Ontem o país foi sacudido pelo impacto da notícia de um pedido de prisão inusitado, envolvendo altas autoridades da
república. Um senador, um ex-presidente e o atual presidente do Senado Federal.
Não são todos os dias que essas noticias vem a público e, portanto, algumas
reações são naturais, levando-nos a desenvolver algumas reflexões mais acuradas sobre o
fato apenas depois de a poeira baixar. A primeira inflexão diz respeito ao “vazamento”
dessas informações, segundo dizem, há muito tempo guardadas na gaveta do
Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, com cópia entregue ao ministro do
Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, que, no órgão, está à frente dos
inquéritos da Operação Lava Jato.
Quem levantou essa polêmica foi uma das
pessoas menos indicadas, o ministro Gilmar Mendes – que costuma pronunciar-se
sobre os autos antes de julgá-los – mas faz sentido tal preocupação. Outra
observação, esta elencada pelo jornalista Luis Nassif, é a de que deve haver
muito mais informações comprometedoras nos áudios gravados pelo ex-presidente
da Transpetro, Sérgio Machado, entregues no acordo de delação premiada. As
alegações de Rodrigo Janot para o pedido de prisão, aparentemente, apenas pelo
que teria sido divulgado até o momento, não seriam suficientes. Uma das
hipóteses é que, se ele pediu a prisão desses atores políticos, ele sabia o que estava fazendo. Haveria
elementos para isso, inclusive de conhecimento do STF.
Outra hipótese, esta
dentro das conspirações golpistas, seria a de um “blefe”, uma forma de pressionar o
Senado Federal no que concerne ao julgamento da presidente Dilma Rousseff. Essa
estratégia passa a ganhar corpo quando se sebe, hoje, que a PRG é um dos órgãos
comprometidos com a engrenagem. Conforme já previsto aqui, o ministro Ricardo
Lewandowisk negou a anexação dos áudios entre Romero Jucá e Sérgio Machado, no contexto da Operação Lava Jato, onde praticamente fica materializada a manobra conspiratória no sentido de estancá-la, para usarmos uma expressão do próprio Jucá. A sorte da presidente Dilma Rousseff parece estar selada naquela
Casa, a julgar pelas manobras dos conspiradores.
Uma outra possibilidade, muito
discutida no dia de ontem, pela redes sociais e pela blogosfera, principalmente entre os blogs "sujos", dizia respeito à preparação do terreno para a
decretação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma eventual
prisão de Lula teria um “custo” e este custo estaria sendo muito bem calculado
pelos operadores da Casa Grande, como alertou o cientista político Roberto
Numeriano em artigo. Como afirmou o também cientista político Wanderley Guilherme
dos Santos, outro dia, Lula é o maior capital político dos lascados deste país.
A prioridade dos golpistas é destruir Lula enquanto figura pública. Eles atiram
em Dilma, mas o alvo, na realidade, é o Lula. Mesmo depois de todo esse
rebuliço envolvendo o PT, ele ainda aparece como imbatível num pleito
presidencial. Lidera as pesquisas da CNT para as próximas eleições
presidenciais de 2018. O Datafolha continua explicando seus “motivos” para não
realizar pesquisas de intenção de voto.
Creio que, em função da idade, a
prisão do ex-presidente Sarney seria mais “simbólica”. Em relação a Sarney, um dia os
historiadores poderão dizer que, no caso do oligarca, "o crime compensa”. Deverá encerrar sua
passagem aqui pela terra, sentado numa cadeira de balanço, lendo, tomando um
bom whisky, ouvindo o barulho do mar, em sua mansão da ilha de Curupu, no Maranhão.
De acordo com Sérgio Machado, somente entre ele e Renan, a cifra das
falcatruas repassadas da Petrobras atingem o estrondoso número de 70 milhões. Existem
alguns filigranas legais envolvendo este pedido de prisão. Um senador da
república só poderia ser preso em flagrante delito ou com a autorização dos
seus pares na Câmara Alta.
Na condição de presidente atual daquela Casa, Renan
Calheiros já tratou de fechar os acordos. A Justiça não terá autorização para
por as mãos neles. Ele e o amigo Romero Jucá. Não naquilo que depender do
Senado Federal. A exceção, portanto, foi o senador Delcídio do Amaral, que também
não se enquadrava nessas possibilidades citadas, mas foi entregue de bandeja até mesmo
pelos seus antigos companheiros senadores do PT. Aliás, convém frisar que o
ordenamento jurídico e constitucional tornou-se “relativo” atendendo às
exigências das forças que engendram esse golpe institucional. Eles devem
promover um estrago sem precedentes naquilo que se convencionou chamar de
direitos de cidadania.
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