pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: A desproporcional - e talvez inadequada - reação do Governo do Estado às denúncias do cantor André Rio.
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domingo, 26 de junho de 2016

Editorial: A desproporcional - e talvez inadequada - reação do Governo do Estado às denúncias do cantor André Rio.



Cada dia fico mais convencido sobre a absoluta ausência de espírito público dos nossos gestores. Além do espírito público, possivelmente, também deve faltar outras coisas, até mesmo habilidade política, porque essas medidas de força apenas ampliam o desgaste desses gestores junto à opinião pública, quando o mais correto seria ouvir as denúncias, as queixas da população e corrigir possíveis falhas na gestão da máquina, caso isso seja verificado, cumprindo aqueles princípios fundamentais que regem o serviço público, inclusive o direito do cidadão em fiscalizá-lo.

Essas considerações vem a propósito da reação do Governo do Estado de Pernambuco ao vazamento de um áudio, supostamente atribuído ao cantor André Rio, que criculou pelas redes sociais, onde se escuta alguém denunciando um esquema de propina existente em órgãos públicos do Estado, como Fundarpe e Empetur, ligados às Secretarias de Cultura e a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer, onde os artistas seriam contingenciados a assinarem contratos já sabendo que 50% do valor ficaria nas mãos dos operadores do esquema. É isso ou não tem contrato.  

Surpreende, neste caso, a reação dura do Governo do Estado, informando que abrirá um processo contra o cantor, assim como o pedido de instauração de investigação policial no sentido de se obter mais informações sobre este tal áudio. Aliado a essas medidas,  estão sendo veiculado manifestos de artistas informando que os órgãos do Estado agem com absoluta lisura na condução desses contratos, como se estivéssemos diante de uma "Guerra Santa', com o claro propósito de desacreditar o artista que fez a denúncia. Um desses manifestos leva a assinatura do cantor Alceu Valença, que negou que endossasse o documento.  

Creio tratar-se de uma reação desproporcional - de certa forma até intimidatória - o que não nos surpreenderia, em razão de precedentes anteriores. Não é de hoje que denúncias dessa natureza circulam pela imprensa, pelas redes sociais, aqui e alhures, independentemente de colorações partidárias. Shows contratados e não realizados tornaram-se um dos mecanismos mais eficazes de desvios de recursos públicos. Shows superfaturados tornaram-se uma praga em todo o Brasil, daí se entender que as denúncias veiculadas nesse vídeo poderiam traduzir uma nebulosa e incômoda realidade, o que, mesmo procurando preservar-se, deveria levar o poder público não ficar na defensiva, mas adotar todas as medidas necessárias no sentido de esclarecer esses fatos e punir, com rigor, aí sim, os agentes públicos ou intermediários que, por acaso, estejam levando alguma vantagem nessas transações. 

Seria o caso de abrir a 'caixa preta" desses contratos, tornando-os mais transparentes para a população, quem sabe através de uma CPI na Assembleia Legislativa do Estado, onde o Deputado Estadual do PSOL, Edilson Silva, já teria pedido explicações ao Governo do Estado sobre o assunto. O áudio vazou sem a autorização do cantor, mas é pouco provável que ele esteja mentindo, posto que essas denúncias, somente aqui no Estado, em tempos passados, chegaram limite de afastar do seu cargo um Secretário de Estado. Esses nossos gestores parecem sofrer de pouca memória também. 

Se os atores políticos que exercem função pública, de fato, desejam equacionar o problema, talvez fosse o caso de convidar o cantor André Rio para longa conversa no Campo das Princesas, através de um convite, nunca através de uma "intimação", motivada por uma denúncia que apenas precisa ser apurada com o devido rigor. No dia seguinte, um pouco mais calmo, o cantor André Rio voltou a falar sobre o assunto e entrou em cena a figura dos "intermediários', o que poderia excluir, a princípio, o envolvimento de agentes públicos nessas transações irregulares.  

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