Amanheci o dia de hoje lembrando de uma crônica do saudoso Rubem Braga, intitulada "Um pé de milho", onde ele informava que o fato mais importante daquela semana teria sido um pé de milho que havia nascido no seu quintal. Nem mesmo a notícia da possibilidade da chegada do homem à lua superaria, em importância, a presença daquele pé de milho, que o transformava num lavrador: Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilho. Confesso que fiquei em dúvida sobre o que destacar para esta crônica política de um domingo. A calorosa recepção da presença da presidente Dilma Rousseff aqui no Recife, com direito aos poemas de Carlos Drummond de Andrade? Ou desmoronamento do edifício conspirador, com pouco mais de um mês, golpeado por sucessivas denúncias de corrupção envolvendo seus operadores?
Como publicamos aqui um esperançoso artigo do professor Michel Zaidan sobre a presença de Dilma Rousseff no Recife, em particular na UFPE, optamos por tratar desse segundo tema. O jornalista Luis Nassif, em artigo reproduzido aqui no blog, observa que a mídia fez o possível para guindar o senhor Michel Temer à condição de um estadista. Um homem elegante e até "bonito", de acordo com o insuspeito jornalista Ricardo Noblat. Começamos a desconfiar que as coisas não iam muito bem entre o governo interino e setores da mídia, depois da série de reportagens do Jornal Folha de São Paulo, com destaque para o teor das delações premiadíssimas do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, envolvendo o núcleo duro do poder, inclusive o próprio Temer, que, segundo ele, teria recebido ,irregularmente, um milhão e meio para a campanha de Gabriel Chalita, nas eleições municipais paulistas de 2012. Mas aí o Nogueira nos alertou que poderia se tratar, apenas, de um reposicionamento mercadológico do jornal dos Frias. Sua experiência no campo jornalístico, aliado aos movimentos confusos daquele órgão de imprensa, nos convenceram.
Michel Temer esperneou, mas sabe que não há como contestar o senhor Sérgio Machado. Tanto ele como o senador Aécio Neves(PSDB) tentaram desqualificá-lo, mas ficaram apenas nas bravatas que nem eles mesmo acreditam. Volto a afirmar que "no meio da putaria" - perdão pelo termo leitores - O Sérgio Machado fez tudo direitinho. Dizem que o oligarca Sarney teria sido grampeado por ele no leito de um hospital, onde se submetia a tratamento, numa visita de "solidariedade". Sérgio dispõe de áudios comprometedores com o presidente interino, imaginem, gravados na Base da Força Aérea, em Brasília. Com um homem deste, não há como ficar jogando para plateia aqueles adjetivos conhecidos: denúncias irresponsáveis, caluniosas, criminosas. Com Sérgio Machado isso não vai funcionar.
Nesta semana, dois outros órgãos de imprensa muito identificados com o apoio aos usurpadores, Veja e O Globo, trouxeram matérias contra integrantes do governo interino, o que nos levam a conceber alguma outra possibilidade - para muito além de um simples "reposicionamento" de mercado. A revista, inclusive, tornou-se uma espécie de leitura semanal obrigatória dos "coxinhas". Creio até que ela já teria encontrado esse reposicionamento mercadológico, a julgar por sua circulação em tradicionais redutos "coxinhas" aqui do Recife. A revista capricha na tinta e trata o caso de corrupção envolvendo o ministro do governo interino, Eliseu Padilha, como uma corrupção de "quadrilha". O Globo, por sua vez, investe contra a denúncia de uma suposta propina recebida pelo Ministro da Educação, Mendonça Filho, ainda no bojo da delação premiada do senhor Sérgio Machado, envolvendo a quantia de cem mil reais.
A grande questão que se coloca agora para o público é sobre quem será o próximo ministro a cair desse governo interino: Eliseu Padilha ou Mendonça Filho? Estamos diante de um Big Brother macabro, como disse antes, porque está em jogo o interesse público, assim como os alicerces já frágeis de nossa experiência democrática. Pouco mais de um mês e o governo interino já perdeu as condições de continuar governando. Vejam em que enrascada nos meteram, nessa aventura insensata, inconsequente, que mergulhou o país num impasse institucional de consequências imprevisíveis, apenas para atender os interesses imediatos da "banca", de uma elite insensível e de uma classe média preconceituosa.
A charge que ilustra este editorial é do músico e chargista Renato Aroeira.
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