Quando, em 1964, depois do golpe civil-militar, o
governador Miguel Arraes foi deposto, seu vice, Paulo Guerra, foi empossado
pelos militares. Paulo Guerra era da chamada cota das oligarquias familiares de
Pernambuco e, portanto, confiável aos olhos dos militares. Pelo menos nos
pleitos majoritários que disputou, Dr. Miguel Arraes sempre adotava a estratégia de cindir
os redutos conservadores do Estado, vencendo as eleições ao aglutinar o apoio dos
setores progressistas da política pernambucana. Chegou a ser bastante criticado
pelo uso de tal estratégia, mas nos parece que não havia outra alternativa, numa avaliação a partir das correlações de força em jogo. Jarbas Vasconcelos, um ferrenho adversário político de Arraes, apenas conseguiu chegar ao Governo do Estado usando este mesmo expediente.
Por outro lado, Dr. Miguel Arraes nunca abandonou os “comunistas” - depois que vulgarizaram tanto o termo, é aconselhado usar as aspas - como nos confidenciou, numa entrevista, Luciano Siqueira. Alguns anos depois, o próprio neto de Arraes, o ex-governador Eduardo Campos, já falecido, prestou uma homenagem a Paulo Guerra, colocando seu nome no Hospital da Restauração. Coisas da política. E, por falar em coisas da política, Paulo Guerra deixou para o folclore político pernambucano - mas que também vale para o Brasil - uma reflexão emblemática: Em política não existem as palavras “nunca” nem “jamais”.
Isso vem a propósito de uma notícia dando conta de uma possível reaproximação entre ACM Neto e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, um notório desafeto do presidente Jair Bolsonaro(PL). O DEM fechou uma fusão com o PSL, formando o “União Brasil”, mas, a rigor,ainda não tomou partido por algum concorrente presidencial. Especulou-se, com o aval de Luciano Bivar, que o próprio ACM Neto poderia entrar nessa jogada. Meros confetes, pois o quadro político já anda bastante congestionado pelas chamadas opções da terceira via. Manter o seu reduto político baiano, neste momento, talvez seja o mais sensato e é com este raciocínio que se enquadra reaproximação de ACM Neto com o ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Agora com a filiação de Jair Bolsonaro ao PL, há uma possibilidade concreta de que o partido apóie o nome do pernambucano João Roma, Ministro da Cidadania, ao Governo da Bahia. A eventual retirada do apoio do partido ao nome de ACM Neto foi a gota d'áqua. O Neto de ACM prometeu revide e ele começa com a costura de um possível nome para concorrer ao Governo do Rio de Janeiro, em 2022 - desfazendo o apoio já firmado ao nome de Cláudio Castro(PL-RJ) - entregando o diretório da legenda a Rodrigo Maia. São as voltas que a política dá. Ao perder a eleição para a Câmara dos Deputados, onde apoiava o nome de Baleia Rossi, do MDB, Rodrigo Maia culpou diretamente ACM pelo desfecho. As possibilidade de uma reconciliação, em princípio, seriam remotas, mas, como observou Paulo Guerra lá atrás, em política não existem as palavras “Nunca” nem “Jamais”.
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