pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Editorial: A lista do INSS



Ontem, 13, durante os trabalhos da CPMI do INSS, começaram a chegar as notícias acerca da nova operação da Polícia Federal e da CGU sobre o escândalo do INSS, onde milhares de aposentados e pensionistas foram roubados em seus proventos através do expediente dos descontos não autorizados. É curioso que, assim como ocorreu com a Lava Jato, estamos diante de mais uma daquelas listas, onde alguns servidores públicos, loobistas e beneficiários das entidades arroladas são tratados por cognomes, possivelmente com o propósito de dificultar a identificação. Isso de pouco adiantou, uma vez que, viemos a saber um pouco depois, esta nova operação, autorizada pelo Ministro André Mendonça, do STF, está baseada numa delação premiada de um dos envolvidos, Maurício Camissotti. 

Ao que se presume, ele entregou muita gente. Estima-se que somente para Stefanutto, supostamente, seria paga uma mesada de R$ 250,00 mensalmente. É espantoso e estarrecedor perceber que servidores de alto escalão do INSS estavam envolvidos nessas maracutaias até a medula. Presidente do órgão, procurador-geral, chefe de benefícios. Imaginem os senhores quando chegarmos ao andar de baixo da burocracia da entidade. Era uma engenharia de roubalheira que foi montada no órgão, independentemente das ideologias ou governos de turno. É cansativo observar, durante os trabalhos daquela comissão, parlamentares tentando imputar a responsabilidade sobre este ou aquele governo. Há servidores que, por possuírem a "senha" foram mantidos no cargo apenas para permitir a sangria dos aposentados. 

O senador Carlos Viana(Podemos-MG), que preside os trabalhos daquela CPMI, já identificou vários núcleos montados - quase sempre familiares - com o propósito de desviar recursos dos aposentados. A mesada pode envolver nomes diretamente vinculados ao Legislativo. E olha que os descontos irregulares é apenas a ponta do iceberg. São visíveis as irregularidades em relação aos empréstimos consignados, assim como em relação ao seguro defeso. Brasília, por exemplo, se tornou uma capital com vocação para a pesca, dado o números de beneficiários com o seguro na capital federal. Há alguma coisa de muito errado ali também.   

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Editorial: Stefanutto é preso em operação da Polícia Federal.

 


Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS, é preso em nova operação da Polícia Federal, no curso das investigações dos desvios de recursos ilegais do INSS. Utilizamos um eufemismo aqui, mas, na realidade, o nome correto é roubo. E um roubo de proporção gigantesca, possivelmente bem superior às estimativas apresentadas até aqui. Enquanto escrevemos este editorial, novas operações no estado da Paraíba estão sendo realizadas pela PF com a mesma finalidade. Além dos carrões de luxo, ganhou repercussão hoje nas redes socais um cofre, empilhado de dinheiro roubado, apreendido na nova fase da operação, no estado do Maranhão. O lado bom é que observamos que o trabalho da Polícia Federal e da CPMI do INSS estão produzindo seus resultados. 

Nas últimas semanas, estiveram presentes às audiências os chamados Golden boys, ou seja, aqueles filhos ou parentes de corruptos que utilizaram seus escritórios de advocacia e "assessorias" para, literalmente, movimentarem o dinheiro desviado dos aposentados e pensionistas. Um deles estava de posse de um Iphone de R$ 14,000 e calçando um sapato de R$ 10,000. Louvável o apoio do STF, principalmente na pessoa do ministro André Mendonça que, coerentemente, vem dando suporte ao trabalho sério que vem sendo conduzido por aquela comissão, acatando as recomendações de decretação de prisões e modulando a concessão dos habeas corpus, respeitando, naturalmente, as prerrogativas dos convocados ou convidados.

Estamos numa expectativa danada em relação ao início dos trabalhos da CPI do Crime Organizado. Uma charge do Thiago Lucas, publicado neste blog no dia de hoje, retrata, com maestria este momento enfrentado pelo país no que concerne ao problema da violência. Enquanto os políticos e gestores públicos travam diálogos entre surdos, impossibilitando qualquer consenso mínimo em relação ao assunto, os índices de violência aumenta, comprometendo o cotidiano da população. No mesmo jornal, como um bom exemplo desta situação, a notícia de que a senhora que teria sido vítima de um estupro numa unidade policial, precisou mudar de endereço em função, provavelmente, de ameaças. 

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Editorial: Bukele na CPI do Crime Organizado?



Quando da abertura dos trabalhos da CPI do Crime Organizado, o relator, o senador sergipano Alessandro Vieira, do MDB, leu uma lista com alguns nomes que deverão ser convocados para as audiências. Estudiosos, gente da área de segurança pública, acadêmicos. Uma lista bastante interessante para conhecermos essa realidade mais de perto. Depois surgiu uma nova lista de eventuais convidados, desta vez governadores e ministros de Estado. Ontem ficamos sabendo que o senador Magno Malta pretende apresentar um requerimento para a convocação do presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Como se trata de uma autoridade de um outro país, talvez precise do sinal verde do Ministério das Relações Exteriores. 

Provavelmente aqui teremos problemas, pois não passa pela cabeça de ninguém que o Governo Lula teria boa vontade de trazer Bukele ao país, principalmente em tais circunstâncias. Agora há pouco ficamos sabendo que as mudanças introduzidas pelo relator, o deputado federal Guilherme Derrite, no PL das Facções foram apenas pontuais, fazendo algumas conceções apenas ao papel da Polícia Federal no combate ao crime organizado. Alguns entes federados correm o risco de colapsarem antes mesmo das eleições de 2026. A situação é bastante crítica. No Rio de Janeiro, apenas 15 cidades não estão sob o jugo de facções. 22% do território é controlado por elas. No Amazonas eles entraram até nos negócios com azeite de dendê, obrigando garimpeiros a atuarem em terras indígenas, com tal finalidade. 

E, por falar em facções ou crime organizado, cresce a tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela. A possibilidade de os Estados Unidos iniciarem operações dentro do território daquele país latino-americano é hoje algo dado como certo e irreversível. Curiosa é uma declaração do assessor Celso Amorim, no dia de hoje, 12, informando que se algo ocorrer àquele país seria uma obrigação do Brasil ajudar Nikolás Maduro. 

Editorial: Os reflexos da Operação Contenção sobre a aprovação de Lula.


Finalmente, sugere-se que o Governo Lula está construindo um entendimento com o deputado federal Guilherme Derrite, relator do PL Antifacção. Existem alguns pontos polêmicos, como aquele dedicado ao trabalho da Polícia Federal no combate ao crime organizado, o que, convenhamos, seria um retrocesso inconstitucional. Até o eventual apoio do presidente Lula a um determinado candidato ao Senado Federal pelo estado da Paraíba, nas eleições de 2026, entrou nas negociações dos bastidores da política brasiliense. Hoje saiu uma nova pesquisa do Instituto Quaest Genial, sobre a aprovação do Governo Lula 3. Os escores, embora dentro da margem de erro entre aprovação e desaprovação, de alguma forma, não são alvissareiros, uma vez que indicam uma tendência, ou seja, de uma espécie de perda de tração ou esgotamento da capacidade do presidente Lula em recuperar seus índices de popularidade, o que ele vinha fazendo até recentemente. 

Um dado ainda mais preocupante, concluído pelo próprio Instituto, é que este fato deveu-se à repercussão do posicionamento do presidente Lula acerca dos traficantes - aquela fala infeliz - e em relação aos reflexos da Operação Contenção, que teve o apoio de percentual expressivo da população, de acordo com os levantamentos realizados inclusive pelo próprio Instituto Quaest/Genial. O Governo Lula 3 já percebeu que precisa tomar alguns cuidados nesta área nefrálgica de segurança pública, onde a Oposição vem ganhando a narrativa. No dia de ontem, 11, ficamos sabendo que até o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, pode ser convocado a uma sessão da CPI do Crime Organizado. O requerimento partiria do senador Magno Malta, que já enfrentou até motosserra quando esteve à frente dos trabalhos numa dessas CPI's. 

O projeto piloto de retomada de territórios ocupados por facções, que está sendo desenvolvido pelo Ministério da Justiça, no Rio Grande do Norte, se bem-sucedido, poderá se constituir num trunfo do Governo contra a Oposição, que mantém um discurso hoje mais afinado com o sentimento da população. Talvez por medo, diante do descalabro em que se transformou a segurança pública no país. Isso pouco importa. Os índices de aprovação de Cláudio Castro melhoram sensivelmente depois da Operação Contenção. 

 

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


Editorial: Governo não se entende com Derrite sobre PL antifacção.



Na semana passada ouvimos alguns considerações, até positivas, de gente do Governo Lula 3, acerca do relator do PL Antifacção, o deputado federal Guilherme Derrite, que se licenciou do cargo de Secretário de Segurança Pública de São Paulo para assumir a função de relator do projeto. As ponderações eram que se tratava de uma pessoa de Oposição, mas com perfil técnico. Não apostaria um centavo num eventual entendimento entre Derrite e o Governo Lula 3. Hoje, 11, a imprensa traz uma série de matérias tratando do distanciamento entre ambos no que concerne às modificações introduzidas pelo deputado no PL Antifacção, principalmente em relação aos enquadramentos dessas organizações criminosas como terroristas. 

Quem acompanha minimamente o trabalho de Derrite sabia disso. Na realidade, estamos aqui diante talvez do maior gargalo de segurança pública hoje no país, ou seja, a ausência de um consenso mínimo entre os entes federados e o Governo Federal. A questão da segurança pública no país, passa, necessariamente, pela reestruturação das polícias estaduais. Algo que não se consegue sem um amplo entendimento. Entes federados não aceitam, sequer, que a coordenação de políticas públicas de segurança tenham a diretriz do Governo Federal, como se percebeu na última reunião em Brasília. Derrite deverá ser um dos primeiros convidados para os trabalhos da CPI do Crime Organizado, algo que deverá também ocorrer com o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. 

Será um oportunidade de Lewandowski expor a experiência do projeto piloto de retomada de território que está em andamento no Rio Grande do Norte. O Governo precisa ficar muito atento a isso, para não ficar à reboque, a exemplo do que ocorreu recentemente, quando da Operação Contenção desencadeada pelo Governo do Rio de Janeiro. Um fiasco, sob certos aspectos, mas deu a chance à oposição de vencer a guerra de narrativas em relação à eventual ausência de apoio federal para as operações e, igualmente, à sua inércia. Como já afirmamos antes, o governador Cláudio Castro ocupou um vácuo perigoso, convencendo a maioria da população sobre as ações contra o crime organizado. Segundo consta, já haveria dez novas operações previstas. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Editorial: CPI do Crime Organizado pretende convocar ministros e governadores.


Na abertura dos trabalhos da CPI do Crime Organizado, o relator, o senador sergipano Alessandro Vieira, do MDB, leu uma lista dos nomes que deverão ser convocados para as audiências daquela comissão. Gostamos bastante da lista que foi apresentado, pois apresenta nomes que lidam diretamente com essa questão, seja exercendo o papel de agentes públicos, seja encapsulados nos centros acadêmicos, realizando suas pesquisas e publicando livros. Hoje, 10, saiu a notícia de que esses nomes poderão ser ampliados, envolvendo o convite a 11 governadores de Estado e autoridades públicas de Brasília. Ministros do Governo Lula estão nesta lista. Entre esses governadores, salvo melhor juízo, um deles reclamou, argumentando que gostaria de ser convidado: o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que se tornou polêmico em razão da política de segurança pública adotada em seu estado. 

Goiás é hoje um dos estados menos violentos do país, uma vez que as ações de facções ali foram sensivelmente controladas. Isso mostra como os índices de violência hoje no país estão intimamente ligados às ações do crime organizado. Se esses grupos ampliam seus territórios e seus tentáculos numa determinada região, é ilusório apresentar eventuais índices de diminuição dos CVLI uma vez que eles podem "explodir" a qualquer momento posterior. Estávamos dando uma passadinha pela site de notícias da Paraíba. São recorrentes assassinatos em áreas como Cabedelo, Santa Rita, Conde, Bayeux, exatamente em áreas nevrálgicas, conflagradas, onde existe uma forte atuação do crime organizado. 

E, por falar em governadores, soubemos há pouco, através dos nossos informantes plantados no Palácio Redenção, que um senador local está convidando o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, para realizar uma palestra na Paraíba, onde deverá falar a respeito da Operação Contenção. Esta operação, sob certos aspectos, foi um verdadeiro fracasso, mas Castro ganhou a disputa de narrativa contra o Governo Federal. Ele aproveitou bem o medo da população e a inércia de ações mais efetivas contra as facções. Está se tornando pop-star. A situação do Rio de Janeiro e outros estados da federação é bastante complicada. Apenas 15 cidades cariocas não estão sob o controle efetivo do crime organizado. 

sábado, 8 de novembro de 2025

Editorial: Os 200 anos do Diário de Pernambuco


Todas as homenagens merecidas ao tradicional Diário de Pernambuco, que completou 200 anos de existência recentemente. Ontem estava sendo aguardada, com grande expectativa, a abertura uma espécie de cápsula do tempo, de 100 anos, quando o jornal completou um século de existência. Trata-se de um jornal intrinsecamente ligado à nossa História Regional e até de nossa Geografia, uma vez que, para o historiador Durval Muniz de Albuquerque, sua identidade com o Nordeste é tão expressiva que o espaço geográfico da região passou a ser delimitado, certa medida, por sua área de circulação. O Nordeste ia até onde o Diário de Pernambuco chegava. Ele está presente até em textos consagrados de nossa literatura, a exemplo do livro Banguê, do escritor paraibano José Lins do Rego. A referência vem num sentido jocoso, quando o coronel Zé Paulino, percebendo que o rebento, seu neto Carlinhos, não dava para a lida do eito do engenho, diz para ele que o Diário já havia chegado. 

Carlinhos passava as manhãs pensando no "futuro" do Santa Rosa deitado numa rede e lendo o Diário de Pernambuco. Um grande amigo de José Lins, o antropólogo pernambucano Gilberto Freyre, tem uma história profundamente afetiva com o Diário de Pernambuco. Foi um colaborador assíduo daquele jornal, publicando artigos com regularidade, atividade que não interrompeu nem quando esteve nos Estados Unidos, realizando uma temporada de estudos. De lá ele plantou as sementes do seu regionalismo, traduzido, em parte no O Livro do Nordeste, quando reuniu artistas, escritores e intelectuais para produzirem artigos analisando alguns aspectos da região, por ocasião do centenário do jornal. 

Segundo registros, foi o primeiro livro organizado no país, identificando em Gilberto um grande pioneirismo em várias áreas do conhecimento, inclusive em seus métodos de pesquisas ecléticos, transgressores, exclusivos, quando muito mitigados. Esta característica ele demonstraria desde a infância, quando insistia em desfigurar os rostos dos quadros que pintava sob a supervisão de Teles. E, por falar em pioneirismo, não é pequena a inserção do sociólogo com a imprensa, a começar pela experiência de A Província. Gilberto chegou a dirigir o Diário de Pernambuco, onde lapidou um grupo seleto de gente boa de pena, a exemplo do jornalista Aníbal Fernandes. Trata-se de um dos período mais turbulentos do jornal, período da ditadura do Estado Novo, quando o jornal fechava as trincheiras contra o interventor Agamenon Magalhães.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Editorial: Cícero janta com Dirceu. Vem novidade por aí?


Foi muito feliz a raposa da política mineira, Magalhães Pinto, quando afirmou que política é como as nuvens, ou seja, muda repentinamente. Até recentemente, um senador paraibano, que luta por sua reeleição em 2026, corria o risco de ser rifado pelo Planalto, em razão das articulações de Lula com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, que implicariam em apoiar um nome ligado ao parlamentar paraibano para concorrer ao Senado Federal. Seria injusto, uma vez que o cidadão tem demonstrado um comportamento exemplar em relação ao Governo Lula 3, pautando suas ações  orientadas pela bússola governista. O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, hoje no MDB, que já esteve ao lado do governador João Azevedo, uma vez preterido como candidato, rompeu com o grupo, embora afirmasse, surpreendentemente, que continuaria apoiando o projeto de eleição do governador ao Senado Federal. 

Uma incongruência que ele acabou admitindo recentemente, afirmando que sua obrigação é com os senadores que deverão concorrer em sua chapa para disputar o voto eleitores rumo ao Palácio Redenção. O político mais "manhoso" da Paraíba vem entabulando conversas com o PT. Esteve com Edinho Silva, Presidente Nacional do partido, e, ontem, dia 06, jantou com a eminência parda do partido, José Dirceu. Na agenda, um eventual apoio do PT ao seu projeto de se eleger governador do estado, em 2026. Essas costuras políticas têm avançado, até porque conta com o aval do MDB local, afinado com a ala do partido que se inclina a apoiar o projeto de reeleição de Lula em 2026. 

Embora tenha demonstrado uma inclinação natural em apoio à chapa que está sendo montada por João Azevedo, Cida Ramos, que o dirige o Diretório Estadual do PT na Paraíba, já afirmou que as portas não estão fechadas para uma negociação política com o prefeito da capital. O prefeito que goza de um capital político nada desprezível, que vai de uma extremo ao outro do espectro ideológico, monta uma chapa competitiva e lidera todas as pesquisas de intenção de votos realizadas até este momento. 

Editorial: Macron tem dia de pop-star na Bahia.



Há alguns dias, por um desses mal-entendidos, estabeleceu-se uma ligeira discussão nas redes sociais entre este editor e alguns mineiros. O mal-entendido se deu em razão de uma eventual visita do filósofo francês, Michel Foucault, ao estado, tendo, inclusive, visitado a cidade histórica de Ouro Preto, além de ministrar uma palestra na Universidade Federal. Consideramos o fato inusitado - pelo menos para mim - em razão de ter lido livros escritos tratando exatamente das visitas do filósofo francês ao país, onde não encontramos nenhuma referência à sua passagem por Minas Gerais. A simples relação a este fato sugeriu que estivéssemos duvidando das afirmações da postagem, o que gerou muitos comentários de contraposição, todos respondidos dentro da mais absoluta urbanidade por este editor, que apenas estranhou o fato e não teve o propósito de desacreditá-lo.  

Há elementos que dizem que sim, o que significa que pode ter havido algum lapso dos pesquisadores que se debruçaram sobre o assunto. Há, por outro lado, muita referências à passagem de outro filósofo francês por Outro Preto, o existencialista Jean-Paul Sartre. Foucault esteve no Pará, onde agora se realiza a COP30, na Bahia, no Rio de Janeiro, no Recife e em São Paulo. No Rio de Janeiro criou vínculos fortes com a academia. O Recife talvez tenha sido a visita mais traumática, uma vez que ocorreu na década de 70, no epicentro da repressão militar no país. Quem salvou esta visita foi a grande professora Silker Weber, que ainda o conduziu a Itamaracá, Igarassu, ao Alto da Sé, em Olinda, e, finalmente à Casa da Cultura, o espaço que ele mais gostou, por razões óbvias. No passado, onde hoje funciona a Casa da Cultura, já funcionou a Casa de Detenção do Recife.  

Na Bahia ele foi por duas vezes. Uma em caráter mais formal e outra visita mais pessoal, tratada com chacota por uma revista de circulação nacional à época. Ao observar o sucesso da visita do presidente da França, Emanuel Macron, à Salvador essas memórias vieram à tona. Macron veio ao Brasil para a abertura do Festival Nosso Futuro Brasil-França. Macron está fazendo uma verdadeira imersão na cultura baiana. Tocou no Olodum, comeu acarajé e, principalmente, sentiu o calor humano dos baianos, algo que deve tê-lo deixado surpreso, se considerarmos a frieza dos franceses. 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Editorial: O Plano Piloto antifacção do Governo Lula no Rio Grande do Norte.



Em épocas passadas, o estado do Rio de Janeiro implementou, em áreas sob o domínio de facções e milícias, as chamadas UPP's, à época, um projeto inovador de retomada de territórios e presença do Estado nessas áreas conflagradas. O projeto, festejado em sua fase inicial, foi extinto de forma melancólica,  carregando o ônus do cadáver de um homem inocente, morto sob tortura em suas dependências, o humilde pedreiro Amarildo. Várias análises, inclusive no âmbito da academia, foram produzidas para tentar explicar as razões do malogro dessa experiência. Há um consenso de que o principal problema é que, do ponto de vista jurídico e social, o Estado permaneceu ausente, assegurando, tão somente, a presença da força policial, em alguns casos, mancomunadas com grupos milicianos. 

O Ministério da Justiça, comandado pelo ex-Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, concebeu um plano de retomada de ocupação dos territórios sob o controle de grupos faccionados. O plano piloto esta sendo implantado em região da periferia de Natal, no Rio Grande do Norte. Com dificuldades de diálogo com entes federados quando o assunto é segurança pública, o Governo Federal encontrou na governadora Fátima Bezerra(PT-RN), uma aliada disposta a servir de incubadora para o projeto. Como se trata de um trabalho que envolve um alto serviço de inteligência, naturalmente, dados mais precisos não são revelados. Isso deverá ocorrer em breve, talvez até estimulada pela abertura dos trabalhos da CPI do Crime Organizado

Compelido, apanhando nas cordas, o Governo Lula 3, inexoravelmente, vai precisar dizer o que está fazendo em relação ao assunto. Infelizmente, não conhecemos o projeto em sua inteireza, mas há dois indicadores animadores: a retomada do território por forças policiais e os serviços de inteligência e, depois, um arrojado programa de assistência social e jurídica à população local, com a gradativa normalização dos trabalhos de segurança pública por forças convencionais, de caráter não ostensivo. Aqui em Pernambuco, tivemos alguns avanços na área de segurança pública com o projeto Pacto pela Vida. Por razões ideológicas, os programas sucessores deixaram de considerar a expertise adquirida. Com o apoio da USP, o projeto ora implementado no Rio Grande do Norte sugere ter sido orientado, inclusive, pelas fragilidades da UPP's. A foto acima é da Avenida Baía dos Golfinhos, a principal do badalado balneário de Pipa. Por que escolhemos essa foto? É que, segundo uma longa matéria da BBC, este reduto está sob o controle de grupos faccionados. Até recentemente, três pessoas foram assassinadas nesta rua, em plana luz do dia. 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Crônica: O Recife de Paulo Fernando Craveiro II



Hoje, logo cedinho, os correios - apesar das críticas e dos problemas que enfrenta - nos reservou uma bela surpresa. Um pacote de crônicas, escritas por dois monstros. Um paraibano, Paulo Fernando Craveiro - paraibano de pernambucano, é bem verdade -, e o papa capixaba, Rubem Braga. Difícil mesmo foi definir quem iríamos ler primeiro. Mas, sobretudo em razão de um projeto que desenvolvemos com o comendador Arnaldo, optamos por começar a leitura dessas crônicas pelo livro Prefácio do Recife, de Paulo Fernando Craveiro. Aliás, nossa relação com as crônicas do jornalista e escritor Paulo Fernando Craveiro é antiga, desde os tempos em que ele as publicava nos jornais recifenses. Um deleite ler essas crônicas sobre o Recife, sua história, suas ruas, seus bairros, sua gente, seus poetas, seus mangues, seus cajueiros. Ah! Os cajueiros do Recife, pelos quais o cronista era um apaixonado, colocando suas flores no mesmo patamar das famosas flores das plantas de Sevilha, na Espanha. De um tempo, Mauro Mota, onde se podia apreciá-los ainda num tom amarelado.

Há um tratamento especial do autor ao Rio Capibaribe, descrevendo sua trajetória até chegar à província, para molhar a cidade, entrando ali pelo bairro de Tejipió. Para a população ribeirinha, dos bairros alagados, o rio também chega para alimentá-la, fornecendo caranguejos, goiamuns, mariscos e crustáceos, que eles recolhem para o seu sustento. Craveiro é um cronista dotado de uma grande sensibilidade social. Descreve a miséria e a exclusão da população recifense com poesia, não permitindo que tais revelações comprometam sua narrativa, mas nos alerta para os problemas de uma grande cidade, com seus moradores de rua, seus ambulantes, ladrões, cheira-colas, putas e degredados de toda as espécies, Michel Foucault. Este é Recife de Paulo Fernando Craveiro, da Ponte Velha, das palafitas do Pina, do bairro de São José, da Rua da Harmonia, da Saudade, da Concórdia que, naqueles tempos, a população ainda mantinha o hábito de conversar sobre a vida alheia nas calçadas, no final de tarde. Bons tempos aqueles, diriam as fofoqueiras contumazes.

Em razão de suas atividades profissionais, Craveiro viajou bastante. Conheceu muito países, mas não esconde sua alegria ao retornar ao Recife, contemplar as flores do seu jardim, os cajueiros do quintal, ali na Rua São Salvador, no bairro do Espinheiro que, segundo ele, tinha um brilho todo especial. Há algumas décadas atrás, o bairro do Espinheiro era o bairro dos endinheirados do Recife. A leitura do livro do cronista nos proporcionaram a oportunidade de escrever bastante sobre o Recife, algo que devo compartilhar com os leitores daqui para frente, através deste espaço. Craveiro chegou ao Recife com apenas três meses de idade. A rigor, a rigor, é um recifense. Confidencia que uma de suas alegrias de infância era embrenhar-se pelos mangues do bairro do Derby, banhado pelas águas do Capibaribe, depois das aulas, para capturar goiamuns e caranguejos, numa atividade pouco comum aos bem-nascidos, mas que deveria proporcionar alegrias indescritíveis ao cronista.

As crônicas de Craveiro nos revelam gratas surpresas, como a Mulher Deitada que ele encontrou ali no bairro de Casa Amarela. Craveiro descreve o Recife visto das suas pontes, pela lente dos seus poetas, como Carlos Pena Filho, Ascenso Ferreira, João Cabral de Mello Neto, Mauro Mota, Joaquim Cardozo. Um Recife molhado pelas chuvas de agosto; observado de uma varanda de um quinto andar de um prédio; da praia de Boa Viagem, uma das poucas referências em crônica que também escreveu quando esteve por aqui, o Sabiá. Só se escreve quando se lê e, ao que presumimos, Paulo lia bastante sobre o Recife. Mas não basta apenas ler, no caso de uma cidade, é preciso senti-la, passeá-la, examiná-la, comê-la em distintos momentos, para saber como ela reage de dia, de noite, madrugada adentro, em seus redutos de boemia. Craveiro cumpriu fielmente este rito. A melhor descrição do modo de vida da população dos mangues do Recife não está em Josué de Castro, mas no Moleque Ricardo, porque o seu autor, José Lins do Rego, conhecia muito bem o Recife, em suas andanças com o amigo sociólogo Gilberto Freyre.

P.S.: Contexto Político: Já comentamos este fato por aqui. Não é incomum, por alguma razão, algumas de nossas crônicas, publicadas em tempos idos, provocarem centenas de acessos novos. Hoje foi o dia de uma dessas crônicas, que dedicamos ao paraibano pernambucano Paulo Fernando Craveiro. Paulo, possivelmente, foi, ao lado de Rubem Braga, nossos dois grandes mestres neste assunto. Suas crônicas era a nossa primeira leitura do antigo Diário da Noite, que chegava às ruas do Recife colorido de vermelho e com cheiro de tinta fresca. Bons tempos aqueles. Nossa torcida é que essas crônicas estejam ajudando alunos em salas de aulas, com a prestimosa colaboração de abnegados professores. Ficaremos muito agradecidos. Sempre que esses "fenômenos" ocorrem, costumamos realizar uma revisão do texto à procura daqueles equívocos que sempre deixamos passar. Não gostamos muito do final da crônica, onde talvez tivéssemos sido injusto com o grande sociólogo Josué de Castro, uma das personalidades que mais admiramos. É que acabamos por concluir que o escritor paraibano, José Lins do Rego, com o seu romance O Moleque Ricardo, talvez descreva melhor as palafitas e os mangues do Recife do que o sociólogo. Há um exagero aqui, embora a descrição seja soberba. Aliás, para quem considera que a influência literária do sociólogo Gilberto Freyre sobre José Lins do Rego seja menor, convém reconsiderar as suas posições. Recentemente liamos um texto acadêmico onde se invocava as reticências do sociólogo sobre o processo de industrialização, em contraposição à economia colonial. É praticamente o enredo do livro de José Lins do Rego. Uma descoberta e tanto. Por outro lado, sem o processo de recifensização, jamais José Lins do Rego poderia descrever o Recife dos mangues e dos alagados com tanta maestria.  

Editorial: O cerco contra o crime organizado.


No dia ontem, 05, foi instaurada no Senado Federal a CPI que deve investigar a atuação do crime organizado no país. Os trabalhos devem ser presididos pelo senador Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo, em tese, um aliado do Governo. A relatoria ficará sob a incumbência do senador do Estado de Sergipe, Alessandro Vieira, do MDB. Ambos são oriundos da Polícia Civil, o que deve emprestar muito profissionalismo à condução dos trabalhos. O Governo Lula 3 segue uma linha mais moderada, mas a Oposição pretende endurecer o jogo contra as facções, classificando-as como grupos terroristas, o que abre alguns precedentes perigosos, conforme alertamos no dia de ontem. 

Não deve ser mera coincidência que, logo após a Operação Contenção, realizada pela Polícia Civil e Militar do Rio de Janeiro no complexo de favelas da Penha e do Alemão, as polícias do estado da Bahia e do Ceará também realizaram mega operações contra o crime organizado. Na Bahia, trinta integrantes do CV foram presos, enquanto 07 deles morreram no interior do Ceará, depois de confronto com forças policiais. O Governo Lula desenvolve um projeto piloto no Rio Grande do Norte, que objetiva a recuperação dos territórios sob o domínio do crime organizado. Podemos estar enganados, mas além de Pernambuco e Paraíba, O Rio Grande do Norte é o ente federado que mais se aproxima daquela situação limite, a exemplo da Bahia e do Ceará. Isso considerando apenas os estados da Região Nordeste, uma  vez que situação assim podem ser encontradas em outras regiões do país, a exemplo da região Norte, onde se realiza a COP30

Diante do quadro de divergências entre a União e os entes federados acerca da questão de segurança pública, não se constitui nenhuma surpresa que o plano piloto concebido pela pasta comandada pelo ex-Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, tenha encontrado guarida apenas nos rincões do Rio Grande do Norte. Sugere-se que, em breve, o Governo deverá estar apresentando os resultados do trabalho desenvolvido naquele estado. Lewandowski, possivelmente, será um dos convidados da CPI do Crime Organizado. Na oportunidade, poderá explicar o andamento de tal projeto. 


terça-feira, 4 de novembro de 2025

Editorial: Fabiano Contarato presidirá CPI do Crime Organizado.



A presidência desta CPI poderia ter caído nas mãos da Oposição, com a indicação do general Hamilton Mourão para condução dos trabalhos no Senado Federal. Numa votação apertada, o senador Fabiano Contarato, foi indicado para a sua presidência, tendo como relator o senador Alessandro Vieira, do MDB de Sergipe. Um governista na presidência e um moderado na relatoria, o que pode ser considerado uma vitória do Governo. Preocupa bastante o Governo Lula 3, esta agenda de segurança pública discutida pela Oposição no Legislativo, sobretudo pelo precedente perigoso de se classificar as ações do crime organizado como atos terroristas, o que facultaria intervenções indesejadas dos Estados Unidos em nossos assuntos internos. Os Estados Unidos já pediram, inclusive, que o Governo Lula classifique o CV e o PCC como grupos terroristas. 

Agindo numa direção oposta ao Governo, é exatamente isso o que está motivando o Governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, a estabelecer contatos com os Estados Unidos no sentido de identificar o Comando Vermelho como uma facção terrorista. Na outra margem do rio, Lula acaba de declarar que pretende que a Polícia Federal tenha acesso às perícias realizadas, concluindo que o que houve recentemente no Rio de Janeiro, mais precisamente no complexo de favelas do Alemão e da Penha, foi uma matança. Gostamos bastante do resultado dos trabalho da manhã de hoje no Senado Federal, onde foi instaurada a CPI do Crime Organizado. Há uma série de requerimentos já aprovados, prevendo audiências, com especialistas no assunto, repórteres investigativos, gente da área de segurança pública e autoridades de estado. 

1\4 da população do país já vive sob o domínio do crime organizado. Na esteira dessas duas grandes facções, com atuação internacional, já surgiram outras tantas por todo o país, que agem articuladas ou independentemente, travando guerras sangrentas por territórios. Não faz muito tempo, no badalado balneário de Pipa, no Rio Grande do Norte, na rua Enseada dos Golfinhos, a principal do lugarejo, três pessoas foram assassinadas em plena luz do dia. Briga de facções, segundo apurou a polícia. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Editorial: O "vácuo" da insegurança pública muito bem explorado pelo governador Cláudio Castro.


Pesquisas de institutos como o Datafolha e o Quaest\Genial aferiram aquilo que as ruas já haviam demonstrado acerca da opinião da população sobre a megaoperação realizada no complexo de favelas do Alemão e Penha, onde 121 pessoas foram mortas, inclusive quatro policiais, ou seja, insegura e com medo, a maioria da população carioca apoiou a chacina, alavancando a melhoria dos índices de popularidade do governador Cláudio Castro(PL-RJ). Somente na Quaest\Genial, ele obteve um expressivo aumento de dez pontos em seus índices, ou seja, saiu de 43% para 53%. Algo repentino, do dia para a noite, o que não é muito comum. Basta considerarmos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem revertendo seus índices negativos de popularidade, ou seja, um pontinho suado a cada nova pesquisa, em alguns casos ainda dentro da margem de erro. 

Cláudio Castro vem cumprindo um script milimetricamente pensado. Vai liberar R$ 31 milhões em equipamentos para o BOPE, aumentou a gratificação dos policiais que atuam naquele batalhão de polícia especializada, visitou a sede do órgão e os enfermos que se encontram hospitalizados. Na missa do dia de finados, foi aplaudido de pé pelos presentes. Melhorou  sensivelmente sua presença nas redes sociais. O mais estratégico da narrativa que está sendo construída pelo governador, no entanto, diz respeito ao fato de ele ter agido no vácuo deixado pelo Governo Federal, que não tomou iniciativa e tampouco o ajudou na missão nas favelas. 

"Se não for para somar, suma". Este bem poderia ser o lema das ações de segurança pública encetadas pelo governo carioca daqui para a frente, fazendo questão de reafirmar que ele age, enquanto o Governo Federal tem sido reticente. Difícil saber se tal narrativa já estava sendo pensada antes das ações nas favelas da Penha e do Alemão, mas o fato é que ele percebeu este vácuo, de forte apelo popular, angariando o apoio de parcela da população; da corporação policial; de governadores da oposição; dos segmentos mais conservadores do resto do país.  

domingo, 2 de novembro de 2025

Editorial: Alexandre de Moraes determina que o Governo do Rio preserve todas as informações sobre as ações no Complexos do Alemão e Penha



O governador Cláudio Castro não se cansa de afirmar que a Operação Contenção, realizada pela polícias civil e militar no Complexo de favelas do Alemão e da Penha, foi um grande "sucesso". Em vídeo recente, ele aparece em no quartel-general do BOPE, se solidarizando com os familiares dos dois integrantes da tropa morto durante o confronto, prometendo maiores verbas e aumento de salário para o batalhão especializado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, uma tropa de elite que se configura entre as melhores forças especiais do mundo. Há pouco ficamos sabendo que o Ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que todas as informações sobre as ações policiais nas duas favelas sejam rigorosamente preservadas. Inclusive as perícias realizadas nos corpos. 

Há quem tema algumas dessas anotações recolhidas, principalmente as planilhas encontradas na posse dos traficantes, mas isso já seria um outra discussão. Discussão das mais polêmicas, a começar pelo que vem sendo divulgado por alguns canais de comunicação, onde se revela o verdadeiro objetivo da operação, ou seja, impedir o avanço territorial do Comando Vermelho sobre áreas controladas pelas milícias. Talvez o governador considere a morte de traficantes ou a apreensão de armas como um indicador do sucesso da operação. Há de se considerar que, noutras ocasiões, quando o planejamento das operações não previam o chamado "Muro do BOPE", de fato, a mata era uma rota de fuga entre o Complexo da Penha para o Complexo de favelas do Alemão. Desta vez os traficantes foram emboscados. 

Um grande mistério é como o BOPE foi plantado naquela área, uma vez que se presume que eles estavam ali muito antes do início da operação de asfalto, liderado pela Batalhão de Choque e o CORE, da Polícia Civil. Neste aspecto, não se pode minimizar o êxito estratégico da operação. Pouco tempo depois, ocorre a morte de 07 integrantes do Comando Vermelho, desta dez no Ceará, em confronto com a Polícia Militar do Estado, que se tornou uma das mais letais do país. Por razões óbvias, onde o crime organizado avança, a tendência é uma ação mais efetiva das forças de segurança do Estado, determinando o resultado desses índices. A maior taxa de letalidade entre as polícias do país está na Bahia. 

Charge! Angeli!


 

sábado, 1 de novembro de 2025

Editorial: A bukelização do Brasil?


Hoje, dia primeiro, saiu o resultado de uma pesquisa realizado pelo Datafolha, publicada no jornal do grupo, a Folha de São Paulo, que aponta que 57% da população carioca apoiou a megaoperação realizada pelas forças de segurança do Estado no complexo de favelas do Alemão e da Penha. Apenas 39% da população criticou a operação. Haveria uma outra pesquisa - esta sem informações mais precisas - indicando que 88% da população residente nessas favelas aprovaram as medidas tomadas pelo Governo do Estado. Nem precisava que tais pesquisas fossem divulgadas para entendermos este fenômeno, materializado pela recuperação repentina de popularidade do governador Cláudio Castro, que ganhou meio milhão de seguidores em suas redes sociais após a operação. 

Ontem, dia 31, a Polícia Militar do Ceará, em confronto com possíveis traficantes, acabou matando sete deles. A COP30 será realizada no Pará num momento muito delicado, quando explodem as índices de violência naquele estado da Federação. Nove governadores de oposição emprestaram solidariedade às ações do Governo do Rio de Janeiro e estão propondo um pacto para ações conjuntos de enfrentamento ao crime organizado, o que seria denominado de "Consórcio da Paz". Desde algum tempo que eles resolveram estabelecer diretrizes de segurança pública em conjunto, dissociadas das políticas de segurança pública emanadas da União. Aliás, o SUS da Segurança praticamente morreu na origem, ao propor a centralização dessas políticas pela União. 

Com o verdadeiro colapso de segurança observado em relação a alguns entes federados, o Brasil pode caminhar para um processo de bukelização, numa alusão ao presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que resolveu a questão da segurança pública naquele país decretando estado de exceção, violando direitos humanos básicos e encarcerando os integrantes das gangues do país numa mega prisão, o CECOT, Centro de Confinamento do Terrorismo. Bukeke, inclusive, tem se pronunciado bastante sobre a situação no Brasil, argumentando que o país não combate o crime organizado porque o crime organizado está no aparelho de Estado. 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Editorial: Alexandre de Moraes pede explicações a Cláudio Castro.


Dizem que a popularidade de Cláudio Castro(PL-RJ)não estava muito bem antes da Operação Contenção, a mais letal operação realizada pela polícia do Rio de Janeiro, que resultou na morte de 132 pessoas, entre os quais dois policiais militares e dois policiais civis. As controvérsias em torno do assunto são inúmeras, algumas previsíveis, como a dissonância entre o Governo Federal e o Governo Estadual no que concerne ao combate ao crime organizado. Para o Governo Federal, as ações são de responsabilidade do estado do Rio de Janeiro, enquanto Cláudio Castro afirma que agiu sozinho exatamente pela ausência de apoio do Governo Lula. Já estava exaurido em pedir tal apoio.  

O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, tem agenda com o governador Cláudio Castro, que, simbolicamente, já antecipou que receberá o ministro no quartel-general das operações contra o crime organizado. Cláudio Castro mostra-se magoado pelo fato de não ter recebido qualquer apoio por parte do Governo Federal. Na realidade, há várias entidades preocupadas com a ocorrência, pedindo explicações ao Governo do Rio de Janeiro. Entidades reclamam que não tiveram acesso às perícias realizadas nos corpos, já em fase de conclusão. Está tudo muito turvo, portanto. O governador informa que as operações apenas se encerram depois da captura de Doca, um dos chefes do Comando Vermelho, que se encontra foragido. 

Doca é paraibano, mas, assim como ele, outras tantas lideranças do Comando Vermelho se encontravam abrigadas nas favelas da Penha e do Alemão, uma espécie de quartel-general do CV. Havia dois pernambucanos no grupo capturado pela forças policiais. Essas hospedagens é mais uma das formas de negócio do grupo. Corremos o sério risco de uma nova carnificina. O pior é que, segundo algumas enquetes realizadas e a repercussão "positiva" nas redes sociais, talvez em razão do calor do momento, haveria um certo estímulo às ações desta natureza. A narrativa de que bandido bom é bandido morto já vem sendo construída há algum tempo e está enraizada no imaginário de alguns segmentos populares, que acabam apoiando tais iniciativas.  

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Editorial: O fosso(ou vala?) das políticas de segurança pública entre a União e os Estados.



Esses espaços de editoriais são insuficientes para darmos conta de toda a complexidade que envolve a atuação do crime organizado no país. Já havíamos antecipado, no entanto, que dificilmente se construiria um consenso mínimo entre a União e os entes federados em torno das políticas de segurança pública. O governador Cláudio Castro(PL-RJ) está fora de si. Não seria possível que alguém, principalmente ocupando o cargo que ocupa, com as imensas responsabilidades de ofício se comportasse como ele vem se comportando, comemorando os "feitos", sugerindo que novas ações estão em planejamento, rindo ao se dirigir à Polícia Militar de Goiás. O mínimo que se esperava dele era a preocupação com os fatos graves ocorridos ou, ao menos, a liturgia do cargo. Sugere-se que ele não está bem. Há várias hipóteses para isso, mas não vamos aqui entrar nas minúcias. 

Sete governadores de oposição já externaram sua solidariedade ao governador Cláudio Castro, ampliando o fosso entre União e entes federados sobre políticas de segurança pública no país. A tragédia da morte de 132 pessoas, entre supostos traficantes e policiais, talvez seja o epicentro deste hiato, inclusive reanimando a agenda da oposição no Legislativo, como a abertura dos trabalhos da CPI sobre o crime organizado, assim como a PEC do Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, que qualifica traficantes como terroristas, ampliando suas penas. Derrite pode até se licenciar temporariamente para dá fôlego à PEC. A proposta do Governo Federal praticamente morreu na origem, ao propor a centralização das políticas de combate ao crime organizado no país. Por outro lado, por razões óbvias, dificilmente o Governo voltará atrás neste quesito. 

Principalmente num ano eleitoral, quando se sabe que alguns desses governadores pleiteiam a cadeira do Palácio do Planalto a partir de 2026 e sabem que segurança pública é o Calcanhar de Aquiles do Governo Lula 3. O Governo pode ter outros, mas nenhum com o potencial de preocupar tanto a população. Em alguns estados da federação, principalmente Bahia e Ceará, assim como ocorre no Rio, quando os traficantes já controlam 22% do território, facções hoje não se dedicam apenas à comercialização de drogas, mas ao domínio da vida comunitária como um todo, corroendo, inclusive, preceitos democráticos, como ocorreu na última eleição em João Pessoa, quando políticos que não se identificavam com seus interesses foram proibidos de realizar comícios em determinadas localidades. 

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Editorial: O Rio conta os seus mortos.



Autoridades do Governo Federal estarão se reunindo com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, para tratarem da maior e mais letal operação realizada pelos forças policiais em favelas controladas pelo Comando Vermelho. Até o momento, foram registradas 64 mortes, entre as quais 06 integrantes das polícias civil e militar. Hoje, dia 29, o dia seguinte, moradores da Penha expuseram os corpos encontrados na favela, numa cena impactante, como os leitores podem observar na foto acima. Segundo os moradores, trata-se de corpos encontrados nas matas locais, onde se deu o maior confronto entre forças policiais e traficantes. Em entrevista recente, o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, pautou as ações do Governo Federal no que concerne à ajuda ao Governo do Rio de Janeiro, como a atuação da forças policiais federais naquele ente federado, reuniões de trabalho, assim como argumentou que os blindados haviam sido solicitados num outro momento, portanto foram negados na ocasião. 

Vamos ser sinceros e não alimentar grandes expectativas, uma vez que, antecipadamente, já sabemos que eles não irão se entender por aqui. Existe um hiato preocupante entre a União e os entes federados em relação a este assunto. Os entes federados estão colapsando diante do avanço do crime organizado. No Ceará e na Bahia existem áreas onde facções determinaram a saída dos moradores do local. No Ceará, até recentemente, acompanhamos uma cena inusitada, onde a Polícia Militar estava dando suporte aos moradores para deixarem suas casas, quando o correto seria assegurar que eles permanecem em seus imóveis. O mais espantoso é que este conjunto residencial já não seria o único local onde ações do crime organizado determinaram a saída dos moradores. É recorrente, inclusive, o pagamento de taxas por parte dos moradores. Situações assim já foram verificadas em estados como a Paraíba, em bairros periféricos de João Pessoa. 

O mais grave é a dificuldade de construção de consensos sobre Segurança Pública entre a União e os entes federados. Se não houver uma estratégia de ações articuladas dificilmente o problema será equacionado. Na narrativa da oposição e de alguns governadores estaduais o Governo Federal é tratado até mesmo como leniente em relação a este assunto. Existe uma PEC da Segurança que se arrasta no Poder Legislativo sem que Governo e Oposição cheguem a um denominador comum sobre o assunto. Assim não se avança, enquanto o crime organizado se aprimora, amplia seus tentáculos sobre o Estado e a sociedade civil. 

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Editorial: Quantos estados no Brasil já colapsaram no enfrentamento ao crime organizado?



Estamos aqui diante de uma indagação que precisa ser respondida urgentemente, em razão das recentes ocorrências do Rio de Janeiro, quando mobilizações de uma determinada facção pela ampliação de territórios estão colocando em xeque as condições de atuação do Aparelho de Estado neste enfrentamento. Bandidos utilizando-se de instrumentos cada vez mais sofisticados, a exemplo dos drones, enquanto as forças policiais operando em desvantagem crônica. Desta vez os faccionados utilizaram drones para atirarem bombas nos comboios policiais, inclusive resultando na morte de um policial civil e alguns moradores, que pagam um preço altíssimo em razão de residirem nesses ambientes conflagrados. 

Onde seria diferente? No Ceará? Na Bahia? no Pará? Não vamos aqui nem citar outros estados mais conhecidos para evitarmos os melindres. Outro dia, depois de uma megaoperação na cidade de Cabedelo, Região Metropolitana de João Pessoa, um agente de Estado fez questão de enfatizar que aquele balneário está completamente dominado pelo crime organizado. Na ocasião, várias mandados de busca e apreensão foram realizados, inclusive com as costumeiras conexões com o Rio de Janeiro, uma vez que é de lá ou de dentro das unidades prisionais que as ordens são dadas para as operações. 

Caucaia, no Ceará, onde fica localizada a paradisíaca praia de Cumbuco, tornou-se uma das cidades mais violentas do país. O pool turístico de João Pessoa está transformando cidades balneárias do seu entorno, a exemplo do Conde, em perímetros vulneráveis, suscetíveis às ações do crime organizado. Execuções e brigas de facções se tornaram recorrentes naquela cidade. É dramático ouvir as falas de "impotência" externada pelas autoridades de Estado, reconhecendo que não reúnem as condições efetivas de combater a briga de facções que ocorrem nas favelas cariocas. Ontem foi o Secretário de Segurança. Agora é o próprio governador lamentando o fato de haver solicitado blindados às Forças Armadas e não ser atendidos. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Editorial: Hoje é o aniversário de Luiz Inácio Lula da Silva

Reprodução Redes Sociais. 


Lula está retornando ao país, depois de uma visita à Indonésia, com direito a festejos pelo aniversário, recebimento de título de Doutor Honoris Causa e, principalmente, entabular as primeiras conversas com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Por mais incrível que possa parecer e contrariando, em tese, nossos prognósticos, há uma possibilidade concreta de normalização das tarifas aplicadas aos nossos produtos de exportação. Num lance curioso, o presidente Donald Trump demonstrou boa vontade com o Brasil. Isso é muito bom e era semprte o que se esperava, embora as perspectivas do enrosco diplomático que havia sido alimentado pudesse indicar o contrário. O situação do ex-presidente Jair Bolsonaro entrou no diálogo estabelecido entre ambos, mas, como disse o presidente Lula posteriormente, trata-se de coisa do passado. Acabou. 

Inclusive a grande temeridade dos bolsonaristas no momento é que ele possa ser preso nos próximos dias, esgotadas as fases dos recursos. Os bolsonaristas, naturalmente, apostavam no azedume dessa relação entre Lula e Donald Trump. O presidente Lula está completando 80 anos de idade no dia de hoje e disposto a disputar mais um mandato presidencial. Na nossa opinião, deveria se recolher aos aposentos e aproveitar aqueles impagáveis momentos de paz, mas, pelo andar da carruagem política, o petista só larga o poder quando morrer. O momento de aventar uma nova disputa, que estava completamente turvo há alguns meses, voltou a desanuviar. 

As hordas de extrema direita continuam reproduzindo a fala infeliz de Lula, quando se referiu aos traficantes de drogas. Isso pega feito visgo de jaca mole. Vai render durante os trabalhos no Legislativo e, possivelmente, tem fôlego até às próximas eleições de outubro, principalmente quando se sabe que segurança pública será o grande tema dos debates entre os postulantes ao Palácio do Planalto, em 2026. É o tipo de fala que, ao se tentar recompor, amplifica ainda mais os seus efeitos negativos. Um escorregão sem conserto. Feliz aniversário, Lula.