publicado em 28 de maio de 2014 às 12:43
por Beatriz Brusantin, via Facebook*
Você já ouviu falar do movimento #OcupeEstelita?
Pois está ocorrendo em Recife e é contra um Consórcio chamado Novo
Recife da construtora Moura Dubeux e com grande apoio do prefeito
Geraldo Julio (indicado de Eduardo Campos).
Trata-se de um projeto repleto de ilegalidades e em cima de um leilão
fraudulento. A ocupação está ocorrendo desde a madrugada do dia 22,
quando na calada da noite, a Moura Dubeux, sem alvará começou a demolir
históricos Armazéns de Açúcar.
Até hoje cerca de 50 pessoas estão ocupando o lugar com diversas
atividades culturais, educativas e de conscientização cidadã, que estão
atraindo muitos.
A imprensa pernambucana, contudo, silencia sobre o tema.
Obviamente, porque faz parte da “máfia”, a qual tem apoio do Eduardo
Campos uma vez que seu partido recebeu uma doação de milhões por parte
da Moura Dubeux. Veja as páginas do Direitos Urbanos e observe a
movimentação. A veiculação deste movimento seria uma imensa
contribuição.
*Beatriz Brusantin (Dra em História Social, prof. universitária)
por Luciana Santos, via Facebook
Sou de Recife e neste momento há um movimento, o #OcupeEstelita, em
que a população reivindica o Cais José Estelita, um conjunto histórico
de galpões e área ferroviária para ser transformada em um projeto para a
cidade. No entanto, a prefeitura tem agido a favor da construtora Moura
Dubeux, responsável pelo Projeto Novo Recife, que planeja construir 13
edifícios de até 40 andares, transformando a área em propriedade
privada, demolindo os galpões e descaracterizando a paisagem urbana.
Esta mensagem é para que espalhem o movimento nesta página para que
mais pessoas no Brasil saibam da situação, que diz respeito também ao
candidato à presidência, Eduardo Campos, e está sendo ignorado ou
desvirtuado pela imprensa, que não ouve as alternativas que a opinião
popular quer mostrar para o projeto.
É muito importante que isto seja compartilhado para ganhar uma boa dimensão nacional.
Por Felipe Melo, professor de biologia da UFPE
Há muitos paralelos entre as teorias ecológicas e a nossa vida como
sociedade humana. Apesar de Darwin ter dado o golpe final na ideia de
que somos especiais na natureza, o #OcupeEstelita vem, 150 anos
depois da Origem da Espécies, dar uma evidência inequívoca de que nesse
habitat que é a cidade, a ecologia humana faz cada vez mais sentido,
somos bichos. E como bichos humanos, quando não estamos satisfeitos com o
nosso hábitat, nós o transformamos.
As cidades são o resultado final de um processo de domesticação da natureza que começou desde que aparecemos na terra.
Construir um parque com grama e árvores plantadas ou arranha-céus de
vidro são faces da mesma perseguição pela domesticação da natureza.
Somos todos na atualidade a resultante desse processo
histórico-biológico, talvez encravado na memória de nossos genes que é o
de construir nosso próprio hábitat. A diferença está na extensão dos
benefícios da domesticação do hábitat urbano. Está no entendimento de
qual tipo de domesticação da paisagem e da natureza são desejáveis e
quais deles definitivamente funcionais para o hábitat como um todo.
Portanto é de uma tolice imensa achar que as pessoas que ocupam o
cais José Estelita nesse momento são neo-hippies saudosistas pregadores
da volta à natureza intocada, da não-intervenção nos espaços. Ora, é
justamente o contrário que nos move nesse momento, é o desejo de
intervenção na cidade. É o desejo de que aquele espaço seja parte de um
hábitat, que ele se integre a uma funcionalidade tão necessária para
nossa casa. Neste sentido o grupo Direitos Urbanos é didático ao
convidar toda a sociedade a discutir democraticamente um modelo de
hábitat urbano que seja de fato representativo e funcional.
A palavra ecologia vem do grego, “oikos” que significa casa ou
hábitat num sentido mais amplo e ganha força na ciência uma nova
concepção de ecossistemas, a ideia de “antroma” e não mais de “bioma”. É
a constatação/concepção de que já domesticamos boa parte da natureza e
que não é possível pensar ecologicamente os espaços da terra sem a
presença humana.
Tal concepção tem aproximado a ecologia dos hábitats urbanos e
emprestados conceitos e ferramentas interessantes para o entendimento e
planejamento das cidades. Eis então que sob a ótica ecológica moderna
(falo da ciência ecológica dura e rigorosa) o “Projeto Novo Recife”
termina sendo, paradoxalmente, justamente o contrário da domesticação da
natureza. É o apogeu de um modelo concentrador de recursos naturais,
desperdiçador de energia, promotor da entropia (caos) e emissões de
gases responsáveis pelo aquecimento global e, sobretudo dilapidador de
uma das mais importantes propriedades dos sistemas biofísicos, a
resiliência. Esta é a capacidade de recuperação dos sistemas frente às
perturbações.
Ao permitir que a cidade abrigue em uma das suas porções mais
importantes um empreendimento dessa natureza, estaríamos reduzindo mais
um pouco a resiliência do Recife, condenando esse ecossistema urbano que
é a cidade à instabilidade aguda da qual já padece cronicamente. É
deixar escapar justamente a possibilidade de adaptar nosso hábitat às
nossas necessidades, que seguramente não são mais uma dezena de torres
gigantes de apartamentos e algumas dezenas de milhares de carros.
Por isso, #OcupeEstelita!
(Publicado Originalmente no site Viomundo)
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