Alguns heróicos deputados da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão esboçaram resistência à proposta de estadualização da Fundação José Sarney, que passaria a se chamar Fundação da Memória da República Brasileira. A proposta, como já é do conhecimento público, foi aprovada, pois a governadora Roseana Sarney tem maioria naquela Casa. Trata-se de um verdadeiro acinte aos princípios republicanos que deveriam orientar as ações dos governantes. A Instituição era mantida com recursos privados, mas encontrava-se, na argumentação da governadora, enfrentando algumas dificuldades. A salvação, então, foi recorrer aos recursos da Viúva, que passam a ser destinados ao culto à personalidade de Sarney, consolidando práticas patrimonialistas que deveriam ser extirpadas do nosso sistema político, mas que continuam coexistindo, apesar do flerte com a modernidade. Indagado sobre a utilização de helicóptero do Estado para viagens particulares, Sarney alegou que se tratava de uma homenagem à democracia. Possivelmente ele teria uma resposta parecida se indagada sobre a Fundação José Sarney. Trata-se de mais uma homenagem à democracia. Caberia, então, perguntar qual o conceito que Sarney tem da democracia. A democracia é apenas um dispositivo para a manutenção de seus privilégios. O clã Sarney é uma das últimas grandes oligarquias da política brasileira, que ratearam o Estado em feudos particulares, explorados de acordos com suas conveniências. Alinhavado com setores conservadores e com partidos como o PT, cuja Direção Nacional decretou intervenção no Diretório Regional do Maranhão, exigindo o apoio do partido à então candidata Roseana Sarney, filha do patriarca do clã. Quando Sarney enfrentou algumas dificuldades no Congresso, Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração bastante infeliz, sugerindo que Sarney era um ser especial e que não deveria responder pelos seus atos perante à justiça como um cidadão comum. Agora, o Maranhão terá um templo para a adoração desse ser especial; funcionários pagos pelo erário para cuidar dos seus bens pessoais, num exemplo acabado de privatização do público;Os mecanismos de avaliação e de ascensão na carreira se darão estritamente pelo grau de subserviência ao senhor, subvertendo os dispositivos republicanos; as atividades serão orientadas para os rituais totêmicos e o culto à personalidade será a essência dos trabalhos ali realizados, onde a mais-valia pública dará lugar aos benefícios particulares. Uma verdadeira agressão à res pública. Os antigos funcionários da Fundação José Sarney foram incorporados à nova entidade, sem concurso público. No projeto enviado à Assembléia - muito bem assessorada - a governadora definiu com clareza as prerrogativas familiares na indicação de conselheiros e, principalmente, a "disposição" dos bens - a qualquer momento - sem nenhuma satisfação ao Estado. Evidentemente. Quem, afinal, está preocupado com o interesse público?
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