pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO
Powered By Blogger

sexta-feira, 7 de outubro de 2011



O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 NO RECIFE - “Tudo que é sólido desmancha no ar” – O episódio “Odacy Amorim” fornece alguns indicadores sobre a inevitável implosão da Frente Popular de Pernambuco.

 José Luiz Gomes escreve

                                   Num churrasco promovido na Fazenda São José, de propriedade da família Mendonça, em Belo Jardim, Agreste do Estado, formou-se uma coalizão política que teria o nome de União por Pernambuco, capitaneada pelo então prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos, e com a chancela de uma grande liderança política do Estado, já falecido, José Mendonça ou Mendonção, como era conhecido. O projeto era ambicioso. Falava-se em 20 anos de poder, rateado entre os grupos que compunham a aliança, com nomes já devidamente escalados para ocupar o Palácio Antonio Farias e o Palácio do Campo das Princesas. Pouco tempo depois alguns atores demonstrariam sua insatisfação com a condução do processo, culminando com a derrota de Roberto Magalhães para a Prefeitura da Cidade do Recife. O episódio provocou um desarranjo nos planos da União, antecipando seu esfacelamento.

                                    Embora em circunstâncias políticas bastante específicas, parece-nos inevitável que a Frente Popular venha apresentar os mesmos sintomas e possivelmente caminhar para o mesmo diagnóstico: a implosão. Por incrível que possa parecer, o “fator João”, muito anos depois, mesmo que indiretamente, também passa a ser um dado relevante nesse desfecho, embora, no caso específico, a Frente Popular, neste momento, apresente um quadro de quem estaria sendo corroída pelas próprias entranhas. Quando muito, uma H-pylori para acelerar o processo. O deputado estadual Odacy Amorim tem cara de H-pylori?

                                   Petrolina é uma cidade emblemática. Essa foi uma das expressões mais usadas pelos colunistas políticos para descrever o cisma que se instalou nos principais partidos que compõe a Frente Popular que dá sustentação política ao governo Eduardo Campos. De fato, Petrolina é uma cidade emblemática sob vários aspectos. Movimentos sociais organizados naquela cidade tiveram uma relação bastante estreita com o Partido dos Trabalhadores, ainda na década de 80, quando o partido foi fundado. Algumas dessas lideranças, como a combativa deputada estadual Isabel Cristina, atuam na vida pública ainda hoje.  

                                   Nas eleições de 2008, sobretudo pela ausência de um consenso entre os partidos da Frente, Petrolina infringiu uma derrota ao grupo do governador Eduardo Campos. Há, naquele município do Vale do São Francisco, várias lideranças políticas ligadas ao PSB, tornando-se difícil construir a unidade do partido em torno de um ou outro nome que possa habilitar-se à disputa pelo executivo. Com a saída de Fernando Bezerra Coelho, assumiu a prefeitura o hoje deputado estadual Odacy Amorim. Pensava que poderia ir às urnas naquelas eleições, renovando sua gestão, mas as prévias indicaram o nome de Gonzaga Patriota. Odacy se sentiu traído, ficando bastante magoado com os companheiros socialistas, o que explica sua saída do partido.

                                    Cindida, como já afirmamos, a Frente popular perderia aquelas eleições para o médico Júlio Lóssio, do PMDB. A vitória numa cidade importante como Petrolina, conferiu a Júlio o status de estrela nacional da agremiação, tornando a cidade estratégica nos planos dos caciques da legenda. Por outro lado, quebrar a hegemonia do PMDB naquela cidade possivelmente passou a ser uma meta entre os estrategistas políticos do Palácio do Campo das Princesas. Cidade do chamado “triângulo das bermudas”, Petrolina irradia sua influência e indica tendências entre as outras cidades do Vale, daí sua importância política e econômica.

                                    Mantida a integralidade da Frente, a liderança do governador seria suficiente para os ajustes de egos ou arrumação da fila. Cindida – com a migração do deputado Estadual, Odacy Amorim, do PSB para o PT - abrem-se as possibilidades para a reprise do filme das últimas eleições, mantendo-se a hegemonia do PMDB na toca dos Coelhos.  Essa filiação, como todos acompanharam pelos jornais, causou um estremecimento entre os partidos da Frente Popular, levando lideranças do PSB – não necessariamente ligadas àquela cidade – a ameaçarem de retaliação a manobra do Partido dos Trabalhadores. As eleições de 2012 no Recife, entraram, então, na ordem do dia, sugerindo-se que o PSB, em função do rompimento dos acordos em Petrolina, separada apenas geograficamente por mais de 700 km da capital pernambucana, se sentia livre para lançar uma candidatura própria no Recife, como há muito se especula.  

                                   Algumas lideranças mais moderadas da agremiação, caso do senador Humberto Costa e Pedro Eugênio, trataram logo de colocar panos mornos no affair Odacy, informando que o PT, em nenhum momento, convidou-o a filiar-se ao partido. Pedro Eugênio – em seu conhecido tom conciliador – lembra que o resultado de algumas lideranças políticas ter se filiado ao partido não significa, necessariamente, que eles serão candidatos nas eleições de 2012. Odacy, então, teria entrado no PT estimulado pelo exercício da democracia interna da legenda. Logo ele que parece ter traumas com prévias.  Procurem entender o dirigente. Os mais exaltados, como Jorge Perez, colocaram mais lenha na fogueira pelo microblog Twitter, advogando a autonomia do partido nessa questão.   

                                    Os primeiro companheiros eleitos pelo PT para cargos públicos – seja no Legislativo ou no Executivo – foram bastante festejados pela agremiação. O editor do blog lembra  um encontro do partido, do qual participamos, ocorrido numa escola pública do Parque 13 de Maio, onde Nelson Pereira, o primeiro prefeito do Partido dos Trabalhadores no Estado, foi recebido entusiasticamente pela militância. Logo essa militância ficaria decepcionada, pois desejavam que esses simples executivos municipais transformassem o mundo, implantando na terra uma sociedade de plena justiça social. O choque que se formou entre esses exaltados militantes e os primeiros executivos do partido rendeu dissertações mestrado – como a do Cientista Político Cláudio Gonçalves Couto, da FGV - e também alguns desastres administrativos.

                                    Algumas tendências do Partido custaram a entender que, ao entrar no jogo da democracia representativa burguesa, um trabalho ardiloso da Articulação/Unidade na Luta – o partido assumiu o compromisso de respeitar algumas regras, ou seja, resumidamente, acatar os próprios dispositivos políticos/jurídicos inerentes ao regime. Em entrevistas concedidas a Cláudio Gonçalves Couto, Luiza Erundina afirmava que eles não entediam que os projetos do Poder Executivo precisavam ser negociados, em alguns casos demandados - com adversários políticos, em arenas determinadas, como o Poder Legislativo. Também não se poderia governar “apenas” para os mais empobrecidos, embora o gestor pudesse focar nesse segmento social suas prioridades.  

                                   Diadema e São Paulo são dois casos emblemáticos do hiato que se formariam entre os primeiros gestores e os militantes da legenda. Sem as responsabilidades públicas inerentes aos prefeitos, os militantes apostavam todas as fichas na defesa de “teses” revolucionárias, martirizando os primeiros prefeitos eleitos da legenda. Apenas para esclarecermos, Diadema é sempre apresentada como a primeira cidade administrada pelo PT. No entanto, em conversas com o editor do blog, quando ainda era do PT, Paulo Rubem reafirma que Santa Quitéria, no Ceará, foi, rigorosamente, a primeira cidade administrada pelo PT.  

                                    Depois de Nelson Pereira, que segundo dizem teria sido mais um caso de filiação à legenda depois de eleito, o PT no Estado não apresentaria um crescimento expressivo desde então, levando alguns integrantes da legenda, como Oscar Barreto, a tecer duras críticas aos dirigentes do partido, ou propriamente às tendências hegemônicas no controle da máquina partidária no Estado, como a CNB. Com base nessa autocrítica e numa tentativa de adequar-se às diretrizes nacionais, o PT deve lançar candidatos em algumas cidades estratégicas da região metropolitana e em cidades pólos das microrregiões do Estado. Sem lideranças consolidadas nessas cidades, o partido escalou um time de perfil mais urbano, embora alguns com ligeiras inserções em algumas dessas cidades. Pedro Eugênio, Fernando Ferro, Teresa Leitão, Sérgio Leite.

                                    No escopo da Frente Popular, há alguns acordos selados, prevendo redutos invioláveis entre os partidos que compõe a Frente, como Olinda, Caruaru, Cabo, Recife, Petrolina, Serra Talhada. A não observância a essas regras é o que está causando alguns estremecimentos na relação entre os partidos da Frente Popular. O governador Eduardo Campos está mantendo uma postura bastante equilibrada nesse processo, sempre procurando respeitar essas fronteiras. A dinâmica do processo político, no entanto, parece está escapando  ao seu controle, como em Olinda, Cabo, Petrolina e até mesmo o Recife, onde vislumbra-se a possibilidade de pulverização de candidaturas dentro e fora da base aliada.

                                   Embora o caso de Petrolina indique as fragilidades da Frente, fornecendo indícios claros sobre a antecipação do seu prazo de validade, muitas vezes externado pelo editor do blog, acreditamos que tudo possa ser resolvido com um bom churrasco de bode no Bodódromo, acompanhado de uma cervejinha gelada, tomando-se o cuidado para, depois de alguns goles, não beber no copo do vizinho para evitar a transmissão da H-pylori. O episódio, no entanto, é politicamente elucidativo sobre os próximos capítulos da Frente Popular.  


Nenhum comentário:

Postar um comentário