Dois grandes economistas que, nos governos de coalizão petista ocuparam cargos estratégicos no tocante à concepção e implementação de políticas redistributivas de renda, Márcio Pochmann e Marcelo Neri, já advertiam sobre a possibilidade de o país voltar a enfrentar um retrocesso no enfrentamento dos problemas de desigualdades de renda. Mesmo contando com fortes contingenciamentos, a presidente afastada Dilma Rousseff fazia o impossível para não comprometer os recursos dos programas sociais. O governo interino, no entanto, como já se previa, não teve o mesmo pudor em usar a tesoura. Uma verdade, no entanto, precisa ser dita, a economia já vinha muito mal das pernas no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, com altos índices de desemprego e déficit nas contas públicas.
Neste cenário, naturalmente, aquelas políticas que, nos governos de coalizão petista foram responsáveis por tirar milhões de brasileiros da extrema pobreza, certamente, ficariam comprometidas. Comprometidas, creio, ainda mais, se considerarmos as prioridades desse governo interino, até mesmo politicamente, posto que uma das razões que moveram as forças sociais e políticas que tinham como propósito afastar a presidente Dilma Rousseff do poder era exatamente suas preocupações com o andar de baixo da pirâmide social. Assim como também se sabe que, hoje, definitivamente, não era a corrupção o combustível que movia os golpistas.
O que se observa, no momento, é um verdadeiro desmonte dessas políticas, seja induzidas por nossas fragilidades econômicas, seja induzidas pela ausência de "vontade" politica do governo interino com esse problema, que nos acompanha durante séculos, desde nossa formação colonial escravocrata. De acordo com o professor Rodolfo Hoffman, da USP, em matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo, mesmo utilizando uma métrica que não é a mais adequada - a mais adequada seria a do IBGE, que só sai em setembro - já é possível concluir que, a escalada do desemprego vem acelerando a desigualdade de distribuição de renda. A metodologia utilizada pelo pesquisador da USP, para medir essa desigualdade, é orientada pela relação entre "ocupados e "desocupados". Desde o início do mandato da presidente Dilma Rousseff até hoje, ocorreu um aumento de desempregados da ordem de 3%. Pulou de 7,9% para 10,9%.
O Brasil ainda figura entre os países mais desiguais do mundo. Na minha época de graduação, era comum a nossa "concorrência" com os países mais miseráveis do continente africano. Quem não se lembra disso? Tivemos alguns problemas nos governos da coalizão petista, mas um dos grandes legados que ficarão para a sua história foram exatamente as políticas redistributivas de renda, responsáveis por tirar milhões de brasileiros da extrema pobreza. Organismos internacionais idôneos e isentos chegaram a reconhecer esse mérito. Conforme discutimos num dos nossos últimos editoriais, além da questão humanitária, em longo prazo, se mantidas, essas políticas redistributivas de renda e de democratização ao acesso ao ensino superior, no final, daria uma grande contribuição à consolidação de nossa democracia.
Há muita controvérsias entre os estudiosos sobre essa relação entre economia e democracia. Para alguns autores, o desenvolvimento econômico - naturalmente que aliado a outros fatores - é um dos determinantes na construção e consolidação dos regimes democráticos. Outros autores, no entanto, minimizam essa importância. Países ricos, possuidores de grandes reservas de recursos naturais, por exemplo, não caminharam, necessariamente, para a democracia. Muito ao contrário. Sobre os padrões de educação de um país e as possibilidades de construção de regimes democráticos, por sua vez, há uma unanimidade entre eles.
P.S.: do Realpolitik. Não sei se vocês repararam mas, no dia de hoje, os principais jornais da Rede Globo parecem ter dado uma trégua aos problemas de corrupção no governo interino do senhor Michel Temer. Até uma matéria sobre os problemas de erosão na barreira de Cabo Branco, em João Pessoa, entrou na pauta em horário nobre, numa típica manobra conhecida como enchimento de linguiça. A foto acima é da Ilha de Deus, uma localidade aqui do bairro da Imbiribeira, no Recife. O rebento que, por aqui, aos 05 anos, não sabe nadar, pescar e se virar com o cotidiano das condições precárias de vida, não sobrevive. Ouvi isso de um líder comunitário, numa palestra na Fundação Joaquim Nabuco.
Há muita controvérsias entre os estudiosos sobre essa relação entre economia e democracia. Para alguns autores, o desenvolvimento econômico - naturalmente que aliado a outros fatores - é um dos determinantes na construção e consolidação dos regimes democráticos. Outros autores, no entanto, minimizam essa importância. Países ricos, possuidores de grandes reservas de recursos naturais, por exemplo, não caminharam, necessariamente, para a democracia. Muito ao contrário. Sobre os padrões de educação de um país e as possibilidades de construção de regimes democráticos, por sua vez, há uma unanimidade entre eles.
P.S.: do Realpolitik. Não sei se vocês repararam mas, no dia de hoje, os principais jornais da Rede Globo parecem ter dado uma trégua aos problemas de corrupção no governo interino do senhor Michel Temer. Até uma matéria sobre os problemas de erosão na barreira de Cabo Branco, em João Pessoa, entrou na pauta em horário nobre, numa típica manobra conhecida como enchimento de linguiça. A foto acima é da Ilha de Deus, uma localidade aqui do bairro da Imbiribeira, no Recife. O rebento que, por aqui, aos 05 anos, não sabe nadar, pescar e se virar com o cotidiano das condições precárias de vida, não sobrevive. Ouvi isso de um líder comunitário, numa palestra na Fundação Joaquim Nabuco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário