Naquele rumoroso escândalo de corrupção que culminou com o afastamento do presidente Fernando Collor de Mello da presidência da República, através de um processo de impeachment - este com fundamentação jurídica -, foi assassinado, juntamente com a namorada, em sua casa na praia de Guaxuma, no litoral alagoano, o senhor Paulo César Farias, o PC Farias, num caso típico dos melhores romances policiais. Bastou a notícia de sua morte ser confirmada e o aparelho de Estado, através de seus agentes, anunciou imediatamente que a sua morte teria sido provocada por sua namorada, Suzana Marcolino, que o teria matado e, logo depois, cometido suicídio.
Para que essa versão fosse confirmada, convidaram o legista Badan Palhares, à época, aquele ator com o maior "capital simbólico" naquele campo específico, uma autoridade respeitada mundialmente, com livros publicados, professor de uma grande universidade, com convites para dar palestras em todo o mundo. Convidado àquele Estado, Badan foi tratado como uma estrela, com direito a passeios de lanchas pelo litoral, hospedagem nos melhores hotéis, saboreando, certamente, petiscos marinhos acompanhados de um bom whisky. Defendeu essa tese até às últimas consequências, embora tenha sido contestado por dois outros peritos, Ricardo Molina e George Sanguinetti, este último do próprio Estado, que passou a desconfiar desta tese pela pressa do aparelho de Estado em apresentá-la como conclusiva.
Por remar contra a maré, Sanguinetti enfrentou muitas dificuldades em se contrapor a esta versão oficial, inclusive no que concerne à faculdade de acesso às provas do crime. Seus elementos periciais, no início, se limitavam, praticamente, a algumas fotos da cena da crime. Mesmo assim, seus argumentos foram ganhando força junto à opinião pública, que passou a ouvi-lo, convidá-lo para debates. Nesses debates, ele sempre se saía muito bem, contestando as teses levantadas pelo senhor Badan Palhares, de forma cabal, apontando os erros técnicos de suas conclusões. No final, poderíamos afirmar que a versão oficial do caso ficou totalmente desmoralizada, mesmo que, a princípio, contestada por uma figura apresentada à época como "folclórica".
No curso da Operação Turbulência, por uma dessas ironias do destino, Pernambuco passou a ter também o seu "PC", o empresário Paulo César Barros Morato, um dos principais envolvidos nas investigações da Polícia Federal, no âmbito da Operação Turbulência, que foi encontrado morto aqui num motel da cidade de Olinda. Na Terça-Feira, quando foi desencadeada a operação, a capital e a região metropolitana do Recife foi palco de uma megaoperação da PF, envolvendo 200 policiais, com dezenas de mandados de busca e condução coercitiva, além de 05 mandatos de prisão preventiva, dos quais 04 deles foram cumpridos, restando um, exatamente o de Paulo César Barros Morato, desde então, dado como foragido pela Polícia Federal. Era o quinto elemento, um ator dos mais relevantes no contexto da engrenagem de operações da quadrilha, com um vasto conhecimento sobre seus métodos.
Pelos cálculos da PF, as irregularidades cometidas por essa quadrilha teriam movimentado a fabulosa quantia de 600 milhões de reais, entre ilícitos como lavagem de dinheiro, desvios de recursos públicos, pagamento de propina e caixa dois de campanha, onde suspeita-se que, possivelmente, teria sido beneficiado o ex-governador Eduardo Campos, na campanha que o conduziu ao Palácio do Campo das Princesas, nas eleições de 2010. O esquema era muito bem azeitado, de onde se pode concluir que continuariam agindo, favorecendo o então candidato presidencial, morto numa aeronave que pertenceria a um desses empresários envolvidos. Antes de mais nada gostaríamos de informar que quem chegou a essas conclusões foi a Polícia Federal.
Por enquanto, a morte do empresário está envolta num grande mistério. De acordo com os funcionários, no momento em que a operação se desenrolava, na manhã da Terça-Feira, por volta das 11:30 horas, Paulo César Barros Morato se trancou no hotel, começando a levantar suspeita pelo tempo de permanência, assim como pelo mau cheiro que começou a exalar do quarto onde ele estava hospedado. A Polícia Civil do Estado esteve no local, realizou os procedimentos de praxe e manteve o silêncio sobre o caso.
Mas, começaram a surgir alguns elementos intrincados nesse caso, como se não bastassem o enredo em que ele já está envolvido. Circulou a versão de que a Polícia Técnica do Estado teria sido recomendada a interromper o trabalho que realizava no local, sem uma justificativa aparentemente aceitável. Até o momento, a linha de investigação remete sempre à possibilidade de uma morte natural, talvez causada por algum problema cardíaco. Um médico legista teria descartada essa hipótese. Hoje, dia 24, um jornal local especula, com base na ouvida de um legista do IML, sobre a possibilidade de envenenamento. Vários pen drives e celulares foram apreendidos no quarto do hotel e encaminhados para a Polícia Federal. Sugere-se que ele estava fugindo com provas importantes, se é que essas informações ainda estejam nesses pen drives e celulares. Vamos torcer que eles ainda contenham algumas informações que possam ajudar nas investigações, mas creio que já está na hora de convidarmos o Sanguinetti.
Não deixe de ler também:
Turbulência no mundo político pernambucano. Um acidente de 600 milhões de reais.
P.S.: do Realpolitik: Algum tempo depois, comprovada a inconsistência do laudo técnico apresentado pelo médico legista Badan Palhares, a justiça de Alagoas reabriu o caso PC Farias, levando a julgamento os quatro policiais militares que faziam sua segurança, sob a suspeita de terem participado do duplo homicídio. No final do julgamento, os acusados foram inocentados por "clemência". O laudo técnico emitido pelo médico legista da Unicamp, quando confrontado com os argumentos do também médico legista George Sanguinetti, foi vergonhosamente refutado. Naquele caso específico, hoje parece não haver mais nenhuma dúvida de se tratou de um duplo homicídio. Peritos e médicos legistas de todo o país, no final, acabaram convencidos pelos argumentos de George Sanguinetti: As cenas do crime foram completamente alteradas no sentido de sugerir um crime passional; não se cometem crimes passionais com com apenas dois disparos letais. Nesses crimes, imbuído do ódio, o matador costuma dar vários disparos; a trajetória da bala que matou PC Fárias não condizia com a estatura física (altura) de Suzana Marcolino. Neste caso, até o Badan Palhares admitiu que os seus argumentos iam por terra caso não fosse correta as medidas que ele possuía sobre a verdadeira altura de Suzana. O problema é que ninguém mais encontrou qualquer registro sobre a verdadeira altura de Suzana. Nem no IML, tampouco numa academia que ela frequentava. Essas informações sumiram; Sanguinetti teria encontrado indícios do homicídio de Suzana, mas, justamente essas evidências - um ossinho que fica abaixo do ouvido - foi levado pelo legista paulista, possivelmente como "lembrança" do caso.
O caso do Paulo César Morato, o PC Pernambucano, também não deixa de ser emblemático. Reportagem do jornal Folha de Pernambuco, de hoje, dia 25, informava que tudo conduz para a comprovação de que ele, de fato, era apenas um "laranja" a serviço dos megas operadores do esquema. Morava de aluguel, em Tamandaré, onde possuía uma loja de conserto de celulares. Seria um disfarce? Quanto à sua morte, ainda nada conclusivo. O familiares ainda não compareceram para reconhecer o corpo.
Não deixe de ler também:
Turbulência no mundo político pernambucano. Um acidente de 600 milhões de reais.
P.S.: do Realpolitik: Algum tempo depois, comprovada a inconsistência do laudo técnico apresentado pelo médico legista Badan Palhares, a justiça de Alagoas reabriu o caso PC Farias, levando a julgamento os quatro policiais militares que faziam sua segurança, sob a suspeita de terem participado do duplo homicídio. No final do julgamento, os acusados foram inocentados por "clemência". O laudo técnico emitido pelo médico legista da Unicamp, quando confrontado com os argumentos do também médico legista George Sanguinetti, foi vergonhosamente refutado. Naquele caso específico, hoje parece não haver mais nenhuma dúvida de se tratou de um duplo homicídio. Peritos e médicos legistas de todo o país, no final, acabaram convencidos pelos argumentos de George Sanguinetti: As cenas do crime foram completamente alteradas no sentido de sugerir um crime passional; não se cometem crimes passionais com com apenas dois disparos letais. Nesses crimes, imbuído do ódio, o matador costuma dar vários disparos; a trajetória da bala que matou PC Fárias não condizia com a estatura física (altura) de Suzana Marcolino. Neste caso, até o Badan Palhares admitiu que os seus argumentos iam por terra caso não fosse correta as medidas que ele possuía sobre a verdadeira altura de Suzana. O problema é que ninguém mais encontrou qualquer registro sobre a verdadeira altura de Suzana. Nem no IML, tampouco numa academia que ela frequentava. Essas informações sumiram; Sanguinetti teria encontrado indícios do homicídio de Suzana, mas, justamente essas evidências - um ossinho que fica abaixo do ouvido - foi levado pelo legista paulista, possivelmente como "lembrança" do caso.
O caso do Paulo César Morato, o PC Pernambucano, também não deixa de ser emblemático. Reportagem do jornal Folha de Pernambuco, de hoje, dia 25, informava que tudo conduz para a comprovação de que ele, de fato, era apenas um "laranja" a serviço dos megas operadores do esquema. Morava de aluguel, em Tamandaré, onde possuía uma loja de conserto de celulares. Seria um disfarce? Quanto à sua morte, ainda nada conclusivo. O familiares ainda não compareceram para reconhecer o corpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário