Há alguns anos atrás, ainda muito movido pelo idealismo, criamos um grupo no Facebook para debater a cidade de Paulista, localizada aqui na região metropolitana norte do Recife. Rebento de Vila Operária, passei os melhores momentos de minha vida naquela cidade. Banhos de açude; de bica nos dias chuvosos; pescarias de traíras e Maria Doce; peladas nos campos de várzea, com a galera do saudoso Monte Castelo Futebol Clube; corridas de patinetes; pau-de-sebo nos festejos de São João; pipas sem cerol; torradas com castanhas de caju; carne de charque ou Jia Pimenta no braseiro à lenha; dias de feira-livre, onde era possível assistir às performances de Mestiça. As dificuldades existiam, mas asseguro que foram os melhores dias da vida desse editor. Quando voltava àquela cidade - sempre encontrava um argumento para voltar, seja para discutir uma de nossas crônicas com os alunos locais, seja no período das eleições - ficava a relembrar daqueles verdes anos, debaixo das paineiras, felizmente, ainda preservadas. Dunda, o melhor amigo das travessuras de infância, a inesquecível professora primária, Dona Maria José Tavares de Lima, aquela que nos proporcionou o encantamento de decifrar as primeiras letras.
Era muito triste para mim acompanhar aquele abandono da cidade, seja no tocante aos problemas com a administração pública, seja o completo descaso com o meio-ambiente, com o patrimônio histórico da cidade. Friso aqui que não faço referência à memória do drama produzido pela oligarquia industrial no município, marcado por grandes sofrimentos infringidos à classe operária. Como observa o professor Durval Muniz, essa é uma memória para ser esquecida mesmo. Muito triste ver o sangradouro da levada vazio, o rio Paratibe agonizando, a mata do frio sendo dizimada pela especulação imobiliária. Sempre que me dirigia ao centro, saindo ali da Torres Galvão, fazia aquele percurso por dentro da mata, para sentir sua temperatura amena, proporcionada pela cobertura vegetal, assim como recolher os frutos abundantes de suas árvores: cajus, inclusive os amarelos, aracás, macaíbas, manga espada - as preferidas - ingás, cajás, coquinhos.
Durante algum tempo, mantive o grupo ativo, provocando sempre discussões importantes, de interesse da cidade. Mas, os tempos mudaram muito. Se, naquele momento, ainda era possível um debate civilizado de idéias, hoje isso não é mais possível. Houve um retrocesso em termos de civilidade. Assim, acabei por abdicar da condição de administrador daquele grupo, em razão das agressões e baixarias que se tornaram recorrentes. Nos últimos anos, o ambiente político interditou o debate, abrindo espaço para as fake news, as campanhas difamatórias, urdidas com interesses abjetos. Dessas discussões, noutros tempos, poderiam surgir subsídios importantes para auxiliar os gestores públicos daquela cidade. Essas observações vem a propósito da troca de farpas entre o prefeito que se elegeu e o que acaba de deixar o cargo, o que o leitor deve estar acompanhando pelas redes sociais e pela imprensa. Não entro nem no mérito da discussão sobre quem, de fato, tem razão por entender que isso pouco importa. Há no município um quadro político caótico, de décadas de gestão temerária dos negócios públicos, sem solução aparente. Infelizmente.
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