pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Publisher: The unstable victory of the left in the Chilean elections



Some analysts note that neoliberal policies entered Latin America from Chile, in 1973, with the coup d'état that overthrew the Salvador Allende government, with a socialist orientation. Correct assessment or not, the concrete fact is that, from then on, authoritarianism and neoliberalism began to establish a siamesa relationship in that country, where even water resources were privatized. This combination - which certainly would not surprise the French philosopher Michel Foucault - brought tragic consequences for the population, which soured one of the bloodiest dictatorships on the continent and, more recently, gigantic economic tightenings, which led the population to organize several protests of street, with harsh repression of the state apparatus.

Even in this adverse political and economic context, some achievements were obtained during this period, such as a tenacious reaction of the Chilean people against the dictatorship and neo-fascist groups. Chile made significant advances, for example, in reconstituting the memory of that period of darkness and obscurantism of the Pinochet dictatorship, through institutions created for this purpose. The expulsion, live, from a TV talk show, where one of the participants denied that there had been physical torture during the dictatorship, became emblematic. with a rifle butt and was murdered with 42 shots, in a refinement of cruelty committed by the minions of the dictatorship.

These opening comments are to give an overview of the political picture of that country, where the candidate of the left, Gabriel Boric recently defeated the ultra-rightist José Antonio Kast, in a victory much celebrated by the progressive forces of the continent. Is there anything to celebrate? Yes. There is nothing worse than allowing the ultra-right to return to govern that country, mainly because of its sympathies with the dictatorial Government of Augusto Pinochet and its flirtations with neo-fascist groups, which mobilized around his election. The big question, however, is the profile of the elected candidate and the political and economic capillarity that conservative groups have conquered in that country, as well as in the entire continent, including Brazil.

It is often said that public transport companies have reduced their fleets in those peripheral neighborhoods, where candidate Gabriel Boric would have greater support from the population, in a clear boycott of his candidacy. The Boric government will therefore suffer violent harassment from these groups and their representatives in parliament. What happened in 2016 here in Brazil is a historical lesson, where windmills were activated so that President Dilma Rousseff (PT-MG) would not complete her term. A political tourniquet that culminated in an institutional coup. Another historical reference is the government of the also leftist, Professor Pedro Castillo, in Peru, which suffers violent harassment from conservative groups inside and outside parliament.

Another noteworthy fact is that candidate Gabriel Boriç cannot be considered a root leftist. He is someone who has made a career in the student movement, never flirted with Marxist ideas, forged alliances with conservative groups and is silent on the arrest of leaders who participated in the last protests in that country. Better than an ultra-right? yes, but the left should be putting its beards to rest with regard to expectations about its government.

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: A instável vitória da esquerda nas eleições chilenas.



Alguns analistas observam que as políticas neoliberais entraram na América Latina a partir do Chile, em 1973, com o golpe de Estado que derrubou o Governo Salvador Allende, de orientação socialista. Avaliação correta ou não, o fato concreto é que, a partir de então, autoritarismo e neoliberalismo passaram a estabelecer uma relação siamesa naquele país, onde até os recursos hídricos foram privatizados. Essa combinação - que, certamente, não causaria surpresa ao filósofo francês Michel Foucault -  trouxe consequências trágicas para a população, que amargou uma das ditaduras mais sangrentas do continente e, mais recentemente, arrochos econômicos gigantestos, que levou a população a organizar vários protestos de rua, com repressão dura do aparelho de Estado. 

Mesmo neste contexto político e econômico adverso, algumas conquistas foram obtidas neste período, como uma reação tenaz do povo chileno contra a ditadura e aos grupos de orientação neofascistas. O Chile conseguiu avanços significativos, por exemplo, em reconstituir a memória daquele período de trevas e obscurantismo da ditadura de Pinochet, através de instituições criadas com este propósito. Tornou-se emblemática a expulsão, ao vivo, de um programa de entrevistas transmitidos por uma TV,onde um dos participantes negou que houvesse ocorrida torturas físicas durante a ditadura.Doloroso ouvir esses nagacionistas, quando sabemos que o cantor Victor Jara teve suas mãos esmagadas a coronhadas e foi assassinado com 42 tiros, num requinte de crueldade cometido pelos asseclas da ditadura. 

Esses comentários iniciais são para dar um panorama do quadro político daquele país, onde o candidato da esquerda, Gabriel Boric recentemente derrotou o ultradireitista José Antonio Kast, numa vitória bastante festejada pelas forças progressistas do continente. Há o que comemorar? Sim. Nada pior do que permitir que a ultradireita voltasse a governar aquele país, principalmente por suas simpatias com o Governo ditatorial de Augusto Pinochet e o flerte com grupos neofascistas, que se mobilizaram em torno de sua eleição. A grande questão, no entanto é o perfil do candidato eleito e capilarirade política e econômica que os grupos conservadores conquistaram naquele país,como de resto em toto o continente, inclusive no Brasil.  

Amiúde, comenta-se que as empresas de transporte público reduziram a suas frotas naqueles bairros periféricos, onde o candidato Gabriel Boric teria um apoio maior da população, num claro boicote à sua candidatura. O governo Boric, portanto, sofrerá um assédio violento desses grupos e seus represetantes no parlamento. Fica como lição histórica o que ocorreu em 2016 aqui no Brasil, onde moinhos de ventos foram acionados para que a presidente Dilma Rousseff(PT-MG) não concluísse o seu mandato. Um torniquete político que culminou num golpe institucional. Uma outra referência histórica é o governo do também esquerdista, o professor Pedro Castillo, no Peru, que sofre um assédio violento dos grupos conservadores dentro e fora do parlamento.    

Um outro fato digno de registro é que o candidato Gabriel Boriç não pode ser considerado um esquerdista raiz. Trata-se de alguém que fez carreira no movimento estudantil, nunca flertou com ideias marxistas, celebrou alianças com grupos conservadores e é omisso no tocante à prisão dos líderes que participaram dos ùltimos protestos naquele país. Melhor do que um ultradireitista? sim, mas a esquerda deve ir  colocando as barbas de molho no tocante às expectativas sobre o seu governo. 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Editorial: Entre os candidatos, Lula é o único que conhece o pelourinho profundo.


Um bom exercício para pesquisadores - seja da área de Ciência Política ou não - é o de adentrar nos relatórios dessas pesquisas de intenção de voto para conhecer os seus pormenores, muito além daqueles números absolutos que apontam a performance dos candidatos "x" ou "y". Assim, ficamos sabendo, por exemplo, quais os estratos sociais mais simpáticos a este ou aquele postulante, seu nível de instrução ou região geógráfica,faixa etária, raça e até questões de gênero podem ser inferidas. É uma espécie de raio x da pesquisa, de onde, de fato,pode-se tirar conclusões importantes. 

Os grupos mais radicais do PT,por exemplo,rejeitam de forma veemente essa aliança entre Lula e o ex-governador tucano, Geraldo Alckmin(Sem Partido), mas ela é fumdamental para o PT tranquilizar o mercado e conseguir estabelecer um link com o eleitorado mais conservador, uma costura política importante, que contribuiu, por exemplo, para a vitória do candidato da esquerda nas eleições chilenas, Gabriel Boric. Sabe-se que, se chegar ao Planalto, governará, de certa forma, de mãos amarradas, dentro dos limites estritos estabelecidos por nossa elite econômica e política. Reformas fundamentais para o país deixaram ser implementadas durante os governos da coalizão petista. Por outro lado, uma chapa "puro sangue" encontraria enormes dificuldades de sagrar-se exitosa, principalmente na conjuntura política brasileira. Puro sangue só ultrapassa a porteira se for de direita.  

O candidato petista, sem trocadilho, também possui um pé na senzala, no pelourinho profundo da pobreza e das desigualdades sociais do país. Eis aqui uma expressão feliz do educador Anísio Teixeira. Entre os postulantes que aí estão, Lula é o único que conhece de perto o drama da pobreza. Pobreza que,inclusive, vem se agravando nos últimos anos, em razão da pandemia, da recessão, do desemprego e da gradativa perda de renda. Embora, toquem nesta ferida, a exemplo de Sérgio Moro(Podemos) e de João Dória(PSDB), soa artificial, vindo de gente dos fóruns de Curitiba ou de empreendedores da Avenida Paulista. É diferente de alguém que conhece a linguagem do "Beco da Fome" ou do Vale do Jequitinhonha.  

E é exatamente este diferencial do petista - em relação aos demais candidatos - segundo o articulista Thomas Traumann, da revista Veja, que está fazendo a diferença. De acordo com os dois últimos levantamentos de intenção de voto, realizados respectivamente pelo IPEC e o Datafolha, Lula pode liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Claro que muito água ainda deverá rolar no rio dessas próximas eleições presidenciais. Tirar conclusões definitivas, neste momento, seria precipitado, mas o petista deverá manter a primazia da comunicação com essa gente pobre, um eleitor que ele conhece tão bem, assim como suas necessidades: Desde colocar um filho numa universidade pública àquele churrasquinho na laje com os familiares e amigos, num final de semana. Nem precisa ser picanha, basta uma asinha de frango. 

Charge! Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 19 de dezembro de 2021

Editorial: A inviabilidade da terceira via?



A orfandade de um eleitorado que não se sentia compelido a votar nem em Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) e nem em Jair Bolsonaro(PL-DF) nas próximas eleições presidenciais suscitou uma grande expectativa entre os partidos e atores políticos que almejavam ocupar a cadeira do Palácio do Planalto. Assim,surgiu um pelotão de candidatos com o propósito de ocuparem esse espaço, apresentando-se como possíveis alternativas a este eleitorado. Como já afirmamos em outros momentos, ocorre que estamos diante de um eleitorado bastante exigente e reticiente, conforme atestam as inúmeras pesquisas de intenção de voto realizadas até agora.

Exceto, talvez, o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), que chega a pontuar com 11% das intenções de voto em algumas pesquisas de intenção de voto, nenhum outro nome deste pelotão despontou, de fato, até este momento, como um nome competitivo, capaz de ameaçar a polarização entre os principais concorrentes. É bom que se informe, igualmente, que o ex-juiz amarga uma altíssima taxa de rejeição (61%) e, pelas últimas pesquisas realizadas, Instituto IPEC e Datafolha, ele aparece estacionado.

Ciro Gomes(PDT-CE) e João Dória(PSDB-SP) parecem não ser alternativas a este eleitorado, o pedetista crava 5% e o tucano do bico fino 4% das intenções de voto. São candidaturas com prazo de validade já determinadas. Se não decolarem até abril, deverá ocorrer um estouro da boiada. O governador João Dória tinha um grande trunfo, algo que os institutos já haviam detectado, ou seja, que o eleitorado irá considerar nas próximas eleições: Como o gestor público comportou-se no tocante à crise sanitária que assolou o país. Dória tomou medidas acertadas, mas, com o arrefecimento da pandemia e a memória fraca dos eleitores, há indicadores de que o timing já teria passado.

Confessso aos meus diletos leitores e leitoras que começo a analisar, como muito carinho, as hipóteses de inviabilidade desta terceira via, como sugeriam alguns analistas, desde o início. A coisa é tão complexa que já tem alguém sugerindo uma improvável reaproximação entre Jair Bolsonaro(PL-DF) e Sérgio Moro(Podemos), para se confrontarem com Luiz Inácio Lula da Slva(PT-SP), que lidera todas as pesquisas de intenção de voto até o momento. Como ensinava uma raposa da política pernambucana, em política não existe "Nunca" nem "Jamais".

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo


 

Publisher: How is the health of democracies doing?



Rankings on the health of democracies, for obvious reasons, always arouse great interest from the population. Perhaps we could say that, especially in Brazil, a country where such an experience has always been a major concern among scholars on the subject. Many adjectives have already been used to define our democratic experience. The historian Sérgio Buarque de Holanda, for example, used to say that, in our case, it was never more than a big misunderstanding. In a country with the historical experience of slavery and predatory colonialism - inducing great social and economic inequalities - the historian is not without his reasons.

In Brazil, everything is a kind of provisional concession of our clumsy, insane and lewd elite. It was like that with the institutional liberation of slaves, it has been like that with our educational system - split into an education for the poor and blacks and another for the rich whites - and, of course, it would be no different with democracy. Uncertainty, inherent in democratic processes, was never on the menu of this insensitive elite. Until recently, in 2016, some adjustments were made in the democratic process, precisely to satisfy their interests, supposedly harmed by meeting the humanitarian demands of the bottom floor of the social pyramid.

For very little, the autocratic process did not escalate once and for all. Attempts have taken place. Fortunately, some strategic actors did not endorse such maneuvers. We've written a long editorial here on the blog dealing with the health of our democracy. It was one of the most read and celebrated editorials among readers. There are, as I inform in that text, some bodies that monitor the health of democracies around the world. Yesterday, the University of Gothenburg, Sweden, through its Institute Variations of Democracy, published its ranking, where Brazil appears as the 4th most vulnerable or threatened democracy on the planet.

Among the indicators listed by that Institute - to reach the level of harassment - only the indicator of freedom of association would not have been reduced. In all other items, we have suffered some form of harassment. We are only ahead of countries like Poland, Hungary and Turkey, now classified as autocratic regimes. Victor Orban and Recep Erdogan, who govern Hungary and Turkey respectively, are considered despots. Our democracy, as I said before, has structural, historical problems. There are some new variables, such as the rearrangement of international financial capitalism, whose cumulative dynamics started to demand more closed political regimes and states more consistent with this logic, hence the strengthening of the Executive power - to the detriment of the Legislative and the Judiciary - a premise quite common among these new autocratic experiences.

By admitting the so-called waves of autocracies, such as that of 1994 - although they do not enter into the merits of how these waves were formed - the Instituto Variações da Democracia, converges with our reasoning. It is very important to mention here the indicators measured by that Institute in order to reach these conclusions. See where we suffer autocratic harassment: a) Degree of freedom of action by the Judiciary and the Legislature; b) Freedom of expression for the population; c) Dissemination of false information by official bodies; d) Repression of civil society demonstrations; e) Freedom of the press; f) Freedom from political opposition.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Charge! Via Folha de São Paulo

 


Editorial: O imbróglio da escolha do candidato do PSB para disputar o Governo do Estado.

 



No momento, um dos assuntos de maior importância na cena política pernambucana recente talvez seja mesmo o último Encontro Estadual dos Socialistas, que contou com algumas defecções emblemáticas e trouxe à baila os problemas enfrentados por aquela agremiação partidária no Estado. A ausência mais notada talvez tenha sido mesmo a do ex-prefeito do Recife, por dois mandatos, Geraldo Júlio(PSB-PE), que seria o nome “natural” para tentar suceder o governador Paulo Câmara(PSB-PE) no Palácio do Campo das Princesas. Natural, inclusive, pelos seus fortes vínculos com a família Campos, herdeira do espólio político do ex-governador Eduardo Campos. Mas, por algum motivo, o hoje Secretário de Desenvolvimento Econômico do Governo do Estado de Pernambuco tem afirmado reiteradas vezes que não pretende disputar o cargo de governador nas próximas eleições estaduais. E este fato já teria deixado de ser cautela ou estratégia.

Não vamos aqui fazer um exercício de dissecação desses motivos - embora o conheçamos - mas,é inegável que a sua relação com o governador do Estado, Paulo Câmara(PSB-PE), já teve dias melhores, uma afinidade construída depois da orfandade deixada pelo ex-governador Eduardo Campos, o grande timoneiro do grupo. Ambos foram quadros técnicos pinçados à condição de políticos. Uma estratégia que Eduardo encontrou para apaziguar as disputas internas dentro da legenda, sobretudo no tocante aos seus quadros políticos. 16 anos ininterruptos de exercício do poder pode ser muito interessante para se conhecer todas as nuances e o azeite da máquina, mas também produz muito desgaste, uma espécie de fadiga de material. 

Exigiria dos governantes um constante grau de oxigenação da máquina, cuidados redobrados com a imagem, boas estratégias de comunicação, projetos sincoronizados com esses 'novos tempos', para se contrapor a esse desgate natural. Os afazeres domésticos - como diria as nossas estimadas senhoras do lar - por vezes, impedem esses cuidados. Alguma coisa falhou por aqui e hoje a preocupação seria a de evitar uma sangria maior, a ampliação da perda de contato com as bases, submetidas ao assédio constante dos  adversários da oposição, que, aliás, estão aparecendo muito bem nas primeiras pesquisas de intenção de voto.  

Conforme comentamos por aqui numa postagem anterior, o mesmo fenômeno estaria ocorrendo na Bahia, governada pelo PT por 16 anos, que vê no horizonte uma possível volta do Carlismo, na pessoa de ACM Neto(União Brasil-BA), de acordo com as mais recentes pesquisas de intenção de voto. Há muito água ainda para correr no rio das eleições de 2022, mas, ele apresenta-se como um candidato forte, que não será fácil derrotar.  O governador Paulo Câmara está sendo cobrado no tocante a uma definição deste nome, uma vez que é ele que deve comandar o processo sucessório dentro das hostes socialistas. 

Com a iminente exclusão do nome do ex-prefeito Geraldo Júlio, novos nomes surgem na bolsa de apostas das possibilidades de escolha, como os políticos Tadeu Alencar(PSB-PE), Danilo Cabral(PSB-PE) e o Secretário da Casa Civil, José Neto, ator de um excelente trânsito político dentro e fora do Governo, uma qualidade muita enaltecida até mesmo pela oposição. Dentre os três, aquele que possui maior afinidade com a família Campos seria Danilo Cabral, além de possuir bases políticas bem adubadas no interior do Estado.  

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Editorial: O grande dilema de Geraldo Alckmin

 


O comentarista político do portal UOL, Matheus Pichonelli, criou uma imagem bastante feliz para se referir a uma possível composição de chapa entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) e o ex-governador Geraldo Alckmin, hoje sem partido, posto que já comunicou seu afastamento do ninho tucano. Segundo aquele comentarista, Alckmin estaria deixando uma estrada pavimentada e asfaltada para o Palácio dos Bandeirantes para percorrer uma estrada cheia de pedregulhos até o Palácio do Planalto, uma vez que há bastante otimismo no tocante à uma possível eleição sua para o Governo de São Paulo. 

Certamente, não tem sido uma decisão muito simples para Geraldo Alckmin, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto para o Governo Paulista, realizadas até o momento. Assim como a corrida para o Palácio do Planalto,a corrida para o Palácio dos Bandeirantes está apenas no começo, o que quer dizer que não exista nada de absolutamente certo, mas, pelo andar da carruagem política, ele reúne grandes chances de torna-se governador a partir de 2022. 

As chances de tornar-se vice presidente também existem, mas, afinal, que tipo de vice presidente ele seria? Que acordo estaria sendo costurado entre ele e Lula? Seria apoiado por ele depois do segundo mandato, uma vez que todos os inquilinos desejam permanecer na cadeira por mais 04 anos? Trata-se de um cálculo político relativamente longo para uma raposa política emplumada como Geraldo Alckmin. Lula, por sua vez, preenche várias lacunas uma vez firmando o acordo com o político paulista. 

Alckmin possui um perfil conservador, o que emite as credenciais necessárias para o mercado; Segundo dizem, também poderia facilitar o  trânsito de Lula junto a setores evangélicos, um eleitorado onde o candidato Jair Bolsonaro(PL-DF) leva nítida vantagem. Por ser um ator político com atuação em São Paulo, possivelmente também agregaria densidade eleitoral à chapa, pois o PT precisa ter inserção nesses redutos eleitorais importantes, situados na região Sudeste. Enfim, trata-se de uma composição que ajudaria bastante o petista. Há, ainda, um fato a acrescentar, como o equacionamento de um impasse fundamental para a costura da aliança entre o PT e o PSB, que não abdicaria de abrir mão da candidatura de Márcio França ao Governo paulista. Numa entrevista recente, o socialista afirmou que existia 99% de chance da aliança consolidar-se. 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Publisher: Education in the city of Jaboatão dos Guararapes wins recognition and UN award




The city of Jaboatão dos Guararapres deserves to be very well studied when it comes to public education. A few years ago, we visited that city, as a teacher, accompanied by our students, to learn about some innovative projects developed there, which had gained prominence in the books adopted by our disciplines, which aroused great interest in the class, which had debated these projects in the classroom. It would be a unique opportunity to get to know these experiences up close, solving doubts and consolidating knowledge.

With the same purpose, we went to the city of Icapuí, in Ceará, then administered by a priest, who received us with great affection, with an unusual promptness. But, let's talk about the experience of Icapuí in another opportunity. What most caught our attention in these innovative education projects in the municipality of Jaboatão dos Guararapes was their inspiration, conceived on a theoretical basis that brought them closer to a Socialist Pedagogy, in the style, amazingly, of the Cuban education model, when the municipality's administration it was in charge of Mayor Geraldo Mello, a former PMDB militant, who, as a communist, did not have much.

I ask my dear readers to be careful with the expression "communist" used by this editor, since the term goes through a process of "vulgarization" and, worse, "criminalization". - in view of the disregard for public education of some of our managers - that the funds destined for this sector would be systematically being diverted to non-republican purposes - according to the suspicions of the Federal Police, the Federal Comptroller General and the Public Ministry. , a thinker and statesman of public education, like Anísio Teixeira, in the year of his centenary of birth, would be appalled by these facts, given the purpose of his life, to make public education universal, of quality for all and destined to consolidate the democracy in the country.

But there are also reasons to make you happy in this year of your centenary. Public education in the municipality of Jaboatão dos Guararapes received the second award from the UN, due to the good projects developed there, with the objective of meeting the demands of impoverished students. Jaboatão was the only municipality contemplated in the entire continent of South America. In 2017 the municipality began to develop a program, together with public schools that house the most fragile students, with the purpose of making them competitive to compete for the competitive places of the federal and state technical schools. Result: 86% of these students passed the contest, which is undoubtedly a great success, crowning the efforts of teachers, other public agents involved and the public administration, currently exercised by Mayor Anderson Ferreira (PL-PE).

As it is said here, all the ends of the skein were duly found, that is, whenever a problem arose - as in the case of the Covid-19 Pandemic - the solutions appeared, without failing to meet the objectives. Classes started on Saturdays, then became regular, even through whatsapp groups. The serious problems of digital exclusion - which penalizes needy students much more - were also circumvented by the government, as I said, preventing any part of the skein from being adrift. The result is there.

Charge! Duke via O Tempo

 




Editorial: O golpe de mestre de Lula



Comendo o mingau quente pelas beiradas - como se recomenda em tempos turbulentos como este que estamos vivendo - aos poucos, Lula vai costuranto alianças importantes e se consolidando na liderança da corrida presidencial de 2022. Jogadas estratégicas foram utilizadas nos últimos dias, como a declaração de solidariedade ao também candidato Ciro Gomes (PDT-CE), vítima de uma operação da Polícia Federal que apura possíveis irregularidades nas obras de requalificação da Arena Castelão. Por outro lado, a anunciada saída do ex-governador Geraldo Alckmin do PSDB é praticamente um indicativo de que ele deverá compor a chapa de Lula, na condição de vice, como se previa. 

Já há até um encontro agendado entre ambos, no próximo domingo, organizado por uma instituição denominada de Prerrogativas, coordenada por Marco Aurélio de Carvalho, como uma espécie de confraternização de final de ano, que reunirá políticos e lideranças empresariais, sinalizando para futuras composições. Os ingressos, ao preço de 500 reais, logo foram esgotados. O lance de trazer Geraldo Alckmin(Sem Partido) para chapa,resolve o imbróglio em São Paulo e empresta à composição um verniz conservador, como sugeriu o colunista da revista Veja Matheus Leitão. 

Em São Paulo, Márcio França(PSB-SP) deverá ser candidato ao Governo do Estado, ao lado de Fernando Haddad (PT-SP), que concorrerá ao Senado Federal. Essa era a grande condição para o PSB fechar um acordo aliancista com o PT. Com grande capilaridade política nas regiões Norte e Nordeste, a chapa precisa fortalecer-se na região Sudeste, região de grandes colégios eleitorais. Assim, sem sobressaltos ou alardes, o pestita vai consolidando o seu espaço. Quando perguntado se é candidato, afirma que ainda não tomou tal decisão, seguindo um script previamente traçado, moderando o discurso e definindo com muito cuidado as ações. Há quem informe, por exemplo, que sua viagem à Europa teve como propósito esfriar o clima na província e evitar exposições desnecessária. Aqui e ali, ele atira um petardo, como este último em direção ao ex-ministro Sérgio Moro.  

Na última pesquisa do Datafolha, publicada no dia de hoje, ele confirma a pesquisa anterior, realizada pelo Instituto IPEC, aparecendo com 48% das intenções de voto. O principal adversário, Jair Bolsonaro(PL-DF), crava 22%. O curioso nessas últimas duas pesquisas é que o ex-juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro(Podemos) grande esperança de superar o pelotão da terceira via, aparece "estacionado", com seus 11%. É bom sempre lembrar que ele amarga uma rejeição de 61% do eleitorado. Uma das maiores. Mas, cautela e canja de galinha, como recomendava nossos avós, não fazem mal a ninguém. Ainda é cedo para tirar conclusões mais consistentes sobre o comportamento do perfil do ex-juiz nessas pesquisas de intenção de voto. Seria preciso aguardar um pouco mais.     

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Editorial: Lula na frente, mas preocupado.

 


Não faz muito tempo, um cientista político aqui da província minimizou a importância das pesquisas de intenção de voto. Afirmamos, à época, tratar-se de um equívoco do ilustre cientista político, pois, embora essas pesquisas retratem momentos específicos da condição dos candidatos - neste caso a mais de um ano da data das eleições - por outro lado, há, nesta série histórica de pesquisas realizadas pelos mais distintos institutos, alguns indicadores importantes, passíveis de extrairmos algumas conclusões. A última delas, realizada pelo Instituto IPEC - que seria o substituto do IBOPE - por exemplo, é bastante emblemática. Ela sugere que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, poderia liquidar a fatura das próximas eleições presidenciais ainda no primeiro turno, pois ele abre 27 pontos de diferença em relação ao seu principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro(PL-DF).

Indica, também, que o chamado eleitorado Nem Nem permanece Nem Nem, ainda bastante reticente em relação às opções que se apresentaram para disputar aqueles votos. Nem mesmo o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos)consegue aparecer bem neste último levantamento, cravando 8%, embora se consideramos a margem de erro para cima, ele permanece com seus 11% dos últimos levantamentos - portanto com dois dígito, o que o coloca na melhor posição entre os postulantes da terceira via -, mas ainda muito distante de ameaçar os dois candidatos que estão à frente da disputa. Aqui é que a porca torce o rabo, pois, com Lula disparado na frente, todos os demais postulantes teriam que rever as suas estratégias, principalmente o pelotão da terceira via, ainda muito embolado. 

Alguns deles sequer pontuam nesta última pesquisa, aparecendo com aquele famoso tracinho. Ciro Gomes(PDT-CE), como se não fossem suficientes os problemas que já enfrenta com as pesquisas, agora se ver às voltas com uma operação da Polícia Federal, que levanta eventuais suspeitas nas obras de requalificação do estádio Arena Castelão. O candidato lançou uma nota oficial, tecendo duras críticas a esta operação e acusando o governo de implantar uma espécie de Estado policial no país. Precipitado fazer algum julgamento antes que os fatos sejam devidamente esclarecidos, dentro do devido processo legal.  

Como temos comentando por aqui, a nossa frágil experiência democrática passa por um momento delicado, principalmente depois dos episódios de 2016. Na realidade, de acordo com os organismos que medem a saúde das democracias no mundo, o Brasil viveu bons momentos até 2015. A partir daí começaram os assédios sistemáticos às nossas instituições da democracia. Nós, que já convivemos com algumas patologias autoritárias crônicas, tivemos novos complicadores. Até pilares basilares, como o sistema de freios, pesos e contrapesos exercido pelos três poderes, esteve comprometido.

Mas, afinal, com o que estaria preocupado um candidato que aparece tão bem nas pesquisas de intenção de voto, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP)? Quando as coisas iam bem para o candidato Jair Bolsonaro(PL-DF), seus seguidores diziam sempre que o melhor candidato a ser derrotado seria o ex-presidente, uma vez que aguçaria a rivalidade e a polarização, com uma capacidade enorme mobilizar a militância. Hoje, os estrategistas de campanha de Lula estabelecem o mesmo raciocínio. Um derretemente muito rápido de Jair Bolsonaro pode criar uma situação nova, como o surgimento de um novo nome neste cenário, o que implicaria, no mínimo, em mudanças de estratégia.    

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Editorial: Educação de Jaboatão dos Guararapes ganha reconhecimento e premiação da ONU.

 


A cidade de Jaboatão dos Guararapres merece ser muito bem estudada quando o assunto é educação pública. Há alguns anos atrás, visitamos aquela cidade,na condição de professor, acompanhado por nossos alunos e alunas, para conhecer alguns projetos inovadores ali desenvolvidos, que ganhara destaque nos livros adotados por nossas disciplinas, o que despertou grande interesse na turma, que havia debatido esses projetos em sala de aula. Seria uma oportunidade única de conhecer de perto tais experiências, dirimindo dúvidas e consolidando conhecimentos.

Com o mesmo propósito, fomos até a cidade de Icapuí, no Ceará, então administrada por um padre, que nos recebeu com muito carinho, com uma presteza incomum. Mas, deixemos para falar da experiência de Icapuí numa outra oportunidade. O que mais nos chamou a atenção nesses projetos inovadores de educação no município de Jaboatão dos Guararapes foi sua inspiração, concebida em bases teóricas que os aproximava de uma Pedagogia Socialista, ao estilo, pasmém, do modelo de educação cubano, quando a administração do município estava à cargo do prefeito Geraldo Mello, militante do antigo PMDB, que, de comunista, não tinha muita coisa. 

Peço aos diletos leitores e leitoras para tomarem alguns cuidados com a expressão "comunista", usada por este editor, uma vez que o termo passa por um processo de "vulgarização' e, pior, "criminalização".  Há bem pouco tempo comentamos por aqui - diante do descaso com a educação pública de alguns dos nossos gestores - que as verbas destinadas a este setor estariam sendo sistematicamente desviadas para fins nada republicanos - de acordo com as suspeitas da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União e do Ministério Público. Possivelmente, um pensador e estadista da educação pública, como Anísio Teixeira, no ano de seu centenário de nascimento, ficaria estarrecido com esses fatos, diante do propósito de sua vida, de tornar a educação pública universal, de qualidade para todos e destinada a consolidar a democracia no país. 

Mas, há também motivos para deixá-lo feliz neste ano do seu centenário. A educação pública do município de Jaboatão dos Guararapes recebeu a segunda premiação da ONU, em razão dos bons projetos ali desenvolvidos, com o objetivo de atender às demandas de alunos e alunas empobrecidos.  Jaboatão foi o único município contemplado em todo o continente da América do Sul. Em 2017 o município começou a desenvolver um programa, junto às escolas públicas que abrigam os alunos mais fragilizados, com o propósito de torná-los competitivos para disputarem as concorridas vagas das escolas técnicas federais e estaduais. Resultado: 86% desses alunos foram aprovados no certame, o que se constitui, sem dúvida, um grande êxito, coroando os esforços dos professores, de outros agentes públicos envolvidos e da administração pública, hoje exercida pelo prefeito Anderson Ferreira(PL-PE). 

Como se diz por aqui, todas as pontas do novelo foram devidamente encontradas, ou seja, sempre que um problema surgia - como no caso da Pandemia da Covid-19 - as soluções apareciam, sem que os objetivos deixassem de ser cumpridos. As aulas começaram nos sábados, depois passaram a ser regulares, através, inclusive, de grupos de whatsapp. Os graves problemas de exclusão digital - que penaliza muito mais os alunos carentes - também foram contornados pelo poder público, como disse, evitando que alguma ponta do novelo ficasse à deriva. O resultado aí está.      

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 12 de dezembro de 2021

Tijolinho: Raquel Lyra e Priscila Krause arruando pelo Recife... sem Anderson Ferreira.



A prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), chega ao Recife em meio às turbulências de mais uma operação da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União e do Ministério Público, com o objetivo de apurar possíveis irregularidades em contratos celebrados entre entes públicos e privados, visando atender demandas de material escolar para a rede pública de ensino, ocorrência que, certamente, entra na pauta das atenções da Deputada Estadual, Priscila Krause, uma ferrenha fiscal das ações do poder público, uma das atividades mais visíveis de sua atuação como parlamentar. Cogita-se que Priscila Krause possa compor a chapa que concorrerá ao Palácio do Campo das Princesas, na condição de vice, nas eleições estaduais de 2022, encabeçada pela tucana. 

Mas chegou em tempo, também, de rogar as bênçãos derramadas sobre a cidade pela padroeira de todos os pernambucanos - mas do Morro da Conceição, em particular - Nossa Senhora da Conceição. Ambas realizaram um périplo pela cidade, passando pela FENEARTE, a visita a um mestre de capoeira e a homenagem a santa, no Morro da Conceição. Iniciaram o périplo pela cidade de Paulista, acompanhada pelo ex-senador Armando Monteiro.

Como já afirmamos antes, presenças ou ausências, em política, constitui-se fortes indicadores. Desta vez, o companheiro de jornadas Anderson Ferreira(PL-PE), prefeito de Jaboatão dos Guararapes, não acompanhou a comitiva, produzindo várias ruídos. Muita água ainda vai rolar até as eleições de 2022. Ainda é precipitado tirar alguma conclusão sobre essa sua ausência na comitiva, embora ela emita algumas sinalizações. Por enquanto, as nuvens ainda estão indefinidas, conforme advertia a raposa Magalhães Pinto.   

Camila Prando: palavras subterrâneas e os melhores livros do ano

 

Camila Prando: palavras subterrâneas  e os melhores livros do ano
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Mas a existência da linguagem é o sim dito ao mundo
para que ele esteja suspenso sobre o nada da linguagem.
Giorgio Agamben

 

O fato ordinário é que todos os anos aparecem listas, mais ou menos um ou dois meses antes do ano terminar, com “os melhores” livros. Aquilo que aparece em novembro, em dezembro não consta das listas dos selecionadíssimos e selecionadíssimas colaboradores e colaboradas dessa ou daquela publicação. Isto leva também ao tabuleiro marcado dos prêmios, entre os que julgam antes para ser premiados depois e assim sucessivamente numa alternância fisiológica. Lembra até o Congresso e a votação da PEC dos precatórios. Agora, em 2021, numa coincidência ruim às listas, morreu Assis Brasil, no dia 28 de novembro. Quase ninguém sabe, ninguém viu. Nascido em Parnaíba, no Piauí, com uma longa morada no Rio de Janeiro, e falecido em Teresina, numa pequena casa com apenas duas máquinas de datilografia e um copo. Uma vida intensa lançada ao jogo desamparado e infinito do pensamento, uma política daquele que é capaz de andar com pés finos à beira do abismo e também dançar. E pasme-se: nenhuma escritora ou escritor brasileiro vivo e premiado lambe sequer as botas da literatura de espanto, demoníaca, que Assis Brasil inscreveu com o corpo, sempre em torno de personagens de vida operária, precária, sofrida, dura, sem saídas. Bastaria ler, com força, entre tantos livros, coisas como Beira rio, beira vidaOs que bebem como os cãesSodoma está velha ou O livro de Judas. São oscilações humanas sem nenhuma possibilidade de alteração social, vidas anônimas em corpos nomeados, uma luta de indivíduos com mínimas memórias coletivas, pequenas fímbrias numa genealogia de vazios: um povo que ainda falta ou uma gente que ainda é um povo que falta. O que Raúl Antelo provoca pensar como uma “desregulação regrada” em “nossa” descabida e desigual formação sócio-cultural.

Mas há, como um livro do lado, aquele que vem de uma beira pertinente à sua condição extrema, como uma fome, uma ética, esta “maneira que não nos acontece nem nos funda”, mas nos engendra; e isto se entendemos que estamos o tempo inteiro diante do demônio, esta frágil criatura, afastada de qualquer ideia de deus e que não pode nos fazer nenhum mal, que é também a que mais solicita ajuda e oração; é a possibilidade de não ser que implora por socorro, um “ser que é infinitamente suscetível de ser tentado”. Este livro que vem, como um demônio, tem a ver com a ideia de um “trabalho no subsolo”, como o sugerido por Walter Benjamin, entre o sonho com um terreno deserto, a praça de Weimar, as escavações em curso, o surgimento de um pináculo de igreja e a alegria de um santuário mexicano pré-animista: o Anaquivitzli. E não é nem de longe a ideia fajuta do livro dos livros, nem muito menos a consagração fracassada, menos para o dinheiro, da aparição associada às listas por causa de um desenho narrativo do óbvio, a “agenda da hora”, com mais de 100 ou 200 mil leitores. Não custa lembrar T.S. Eliot quando anotava que “tudo o que a multidão gosta, merece desconfiança”.

Devagar, quando a literatura ainda é algo muito perigoso, uma boca sem dentes, tocando a ideia de Franz Kafka – “Todos os dias tenho que escrever pelo menos uma frase contra mim” –, lendo-se aí que esse contra não é um ataque autodestrutivo, mas um ponto de começo, uma luta: nunca partir de um EU para o mundo, mas partir do mundo para, se possível, numa inversão deliberada e anacrônica, tocar algum EU quando assim se toca também algum OUTRO. O pequeno livro de Camila Prando, Dicionário de palavras subterrâneas (AVÁ Editora) – que pode nos lembrar também W.G. Sebald, em torno da expressiva circunstância de que “estamos na era da destruição natural do mundo” –, é uma imensa construção acósmica de que a vida e sua máquina teológica não podem ser salvas. E nos apresenta, assim, frente a leveza inespecífica da linguagem, a vida na e da terra, ou seja, “simplesmente a vida humana”. Camila, nascida em Telêmaco Borba, no Paraná, mora em Brasília, é professora de Criminologia e Direito penal da UnB, coordena o Centro de Estudos de Desigualdade e Discriminação (CEDD), desenvolve uma pesquisa em torno do desaparecimento forçado nas prisões brasileiras e do quanto isso tem a ver com a construção de um problema social e jurídico sem tamanho.

O que se imaginaria ao abrir o pequeno livro de 65 páginas essenciais, diante de uma fotografia rarefeita de duas crianças brincando na areia frouxa de uma beira de praia ou quintal e, na página ao lado, a epígrafe de Cesare Pavese – “a morte virá e terá teus olhos” –, é que há uma proposição imediata, risco e fúria, como um puzzle indômito, entre a imagem e a frase. A primeira mínima narrativa tem cinco linhas, Urubu: “Ela voava como um urubu. Um voo alto, nublado e oblíquo. Os olhos atentos à caça, em corpo leve e alado, suspenso no ar. A menina farejava o cheiro da morte se preparando para devorar sua carne”. Ao lado da narrativa uma notícia retirada de jornal, com data de 25 de março de 2013: “A jovem foi encontrada por um morador que percebeu o mau cheiro e a presença de urubus no terreno. Após procurar por algum animal morto no local, o homem avistou a vítima seminua em uma vala e acionou a polícia”. Não se sabe de qual jornal, nem de quem se trata de fato a notícia: oscilações humanas entre o desamparo de corpos nomeados e quase nenhuma memória coletiva, porque há uma banalização naturalizada da destruição do mundo, da vida. Tanto que há uma dimensão ordinária que se contempla e se contenta com a ideia de que há vidas, há mundos, assim, no plural, apenas para sobejar e deliciar os fetiches capitalistas de que nada se faça, nada se altere, que toda a catástrofe seja mantida, no único mundo que criamos.

O livro de Camila, num susto, parte de uma invenção narrativa para o encontro com as circunstâncias da notícia, talvez retomando o gesto de Margo Glantz, uma escritora mexicana fabulosa que inicia o livro E por olhar tudo, nada via, com uma pergunta: “Ao ler as notícias, como decidir o que é mais importante?”. Camila inverte o sentido da notícia, e aí não mais ao modo de Margo, mas numa operação tangente, quando primeiro vem uma ficção-crítica de toda origem para depois, numa busca incessante, encontrar notícias que tratem de algo que possa, de alguma maneira, encontrar-se com aquilo que imagina, inventa, narra e inscreve. E tudo paira num gesto entre estúpido, que é próprio do estudo, da fadiga alegre de estudar, até uma generosidade de partilha que não pede nada em troca, sequer quaisquer leitores ou leitoras. Sabe-se, como um sabor, a quem, num esforço de busca, ou seja, também de estudo, não se contenta com o agotamiento imparável de uma literatura que beira “soluções” e “investidas” de ponta de estoque: comércio de black friday.

O livro de Camila se recarrega na sintomatologia do naufrágio absoluto, é um subterrâneo que roça a superfície daquilo que somos, algozes e vítimas sem inocência alguma. As personagens são meninas e mulheres largadas que tentam, minimamente, segurar-se à borda da vida com toda a força e construção de sentidos que ainda lhes pode ser impossível. Fácil reparar numa composição que advém da imagem de O esmagamento das gotas, de Julio Cortázar, em Histórias de Cronópios e de Famas: a gota que se segura na esquadria da janela “[…] com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que pende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore. Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desprendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada do cair e aniquilar-se. […]”. Em Ritmo, ela escreve: “Quando criança, a mãe lhe comprava livros. Os dedos se cortavam na navalha fina do papel. – Esta menina é tão desajeitada. Levavam ao médico para ver se ela pegava ritmo. As folhas do livro tinham marcas de sangue e chocolate. Era uma escrita sutil. Uma tentativa íntima da menina sentir”. E, ao lado, a notícia, jornal, 14 de maio de 2018: “Pacientes com coração batendo fora de ritmo nunca podem parar o tratamento”.

E assim, removendo lentamente este rocio – notícias ordinárias e imaginação fabulosa, fotografias e epígrafes com as pequenas narrativas –, Camila Prando sugere uma reconfiguração, também advinda de Kafka, a de que a “incongruência do mundo é de índole quantitava” ou de que “no mundo há muita esperança, mas não para nós”, e isto porque não conseguimos saltar a história nem provocar uma saliência na história, remexendo mais fundo as mãos na lama, na merda, no abominável estado das coisas todas ao nosso redor. Algumas das narrativas encantadas desse Dicionário de palavras subterrâneas, em palavras que nunca emergem, como BicicletaQuintalVoo ou Milagre, por exemplo, sugerem não um quanto, mas um como, um quando, um por quê?, dessas vidas de subsolo, o lado mais baixo da história, desses encontros de mundo do qual pouco se sabe ou que poucos conhecem. Uma literatura com força, sem negócio, sem concessão, com muito do que propõe também Giorgio Agamben ao indicar que “no momento em que te apercebes do caráter irreparável do mundo, nesse momento ele é transcendente. Como o mundo é – isso é exterior ao mundo”.

 

Manoel Ricardo de Lima é professor de literatura, UNIRIO. Publicou O método da exaustão (Garupa, 2020), Avião de alumínio (Quelônio, 2018, com Júlia Studart e Mayra Redin), Falas Inacabadas (Tomo, 2000, com Elida Tessler), entre outros. Organizou recentemente Uma pausa na luta (Mórula, 2020) com a participação de 70 pessoas e juventude, alegria (Mórula, 2021, com Davi Pessoa).

 


por Redação

Reunião de dois contos que se centram nas desventuras dos personagens Fettes e Keawe: “O ladrão de corpos” e “O diabrete da garrafa”. O primeiro, originalmente publicado em 1884, baseia-se na vida do cirurgião Robert Knox, que comprava corpos de uma dupla de assassinos para usar em suas aulas de anatomia, na Escócia do século 19. Já o segundo conto, de 1891, aborda o clássico mito do gênio na garrafa, com suas realizações do impossível que, no mais das vezes, convertem-se em desgraças e infelicidade para seus proprietários. A edição é impressa em risografia e serigrafia, com encadernação manual, e conta com algumas opções tradutórias inéditas, como o “diabrete” em vez do mais usual “O diabo na garrafa”.

Em uma noite lisboeta de 1938, em pleno regime ditatorial salazarista, um português chamado Pereira aborda o escritor italiano Antonio Tabucchi e solicita-lhe que seja personagem de um livro seu. Esse é o pano de fundo do romance-depoimento de Tabucchi, que também é tradutor da poesia de Fernando Pessoa para o italiano. Pacato e melancólico viúvo de meia idade, Pereira é diretor da seção cultural de um pequeno jornal lisboeta, para o qual traduz contos franceses do século 19. No início definido como apolítico, o crescente clima de tensão da época, com o franquismo, a guerra civil espanhola e a ascensão do nazismo, faz com que Pereira gradualmente descubra em si atos de rebeldia e autoconsciência, impulsionando-lhe para longe da zona de conforto que ocupava.

Definida no subtítulo como uma “biomitografia”, a obra traz recordações, misturadas à ficção, dos primeiros 23 anos de vida de Audre Lorde, poeta, ensaísta e ativista negra e lésbica norte-americana. Ao longo dessa trajetória, ressalta-se o papel fundamental que as mulheres exerceram em sua vida, constituindo parte de sua própria identidade. Da infância, marcada pela personalidade grandiosa de sua mãe, à juventude, quando descobre o amor homossexual, figuras de mulheres misturam-se à sua própria constituição subjetiva. “Zami, pensei, ao chegar ao fim de suas páginas já com saudades, é um dos galhos daquelas árvores que a pássara sem pés tanto procurou, pois aqui, no abrigo de suas folhagens, pousamos em segurança como no colo de nossas mães, todas elas”, escreve Cecília Floresta no prefácio à edição brasileira.

Um casal chega junto a um restaurante. A mulher, esquecendo-se da companhia do marido, pede uma mesa apenas para uma pessoa. Ao sentir a mão do homem em seu ombro, recorda-se de sua presença e emenda o erro. Assim começa o primeiro romance de Natália Zuccala, que se assemelha a um bordado intermitente, que se desfaz no próprio ato de coser, na opinião da escritora Carola Saavedra. “Por trás da desmemória, há algo que precisa não ser dito, algo do âmbito do horror. E de repente, percebemos que Amanda é Amanda [a protagonista], mas também é todas as mulheres, e também somos nós. Não há saída além de acompanhar a personagem nesse mergulho, mesmo que intuamos que, do lado de lá, talvez não haja nada, só o horizonte infinito do silêncio”, escreve Saavedra.

(Publicado originalmente no site da revista Cult)

 

Editorial: A investida de Moro sobre as bases do bolsonarismo


Embora lidere todas as pesquisas de intenção de voto até aqui realizadas - em alguns casos com folga - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), outro dia, manifestou uma preocupação com o eleitor evangélico, sobretudo neste momento político que o país atravessa, onde, claramente, alguns setores das igrejas neopentecostais declaram abertamente o seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro(PL-DF), constituindo-se numa espécie de núcleo duro de suporte ao seu projeto de reeleição. Sem trocadilhos, grupos de igrejas neopentecostais continuam sendo um eleitorado fiel ao bolsonarismo. 

Houve um tempo - bem distante - onde as preocupações de Lula eram bem outras, ou seja, naqueles tempos os evangélicos não suportavam um candidato com o seu perfil, possivelmente ateu, metido a comunista e coisas e tais. Não seria um candidato ideal para um "crente' votar nele. Com o tempo,  essas concepções foram dissipadas e eles acabaram se entendendo. Havia até núcleos do PT encarregados de fazer essas interlocuções e desfazer os mal-entendidos. Aqui em Pernambuco, por exemplo, o pastor anglicano e professor da UFPE, Robinson Cavalcanti, já falecido, cumpriu muito bem este papel. 

Como consequência do abandono de um trabalho de base - o partido passou a ter uma preocupação maior com as disputas eleitorais - o PT perdeu bastante capilaridade junto a esses setores, como reconhece o próprio candidato. É uma das coisas que ele não entende, mas é simples, o partido perdeu contato com a base, em virtude de um processo de oligarquização e a priorização da luta pelo voto. Há quem afirme que o presidente Jair Bolsonaro(PL-DF) poderia estar cometendo o mesmo equívoco, esquecendo de afagar o rebanho. Talvez haja aqui um exagero, pois ele sabe que essas bases neopentecostais constitui-se num dos seus grupos de apoio mais consistente. Nas mobilizações de 07 de setembro ele contou com o apoio decisivo desses grupos, inclusive com a presença do pastor Silas Malafaia, fiel escudeiro do bolsonarismo. 

Possivelmente bastante reticente ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), ninguém tem dúvidas de que tal eleitorado seria susceptível ao candidato do Podemos, Sérgio Moro, uma vez que ele é do mesmo berço bolsonarista. É dentro desta perspectiva que já se observa uma movimentação deste candidato junto às lideranças evangélicas, o que se constitui numa evidente investida sobre bases do bolsonarismo. Segundo dizem, a estratégia estaria sendo pensada por seu núcleo estratégico de campanha, que também pretende entrar no pasto, ou seja, no agronegócio, outro grupo onde o presidente Jair Bolsonaro conta com um forte apoio. 

sábado, 11 de dezembro de 2021

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


Editorial: Se estivesse entre nós, Anísio Teixeira morreria de desgosto.


Com raríssimas exceções, o educador baiano Anísio Teixeira é muito pouco estudado na academia brasileira. É, igualmente, um dos poucos casos onde há um reconhecimento explícito - a partir dos trabalhos da Comissão da Verdade - de que ele foi assassinado durante a ditadura militar instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Quando ouviu alguém comentar sobre o assunto, este editor ficou curioso em saber se foram novos laudos periciais ou houve alguma declaração de algum agente do regime militar acerca deste assunto. Na realidade, tanto em relação a Anísio Teixeira, assim como em relação a João Goulart e Juscelino Kubitschek há indícios de que foram eliminados no bojo das ações da chamada Operação Condor. 

A famigerada Operação Condor, que integrava as ações das ditaduras do Cone Sul, com o propósito de eliminar seus desafetos. Posso até estar equivocado, mas uma das possibilidades da resistência a Anísio Teixeira na academia brasileira pode estar relacionada à sua formação teórica, muito influenciada por pensadores americanos, a exemplo do filósofo John Dewey. Curioso que ambos, ao seu tempo e ao seu modo, foram acusados de comunistas. 

Os ditos centros de estudos educacionais mais progressistas do país já declararam abertamente sua preferência pelo pernambucano Paulo Freire, que concentrou boa parte de suas atenções para a educação de adultos,enquanto Anísio Teixeira manifestava uma preocupação com uma educação pública universal e de qualidade para todos, inclusive para aqueles do pelourinho profundo produzido pelo país, ou seja, as crianças oriundas dos estratos sociais mais fragilizados. Quando tal objetivo fosse alcançado, estávamos construindo os alicerces da democracia entre nós. De fato, sem oportunidades educacionais não se consolida uma democracia, daí se entender um dos motivos pelos quais estamos sempre neste exercício precário, neste hiato entre democracia política e democracia substantiva. 

Nunca vi uma imagem tão feliz para definir o Brasil, quanto esta empregada por Anísio - do pelourinho profundo - para caracterizar o Brasil da imensas desigualdades sociais e econômicas. Essa afirmação, segundo um palestratante, veio no bojo de um contraponto a um dos grandes intérpretes do Brasil, o seu amigo Darcy Ribeiro, que dizia que o Brasil era um bloco de granito monolítico, difícil de penetrar. Seria preciso um esforço descomunal para promover qualquer que fosse a mudança. 

Essa introdução vem a propósito de alguns fatos que estão ocorrendo aqui no Estado de Pernambuco. Fatos que nos envergonham e nos entristecem. Operação da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União e do Ministério Público, denominada de Literatus, estão colocando sob inúmeras suspeitas contratos celebrados entre entes públicos e privados, envolvendo inúmeros itens de material escolar destinados à escola pública. Asssuta as irregularidades que estão sendo apontadas, com suspeita de desvios de somas fabulosas para outros interesses de natureza nada reublicanos, com um possível prejuízo gigantesco para os cofres públicos. 

Mas, não é só isso, como afirmamos num dos nossos tijolinhos, Pernambuco, nos últimos dias, especializou-se em produzir notícias ruins. O quantitativo de 150 mil ovos, destinados à merenda escolar dos alunos da rede pública do município de Salgueiro, Sertão do Pajeú, estão sendo descartados, depois que a vigilância sanitária constatou a sua perda de validade. Se ainda estivesse entre nós, o baiano Anísio Teixeira morreria de desgosto, de causas naturais.