República.”
Sem dúvida, essa unidade é boa para ele. Mas que fique claro que não é pelos olhos azuis de Campos.
Júlia Duailibi, Radar do Estadão, 28/05/2014
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