pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Não verás país nenhum ou o "dedo" do senador.
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Editorial: Não verás país nenhum ou o "dedo" do senador.


Algumas coisas simplesmente não dão certo ou não se resolvem no Brasil. A democracia não dá certo no país; as profundas desigualdades jamais serão superadas; uma reforma política substantiva constitui-se numa grande utopia; continuaremos com milhões de analfabetos; as terras concentradas em grandes latifúndios; as instituições continuarão refletindo os maus costumes trazidos de casa; as ameaças de golpe serão uma constante, mesmo nos poucos interregnos de respeito às regras do jogo, sob um ambiente político supostamente democrático.  Fizemos uma transição capenga para a democracia em 1988, mantendo entulhos autoritários na Carta Constitucional, assim como não conseguimos punir contumazes violadores dos direitos humanos. Confirma-se, neste caso, a tese do historiador Sérgio Buarque de Holanda, ao afirmar que a democracia sempre foi um grande mal-entendido entre nós, raciocínio estabelecido a partir dos vícios herdados pelo processo de colonização imposto ao país pelos portugueses.  

O sociólogo Gilberto Freyre levanta outras possibilidades para explicar tal inviabilidade, mas, a rigor, pelo menos neste aspecto, também concordaria com o desafeto paulista, que não resistiu ao seu licor de pitangas, oferecido no Solar de Apipucos, quando de uma visita ao Recife, corroborando com a assertiva de outro ilustre intérprete do Brasil, que afirmava que, aqui, tudo se resolve com um tapinha nas costas. Ou seja, rigorosamente, nunca se resolve. Empurra-se com a barriga. Numa "década" - como diria aquele jornal paulista, que não gostaria de dar os créditos aos governos da Coalizão Petista - tiramos 35 milhões de brasilerios da extrema pobreza. Num país minimamente sério, esses brasileiros jamais deveriam voltar a essa condição. Eles não só voltaram, mas as estatísticas de miseráveis estão se espandindo, elevando os números acima. 

Aquele "dedão' do senador, exibido para todo o país, durante a transmissão de uma entrevista ao vivo, em que o repórter havia perguntado sobre um colega internado em Sâo Paulo, com Covid-19, é uma síntese do comportamento de nossa classe política, com honrosas exceções. Aquele dedo diz muito mais do que uma eventual indisposição do senador com o colega internado. É mais ou menos assim que eles se comportam depois de eleitos, maximizando seus interesses pessoais e pouco se lixando para as demandas dos seus eleitores. Agora, por ocasião da campanha de vacinação em massa, tivemos uma nova versão da Lei de Gerson ou da velha carteirada: "Você sabe com quem está falando?" A casta de privilegiados querem furar a fila da vacinação, que, neste primeiro momento, está sendo facultada apenas aos  profissionais da área de saúde que trabalham na linha de frente de combate a pandemia do coronavírus. 

Centenas de fura-filas já foram denunciados por todo o país, alguns exagerando no uso do expediente do jeitinho brasileiro, destravando a burocracia com nomeações macabriadas, feita às pressas, apenas para assegurar seus privilégios de classe. Outro dia comentei por aqui que esta pandemia constituiu-se numa excelente oportunidade para políticos  e agentes públicos inescrupulosos aproveitarem o momento para desviarem recursos  destinados ao combate do vírus. Pessoas sem espírito público e desprovidas de qualquer sentimento humanitário. Nunca li nenhuma estimativa sobre o montante de recursos desviados, mas a soma deve ser absurdamente alta. Apenas um governador de Estado encontra-se afastado do cargo e com seus direitos políticos ameaçados em razão de ter participado dessas maracutais macabras, mancumunados com agentes privados, superfaturando insumos destinados ao tratamento dos doentes do coronavírus.  


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