pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: A espertise brasileira em vacinação em massa vai fazer a diferença.
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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Editorial: A espertise brasileira em vacinação em massa vai fazer a diferença.



Estamos iniciando a campanha de vacinação em massa da nossa população, depois de idas e vindas, incertezas e muitos desencontros entre o Governo Federal e os Estados da Federação. O andar da carruagem política atrapalhou, em muito, o andar da carruagem científica. Aliás, continua atrapalhando, pois tal campanha de vacinação, infelizmente, antecipou o start das eleições presidenciais de 2022. Não apenas a campanha de vacinação em si, mas pode-se afirmar isso em relação a todo o imbróglio provocado pela pandemia do coronavírus. Não tenho a menor dúvida de que todos esses fatos estarão presentes na disputa pelo Palácio do Planalto nas eleições presidenciais de 2022. A iniciativa do governador do Estado de São Paulo, João Dória Junior(PSDB-SP), de iniciar a vacinação da população ainda no domingo - antecipando-se às previsões do Ministério da Saúde - além do mal-estar, dividiu governadores, de matizes políticas distintas, independentmente de afinidades ou não com o Governo Federal. É bom os brasileiros e brasileiras irem se acostumando com os fatos, pois as trocas de farpas devem continuar daqui para frente. Depois das vacinas prontas, encaminhadas para a população, agora o embate se dá em torno sobre quem, de fato, financiou a sua produção, colocando o ministro Eduardo Pazuello e o governador João Dória num novo embate. Preocupa bastante essa birra, quando, por exemplo, todos deveriam, na realidade, é estar empenhados em providenciar os ingredientes farmacêuticos ativos, fundamental para a produção de novas vacinas, sobretudo em se tratando de uma vacina que exige uma segunda dose de imunização e sua produção não pode ser interrompida por falta de algum insumo.   

Mesmo começando com um relativo atraso em relação a outros países, a tendência é que possamos assumir a dianteira dessa corrida, em razão da nossa espertise no assunto, graças ao nosso Sistema Unificado de Saúde. Mais uma razão para empreendermos todos os nossos esforços no sentido de preservar este sistema de saúde, um dos melhores do mundo. É numa situação crítica como esta que dimensionamos a sua real importância para a saúde pública no país. Vacinação em massa da população é coisa do nosso tão maltratado SUS, um grande patrimônio nacional. Aproveito o ensejo para fazer nossa mea-culpa em relação ao pessimismo quanto à logística de distribuição das vacinas pelo país. Ocorreram alguns problemas, é fato, como a ausência de uma sincronia com os horários dos voos, mas nada que comprometesse o objetivo final, o de fazer as vacinas chegarem aos Estados para serem distribuição às cidades. Há vários pleitos dos prefeitos encaminhados ao Instituto Butantan, por iniciativa prórpia, mas o ideal talvez seja mesmo o de centralizar essa distribuição através do Ministério da Saúde. Se o Instituto Butantan assumisse essas demandas talvez não desse conta do recado, além de criar um sistema perverso de privilégio nessa distribuição. E os rincões, sem recursos, quando receberiam suas vacinas se elas não fossem distribuídas de forma equitativas? Seria mais um caso de uso político de um problema de saúde pública. 

Aqui pela província pernambucana, finalmente, parece que a população resolveu acatar as determinações do Governo do Estado no sentido de evitar as aglomerações e o uso de som nas praias  neste último final de semana, o que se constitui numa boa notícia, pois o contrário seria o mais prevísivel, a julgar pelo comportamento da população nesses casos, salvo raras e honrosas exceções. Convém salientar que, mesmo com a vacinação em massa em curso, os cuidados recomendados desde o início da pandemia precisam ser mantidos. Nas edições aqui do blog, trazemos sempre os conselhos e as avalições do quadro de saúde pública do país, produzidas por cientistas como Miguel Nicolelis, que assessora o Consórcio Nordeste. Para o cientista, nunca houve momento de relaxar os cuidados, tampouco as medidas restritivas de contato social. Muito ao contrário, o lockdown deveria ter sido mantido ou retomado em regiões, como o grande Recife, por exemplo. Agora é torcer que, com a varíavel do início da vacinação em massa, situações como aquela que ocorre em Manaus possam ser evitadas, uma vez que segmentos da população e os governantes passaram a abominar essa palavar lockdown. Ainda a pouco, li uma matéria onde o Ministro do Turismo afirma que o setor não resistiria a um novo lockdown. 

Essa espertise de 50 anos de experiência do SUS em vacinação em massa irá ajudar bastante o país, neste momento delicado. Andou circulando pelas redes sociais um joguinho, onde, a partir de alguns dados do indivíduo, haveria uma previsão sobre quando ele possivelmente poderia ser vacinado. Repito aqui as palavras do Dr. Dráuzio Varela, em artigo publicado na edição dominical do jornal Folha de São Paulo: "Não vejo a hora de ser vacinado." Os prejuízos pessoais provocados por esta pandemia são incalculáveis, fatura que deve ser apresentada sabe-se lá quando, assim que tivermos condições seguras de voltarmor à "normalidade" que não mais será como antes. A pandemia impôs à sociedade profundas reflexões sobre valores, inclusive, sobre aquilo que realmente importa: Que saudade de se reunir com os amigos no sítio, tomar aquelas cervejinhas geladas - sem o uso de máscaras - num churrasquinho de final-de-semana, possivelmente com uma fraldinha ou asinhas de galinha, já que a picanha sumiu do cardápio dos pobres: R$ 90 o quilo. Fomos longe para descobrir que, de fato, isso é o que realmente importa, como disse o sociólogo espanhol Manuel Castells. 

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