pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Crônica: O Recife de Paulo Fernando Craveiro II



Hoje, logo cedinho, os correios - apesar das críticas e dos problemas que enfrenta - nos reservou uma bela surpresa. Um pacote de crônicas, escritas por dois monstros. Um paraibano, Paulo Fernando Craveiro - paraibano de pernambucano, é bem verdade -, e o papa capixaba, Rubem Braga. Difícil mesmo foi definir quem iríamos ler primeiro. Mas, sobretudo em razão de um projeto que desenvolvemos com o comendador Arnaldo, optamos por começar a leitura dessas crônicas pelo livro Prefácio do Recife, de Paulo Fernando Craveiro. Aliás, nossa relação com as crônicas do jornalista e escritor Paulo Fernando Craveiro é antiga, desde os tempos em que ele as publicava nos jornais recifenses. Um deleite ler essas crônicas sobre o Recife, sua história, suas ruas, seus bairros, sua gente, seus poetas, seus mangues, seus cajueiros. Ah! Os cajueiros do Recife, pelos quais o cronista era um apaixonado, colocando suas flores no mesmo patamar das famosas flores das plantas de Sevilha, na Espanha. De um tempo, Mauro Mota, onde se podia apreciá-los ainda num tom amarelado.

Há um tratamento especial do autor ao Rio Capibaribe, descrevendo sua trajetória até chegar à província, para molhar a cidade, entrando ali pelo bairro de Tejipió. Para a população ribeirinha, dos bairros alagados, o rio também chega para alimentá-la, fornecendo caranguejos, goiamuns, mariscos e crustáceos, que eles recolhem para o seu sustento. Craveiro é um cronista dotado de uma grande sensibilidade social. Descreve a miséria e a exclusão da população recifense com poesia, não permitindo que tais revelações comprometam sua narrativa, mas nos alerta para os problemas de uma grande cidade, com seus moradores de rua, seus ambulantes, ladrões, cheira-colas, putas e degredados de toda as espécies, Michel Foucault. Este é Recife de Paulo Fernando Craveiro, da Ponte Velha, das palafitas do Pina, do bairro de São José, da Rua da Harmonia, da Saudade, da Concórdia que, naqueles tempos, a população ainda mantinha o hábito de conversar sobre a vida alheia nas calçadas, no final de tarde. Bons tempos aqueles, diriam as fofoqueiras contumazes.

Em razão de suas atividades profissionais, Craveiro viajou bastante. Conheceu muito países, mas não esconde sua alegria ao retornar ao Recife, contemplar as flores do seu jardim, os cajueiros do quintal, ali na Rua São Salvador, no bairro do Espinheiro que, segundo ele, tinha um brilho todo especial. Há algumas décadas atrás, o bairro do Espinheiro era o bairro dos endinheirados do Recife. A leitura do livro do cronista nos proporcionaram a oportunidade de escrever bastante sobre o Recife, algo que devo compartilhar com os leitores daqui para frente, através deste espaço. Craveiro chegou ao Recife com apenas três meses de idade. A rigor, a rigor, é um recifense. Confidencia que uma de suas alegrias de infância era embrenhar-se pelos mangues do bairro do Derby, banhado pelas águas do Capibaribe, depois das aulas, para capturar goiamuns e caranguejos, numa atividade pouco comum aos bem-nascidos, mas que deveria proporcionar alegrias indescritíveis ao cronista.

As crônicas de Craveiro nos revelam gratas surpresas, como a Mulher Deitada que ele encontrou ali no bairro de Casa Amarela. Craveiro descreve o Recife visto das suas pontes, pela lente dos seus poetas, como Carlos Pena Filho, Ascenso Ferreira, João Cabral de Mello Neto, Mauro Mota, Joaquim Cardozo. Um Recife molhado pelas chuvas de agosto; observado de uma varanda de um quinto andar de um prédio; da praia de Boa Viagem, uma das poucas referências em crônica que também escreveu quando esteve por aqui, o Sabiá. Só se escreve quando se lê e, ao que presumimos, Paulo lia bastante sobre o Recife. Mas não basta apenas ler, no caso de uma cidade, é preciso senti-la, passeá-la, examiná-la, comê-la em distintos momentos, para saber como ela reage de dia, de noite, madrugada adentro, em seus redutos de boemia. Craveiro cumpriu fielmente este rito. A melhor descrição do modo de vida da população dos mangues do Recife não está em Josué de Castro, mas no Moleque Ricardo, porque o seu autor, José Lins do Rego, conhecia muito bem o Recife, em suas andanças com o amigo sociólogo Gilberto Freyre.

P.S.: Contexto Político: Já comentamos este fato por aqui. Não é incomum, por alguma razão, algumas de nossas crônicas, publicadas em tempos idos, provocarem centenas de acessos novos. Hoje foi o dia de uma dessas crônicas, que dedicamos ao paraibano pernambucano Paulo Fernando Craveiro. Paulo, possivelmente, foi, ao lado de Rubem Braga, nossos dois grandes mestres neste assunto. Suas crônicas era a nossa primeira leitura do antigo Diário da Noite, que chegava às ruas do Recife colorido de vermelho e com cheiro de tinta fresca. Bons tempos aqueles. Nossa torcida é que essas crônicas estejam ajudando alunos em salas de aulas, com a prestimosa colaboração de abnegados professores. Ficaremos muito agradecidos. Sempre que esses "fenômenos" ocorrem, costumamos realizar uma revisão do texto à procura daqueles equívocos que sempre deixamos passar. Não gostamos muito do final da crônica, onde talvez tivéssemos sido injusto com o grande sociólogo Josué de Castro, uma das personalidades que mais admiramos. É que acabamos por concluir que o escritor paraibano, José Lins do Rego, com o seu romance O Moleque Ricardo, talvez descreva melhor as palafitas e os mangues do Recife do que o sociólogo. Há um exagero aqui, embora a descrição seja soberba. Aliás, para quem considera que a influência literária do sociólogo Gilberto Freyre sobre José Lins do Rego seja menor, convém reconsiderar as suas posições. Recentemente liamos um texto acadêmico onde se invocava as reticências do sociólogo sobre o processo de industrialização, em contraposição à economia colonial. É praticamente o enredo do livro de José Lins do Rego. Uma descoberta e tanto. Por outro lado, sem o processo de recifensização, jamais José Lins do Rego poderia descrever o Recife dos mangues e dos alagados com tanta maestria.  

Editorial: O cerco contra o crime organizado.


No dia ontem, 05, foi instaurada no Senado Federal a CPI que deve investigar a atuação do crime organizado no país. Os trabalhos devem ser presididos pelo senador Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo, em tese, um aliado do Governo. A relatoria ficará sob a incumbência do senador do Estado de Sergipe, Alessandro Vieira, do MDB. Ambos são oriundos da Polícia Civil, o que deve emprestar muito profissionalismo à condução dos trabalhos. O Governo Lula 3 segue uma linha mais moderada, mas a Oposição pretende endurecer o jogo contra as facções, classificando-as como grupos terroristas, o que abre alguns precedentes perigosos, conforme alertamos no dia de ontem. 

Não deve ser mera coincidência que, logo após a Operação Contenção, realizada pela Polícia Civil e Militar do Rio de Janeiro no complexo de favelas da Penha e do Alemão, as polícias do estado da Bahia e do Ceará também realizaram mega operações contra o crime organizado. Na Bahia, trinta integrantes do CV foram presos, enquanto 07 deles morreram no interior do Ceará, depois de confronto com forças policiais. O Governo Lula desenvolve um projeto piloto no Rio Grande do Norte, que objetiva a recuperação dos territórios sob o domínio do crime organizado. Podemos estar enganados, mas além de Pernambuco e Paraíba, O Rio Grande do Norte é o ente federado que mais se aproxima daquela situação limite, a exemplo da Bahia e do Ceará. Isso considerando apenas os estados da Região Nordeste, uma  vez que situação assim podem ser encontradas em outras regiões do país, a exemplo da região Norte, onde se realiza a COP30

Diante do quadro de divergências entre a União e os entes federados acerca da questão de segurança pública, não se constitui nenhuma surpresa que o plano piloto concebido pela pasta comandada pelo ex-Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, tenha encontrado guarida apenas nos rincões do Rio Grande do Norte. Sugere-se que, em breve, o Governo deverá estar apresentando os resultados do trabalho desenvolvido naquele estado. Lewandowski, possivelmente, será um dos convidados da CPI do Crime Organizado. Na oportunidade, poderá explicar o andamento de tal projeto. 


terça-feira, 4 de novembro de 2025

Editorial: Fabiano Contarato presidirá CPI do Crime Organizado.



A presidência desta CPI poderia ter caído nas mãos da Oposição, com a indicação do general Hamilton Mourão para condução dos trabalhos no Senado Federal. Numa votação apertada, o senador Fabiano Contarato, foi indicado para a sua presidência, tendo como relator o senador Alessandro Vieira, do MDB de Sergipe. Um governista na presidência e um moderado na relatoria, o que pode ser considerado uma vitória do Governo. Preocupa bastante o Governo Lula 3, esta agenda de segurança pública discutida pela Oposição no Legislativo, sobretudo pelo precedente perigoso de se classificar as ações do crime organizado como atos terroristas, o que facultaria intervenções indesejadas dos Estados Unidos em nossos assuntos internos. Os Estados Unidos já pediram, inclusive, que o Governo Lula classifique o CV e o PCC como grupos terroristas. 

Agindo numa direção oposta ao Governo, é exatamente isso o que está motivando o Governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, a estabelecer contatos com os Estados Unidos no sentido de identificar o Comando Vermelho como uma facção terrorista. Na outra margem do rio, Lula acaba de declarar que pretende que a Polícia Federal tenha acesso às perícias realizadas, concluindo que o que houve recentemente no Rio de Janeiro, mais precisamente no complexo de favelas do Alemão e da Penha, foi uma matança. Gostamos bastante do resultado dos trabalho da manhã de hoje no Senado Federal, onde foi instaurada a CPI do Crime Organizado. Há uma série de requerimentos já aprovados, prevendo audiências, com especialistas no assunto, repórteres investigativos, gente da área de segurança pública e autoridades de estado. 

1\4 da população do país já vive sob o domínio do crime organizado. Na esteira dessas duas grandes facções, com atuação internacional, já surgiram outras tantas por todo o país, que agem articuladas ou independentemente, travando guerras sangrentas por territórios. Não faz muito tempo, no badalado balneário de Pipa, no Rio Grande do Norte, na rua Enseada dos Golfinhos, a principal do lugarejo, três pessoas foram assassinadas em plena luz do dia. Briga de facções, segundo apurou a polícia. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Editorial: O "vácuo" da insegurança pública muito bem explorado pelo governador Cláudio Castro.


Pesquisas de institutos como o Datafolha e o Quaest\Genial aferiram aquilo que as ruas já haviam demonstrado acerca da opinião da população sobre a megaoperação realizada no complexo de favelas do Alemão e Penha, onde 121 pessoas foram mortas, inclusive quatro policiais, ou seja, insegura e com medo, a maioria da população carioca apoiou a chacina, alavancando a melhoria dos índices de popularidade do governador Cláudio Castro(PL-RJ). Somente na Quaest\Genial, ele obteve um expressivo aumento de dez pontos em seus índices, ou seja, saiu de 43% para 53%. Algo repentino, do dia para a noite, o que não é muito comum. Basta considerarmos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem revertendo seus índices negativos de popularidade, ou seja, um pontinho suado a cada nova pesquisa, em alguns casos ainda dentro da margem de erro. 

Cláudio Castro vem cumprindo um script milimetricamente pensado. Vai liberar R$ 31 milhões em equipamentos para o BOPE, aumentou a gratificação dos policiais que atuam naquele batalhão de polícia especializada, visitou a sede do órgão e os enfermos que se encontram hospitalizados. Na missa do dia de finados, foi aplaudido de pé pelos presentes. Melhorou  sensivelmente sua presença nas redes sociais. O mais estratégico da narrativa que está sendo construída pelo governador, no entanto, diz respeito ao fato de ele ter agido no vácuo deixado pelo Governo Federal, que não tomou iniciativa e tampouco o ajudou na missão nas favelas. 

"Se não for para somar, suma". Este bem poderia ser o lema das ações de segurança pública encetadas pelo governo carioca daqui para a frente, fazendo questão de reafirmar que ele age, enquanto o Governo Federal tem sido reticente. Difícil saber se tal narrativa já estava sendo pensada antes das ações nas favelas da Penha e do Alemão, mas o fato é que ele percebeu este vácuo, de forte apelo popular, angariando o apoio de parcela da população; da corporação policial; de governadores da oposição; dos segmentos mais conservadores do resto do país.  

domingo, 2 de novembro de 2025

Editorial: Alexandre de Moraes determina que o Governo do Rio preserve todas as informações sobre as ações no Complexos do Alemão e Penha



O governador Cláudio Castro não se cansa de afirmar que a Operação Contenção, realizada pela polícias civil e militar no Complexo de favelas do Alemão e da Penha, foi um grande "sucesso". Em vídeo recente, ele aparece em no quartel-general do BOPE, se solidarizando com os familiares dos dois integrantes da tropa morto durante o confronto, prometendo maiores verbas e aumento de salário para o batalhão especializado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, uma tropa de elite que se configura entre as melhores forças especiais do mundo. Há pouco ficamos sabendo que o Ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que todas as informações sobre as ações policiais nas duas favelas sejam rigorosamente preservadas. Inclusive as perícias realizadas nos corpos. 

Há quem tema algumas dessas anotações recolhidas, principalmente as planilhas encontradas na posse dos traficantes, mas isso já seria um outra discussão. Discussão das mais polêmicas, a começar pelo que vem sendo divulgado por alguns canais de comunicação, onde se revela o verdadeiro objetivo da operação, ou seja, impedir o avanço territorial do Comando Vermelho sobre áreas controladas pelas milícias. Talvez o governador considere a morte de traficantes ou a apreensão de armas como um indicador do sucesso da operação. Há de se considerar que, noutras ocasiões, quando o planejamento das operações não previam o chamado "Muro do BOPE", de fato, a mata era uma rota de fuga entre o Complexo da Penha para o Complexo de favelas do Alemão. Desta vez os traficantes foram emboscados. 

Um grande mistério é como o BOPE foi plantado naquela área, uma vez que se presume que eles estavam ali muito antes do início da operação de asfalto, liderado pela Batalhão de Choque e o CORE, da Polícia Civil. Neste aspecto, não se pode minimizar o êxito estratégico da operação. Pouco tempo depois, ocorre a morte de 07 integrantes do Comando Vermelho, desta dez no Ceará, em confronto com a Polícia Militar do Estado, que se tornou uma das mais letais do país. Por razões óbvias, onde o crime organizado avança, a tendência é uma ação mais efetiva das forças de segurança do Estado, determinando o resultado desses índices. A maior taxa de letalidade entre as polícias do país está na Bahia. 

Charge! Angeli!


 

sábado, 1 de novembro de 2025

Editorial: A bukelização do Brasil?


Hoje, dia primeiro, saiu o resultado de uma pesquisa realizado pelo Datafolha, publicada no jornal do grupo, a Folha de São Paulo, que aponta que 57% da população carioca apoiou a megaoperação realizada pelas forças de segurança do Estado no complexo de favelas do Alemão e da Penha. Apenas 39% da população criticou a operação. Haveria uma outra pesquisa - esta sem informações mais precisas - indicando que 88% da população residente nessas favelas aprovaram as medidas tomadas pelo Governo do Estado. Nem precisava que tais pesquisas fossem divulgadas para entendermos este fenômeno, materializado pela recuperação repentina de popularidade do governador Cláudio Castro, que ganhou meio milhão de seguidores em suas redes sociais após a operação. 

Ontem, dia 31, a Polícia Militar do Ceará, em confronto com possíveis traficantes, acabou matando sete deles. A COP30 será realizada no Pará num momento muito delicado, quando explodem as índices de violência naquele estado da Federação. Nove governadores de oposição emprestaram solidariedade às ações do Governo do Rio de Janeiro e estão propondo um pacto para ações conjuntos de enfrentamento ao crime organizado, o que seria denominado de "Consórcio da Paz". Desde algum tempo que eles resolveram estabelecer diretrizes de segurança pública em conjunto, dissociadas das políticas de segurança pública emanadas da União. Aliás, o SUS da Segurança praticamente morreu na origem, ao propor a centralização dessas políticas pela União. 

Com o verdadeiro colapso de segurança observado em relação a alguns entes federados, o Brasil pode caminhar para um processo de bukelização, numa alusão ao presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que resolveu a questão da segurança pública naquele país decretando estado de exceção, violando direitos humanos básicos e encarcerando os integrantes das gangues do país numa mega prisão, o CECOT, Centro de Confinamento do Terrorismo. Bukeke, inclusive, tem se pronunciado bastante sobre a situação no Brasil, argumentando que o país não combate o crime organizado porque o crime organizado está no aparelho de Estado. 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Editorial: Alexandre de Moraes pede explicações a Cláudio Castro.


Dizem que a popularidade de Cláudio Castro(PL-RJ)não estava muito bem antes da Operação Contenção, a mais letal operação realizada pela polícia do Rio de Janeiro, que resultou na morte de 132 pessoas, entre os quais dois policiais militares e dois policiais civis. As controvérsias em torno do assunto são inúmeras, algumas previsíveis, como a dissonância entre o Governo Federal e o Governo Estadual no que concerne ao combate ao crime organizado. Para o Governo Federal, as ações são de responsabilidade do estado do Rio de Janeiro, enquanto Cláudio Castro afirma que agiu sozinho exatamente pela ausência de apoio do Governo Lula. Já estava exaurido em pedir tal apoio.  

O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, tem agenda com o governador Cláudio Castro, que, simbolicamente, já antecipou que receberá o ministro no quartel-general das operações contra o crime organizado. Cláudio Castro mostra-se magoado pelo fato de não ter recebido qualquer apoio por parte do Governo Federal. Na realidade, há várias entidades preocupadas com a ocorrência, pedindo explicações ao Governo do Rio de Janeiro. Entidades reclamam que não tiveram acesso às perícias realizadas nos corpos, já em fase de conclusão. Está tudo muito turvo, portanto. O governador informa que as operações apenas se encerram depois da captura de Doca, um dos chefes do Comando Vermelho, que se encontra foragido. 

Doca é paraibano, mas, assim como ele, outras tantas lideranças do Comando Vermelho se encontravam abrigadas nas favelas da Penha e do Alemão, uma espécie de quartel-general do CV. Havia dois pernambucanos no grupo capturado pela forças policiais. Essas hospedagens é mais uma das formas de negócio do grupo. Corremos o sério risco de uma nova carnificina. O pior é que, segundo algumas enquetes realizadas e a repercussão "positiva" nas redes sociais, talvez em razão do calor do momento, haveria um certo estímulo às ações desta natureza. A narrativa de que bandido bom é bandido morto já vem sendo construída há algum tempo e está enraizada no imaginário de alguns segmentos populares, que acabam apoiando tais iniciativas.  

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Editorial: O fosso(ou vala?) das políticas de segurança pública entre a União e os Estados.



Esses espaços de editoriais são insuficientes para darmos conta de toda a complexidade que envolve a atuação do crime organizado no país. Já havíamos antecipado, no entanto, que dificilmente se construiria um consenso mínimo entre a União e os entes federados em torno das políticas de segurança pública. O governador Cláudio Castro(PL-RJ) está fora de si. Não seria possível que alguém, principalmente ocupando o cargo que ocupa, com as imensas responsabilidades de ofício se comportasse como ele vem se comportando, comemorando os "feitos", sugerindo que novas ações estão em planejamento, rindo ao se dirigir à Polícia Militar de Goiás. O mínimo que se esperava dele era a preocupação com os fatos graves ocorridos ou, ao menos, a liturgia do cargo. Sugere-se que ele não está bem. Há várias hipóteses para isso, mas não vamos aqui entrar nas minúcias. 

Sete governadores de oposição já externaram sua solidariedade ao governador Cláudio Castro, ampliando o fosso entre União e entes federados sobre políticas de segurança pública no país. A tragédia da morte de 132 pessoas, entre supostos traficantes e policiais, talvez seja o epicentro deste hiato, inclusive reanimando a agenda da oposição no Legislativo, como a abertura dos trabalhos da CPI sobre o crime organizado, assim como a PEC do Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, que qualifica traficantes como terroristas, ampliando suas penas. Derrite pode até se licenciar temporariamente para dá fôlego à PEC. A proposta do Governo Federal praticamente morreu na origem, ao propor a centralização das políticas de combate ao crime organizado no país. Por outro lado, por razões óbvias, dificilmente o Governo voltará atrás neste quesito. 

Principalmente num ano eleitoral, quando se sabe que alguns desses governadores pleiteiam a cadeira do Palácio do Planalto a partir de 2026 e sabem que segurança pública é o Calcanhar de Aquiles do Governo Lula 3. O Governo pode ter outros, mas nenhum com o potencial de preocupar tanto a população. Em alguns estados da federação, principalmente Bahia e Ceará, assim como ocorre no Rio, quando os traficantes já controlam 22% do território, facções hoje não se dedicam apenas à comercialização de drogas, mas ao domínio da vida comunitária como um todo, corroendo, inclusive, preceitos democráticos, como ocorreu na última eleição em João Pessoa, quando políticos que não se identificavam com seus interesses foram proibidos de realizar comícios em determinadas localidades. 

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Editorial: O Rio conta os seus mortos.



Autoridades do Governo Federal estarão se reunindo com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, para tratarem da maior e mais letal operação realizada pelos forças policiais em favelas controladas pelo Comando Vermelho. Até o momento, foram registradas 64 mortes, entre as quais 06 integrantes das polícias civil e militar. Hoje, dia 29, o dia seguinte, moradores da Penha expuseram os corpos encontrados na favela, numa cena impactante, como os leitores podem observar na foto acima. Segundo os moradores, trata-se de corpos encontrados nas matas locais, onde se deu o maior confronto entre forças policiais e traficantes. Em entrevista recente, o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, pautou as ações do Governo Federal no que concerne à ajuda ao Governo do Rio de Janeiro, como a atuação da forças policiais federais naquele ente federado, reuniões de trabalho, assim como argumentou que os blindados haviam sido solicitados num outro momento, portanto foram negados na ocasião. 

Vamos ser sinceros e não alimentar grandes expectativas, uma vez que, antecipadamente, já sabemos que eles não irão se entender por aqui. Existe um hiato preocupante entre a União e os entes federados em relação a este assunto. Os entes federados estão colapsando diante do avanço do crime organizado. No Ceará e na Bahia existem áreas onde facções determinaram a saída dos moradores do local. No Ceará, até recentemente, acompanhamos uma cena inusitada, onde a Polícia Militar estava dando suporte aos moradores para deixarem suas casas, quando o correto seria assegurar que eles permanecem em seus imóveis. O mais espantoso é que este conjunto residencial já não seria o único local onde ações do crime organizado determinaram a saída dos moradores. É recorrente, inclusive, o pagamento de taxas por parte dos moradores. Situações assim já foram verificadas em estados como a Paraíba, em bairros periféricos de João Pessoa. 

O mais grave é a dificuldade de construção de consensos sobre Segurança Pública entre a União e os entes federados. Se não houver uma estratégia de ações articuladas dificilmente o problema será equacionado. Na narrativa da oposição e de alguns governadores estaduais o Governo Federal é tratado até mesmo como leniente em relação a este assunto. Existe uma PEC da Segurança que se arrasta no Poder Legislativo sem que Governo e Oposição cheguem a um denominador comum sobre o assunto. Assim não se avança, enquanto o crime organizado se aprimora, amplia seus tentáculos sobre o Estado e a sociedade civil. 

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Editorial: Quantos estados no Brasil já colapsaram no enfrentamento ao crime organizado?



Estamos aqui diante de uma indagação que precisa ser respondida urgentemente, em razão das recentes ocorrências do Rio de Janeiro, quando mobilizações de uma determinada facção pela ampliação de territórios estão colocando em xeque as condições de atuação do Aparelho de Estado neste enfrentamento. Bandidos utilizando-se de instrumentos cada vez mais sofisticados, a exemplo dos drones, enquanto as forças policiais operando em desvantagem crônica. Desta vez os faccionados utilizaram drones para atirarem bombas nos comboios policiais, inclusive resultando na morte de um policial civil e alguns moradores, que pagam um preço altíssimo em razão de residirem nesses ambientes conflagrados. 

Onde seria diferente? No Ceará? Na Bahia? no Pará? Não vamos aqui nem citar outros estados mais conhecidos para evitarmos os melindres. Outro dia, depois de uma megaoperação na cidade de Cabedelo, Região Metropolitana de João Pessoa, um agente de Estado fez questão de enfatizar que aquele balneário está completamente dominado pelo crime organizado. Na ocasião, várias mandados de busca e apreensão foram realizados, inclusive com as costumeiras conexões com o Rio de Janeiro, uma vez que é de lá ou de dentro das unidades prisionais que as ordens são dadas para as operações. 

Caucaia, no Ceará, onde fica localizada a paradisíaca praia de Cumbuco, tornou-se uma das cidades mais violentas do país. O pool turístico de João Pessoa está transformando cidades balneárias do seu entorno, a exemplo do Conde, em perímetros vulneráveis, suscetíveis às ações do crime organizado. Execuções e brigas de facções se tornaram recorrentes naquela cidade. É dramático ouvir as falas de "impotência" externada pelas autoridades de Estado, reconhecendo que não reúnem as condições efetivas de combater a briga de facções que ocorrem nas favelas cariocas. Ontem foi o Secretário de Segurança. Agora é o próprio governador lamentando o fato de haver solicitado blindados às Forças Armadas e não ser atendidos. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Editorial: Hoje é o aniversário de Luiz Inácio Lula da Silva

Reprodução Redes Sociais. 


Lula está retornando ao país, depois de uma visita à Indonésia, com direito a festejos pelo aniversário, recebimento de título de Doutor Honoris Causa e, principalmente, entabular as primeiras conversas com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Por mais incrível que possa parecer e contrariando, em tese, nossos prognósticos, há uma possibilidade concreta de normalização das tarifas aplicadas aos nossos produtos de exportação. Num lance curioso, o presidente Donald Trump demonstrou boa vontade com o Brasil. Isso é muito bom e era semprte o que se esperava, embora as perspectivas do enrosco diplomático que havia sido alimentado pudesse indicar o contrário. O situação do ex-presidente Jair Bolsonaro entrou no diálogo estabelecido entre ambos, mas, como disse o presidente Lula posteriormente, trata-se de coisa do passado. Acabou. 

Inclusive a grande temeridade dos bolsonaristas no momento é que ele possa ser preso nos próximos dias, esgotadas as fases dos recursos. Os bolsonaristas, naturalmente, apostavam no azedume dessa relação entre Lula e Donald Trump. O presidente Lula está completando 80 anos de idade no dia de hoje e disposto a disputar mais um mandato presidencial. Na nossa opinião, deveria se recolher aos aposentos e aproveitar aqueles impagáveis momentos de paz, mas, pelo andar da carruagem política, o petista só larga o poder quando morrer. O momento de aventar uma nova disputa, que estava completamente turvo há alguns meses, voltou a desanuviar. 

As hordas de extrema direita continuam reproduzindo a fala infeliz de Lula, quando se referiu aos traficantes de drogas. Isso pega feito visgo de jaca mole. Vai render durante os trabalhos no Legislativo e, possivelmente, tem fôlego até às próximas eleições de outubro, principalmente quando se sabe que segurança pública será o grande tema dos debates entre os postulantes ao Palácio do Planalto, em 2026. É o tipo de fala que, ao se tentar recompor, amplifica ainda mais os seus efeitos negativos. Um escorregão sem conserto. Feliz aniversário, Lula. 

domingo, 26 de outubro de 2025

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


Editorial: Finalmente, o grande encontro entre Lula e Trump.



Nossa avaliação sobre o encontro entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua recomendando a prudência necessária. Em princípio, foi um encontro positivo, onde ambos trataram, inclusive, da questão das tarifas impostas aos produtos de exportação brasileiros, o que sempre enfatizamos por aqui que se trata de uma questão muito mais política do que econômica. Embora Donald Trump tenha afirmado que a questão da Venezuela não seria abordada, os jornais estampam que Lula teria se oferecido para intermediar as contendas entre os dois países, o que, convenhamos, não se trata de uma proposta interessante, pois esbarra num rosário de pressupostos que hoje já não interessam mais aos Estados Unidos, a exemplo da autodeterminação, soberania, respeito ao limites territoriais e governos constituídos. 

A situação no continente tornou-se complicada não apenas para a Venezuela, mas para a Colômbia, de Gustavo Petro. Assim como ocorreu com a Ucrânia, o melhor a fazer é o Brasil não se meter neste imbróglio. Já temos problemas suficientes.  A despeito da fala do presidente Donald Trump, que, a princípio, propõe acenos positivos, como o entendimento de que Brasil e Estados Unidos se tratam de dois países que sempre estabeleceram relações amistosas, nas entrelinhas, Donald Trump sempre sugere algum blefe. Donald Trump tem um jeitão enigmático, como aquele jogador que sempre tem uma carta escondida na manga. 

Assim como o presidente brasileiro, Donald Trump foi ao encontro acompanhado de alguns assessores diretos, aos quais recomendou a abertura de negociações entre os dois países. O encontro durou em torno de uma hora, de onde se conclui, ao menos, um respeito protocolar entre as nações. Agora é aguardar os resultados possíveis dessa abertura de diálogo, pois alguns produtores hoje no Brasil enfrentam sérias dificuldades depois da imposição dessas tarifas absurdas. Nos assuntos internos, uma enorme repercussão negativa da fala do presidente Lula sobre os traficantes de drogas, exaustivamente explorada pela oposição. Até Zema apareceu nas redes sociais para informar que nas Alterosas é diferente. Onde foi preso em Minas o maior traficante de cocaína do estado

sábado, 25 de outubro de 2025

Drops Político: Pedro Cunha Lima e Vital do Rego num encontro de conjuntura política.

Crédito da foto: Instagram de Veneziano Vital

 

O senador Veneziano Vital do Rego(MDB-PB) tem reiterado que seu projeto político no Estado passa pela integração da família Cunha Lima, cujo principal expoente no momento é o deputado federal Pedro Cunha Lima, que ficou em segundo lugar no pleito para o Governo do Estado nas eleições de 2024. Gilberto Kassab nutre uma grande expectativa em relação a Pedro Cunha Lima, que controla o seu PSD no Estado, mas já andou liberando-o para as alianças, conforme enfatizou Pedro até recentemente. Aos poucos, as coisas vão se ajustando. O prefeito Cícero Lucena(MDB-PB) já está integrado ao grupo e batalha para uma candidatura com o apoio do Palácio do Planalto, em 2026. Depois das conversações encetadas em Brasília, o PT local já sinalizou que tal possibilidade está aberta. Hoje, 25, Pedro e Veneziano tiveram um encontro informal, onde, possivelmente, foi servido um cardápio político.  

Editorial: A cantilena da redução das tarifas comerciais entre Brasil e Estados Unidos.



No dia ontem, 24, os jornais noticiavam que o presidente das Estados Unidos, Donald Trump, havia encerrado as negociações com o Canadá. No dia de hoje, 25, um pouco antes do encontro entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a informação é que Donald Trump teria acenado positivamente com a proposta de redução das tarifas aplicadas aos produtos de exportação brasileiros. Sob certas condições. Os problemas são exatamente essas condições, sobre as quais os dois países não chegarão a um acordo, uma vez que as condições são de natureza política. O que Trump quis dizer é que, se tais condições não forem aceitas pelo Governo brasileiro, não haverá negociação neste sentido. 

Não há como mantermos algum otimismo por aqui. Infelizmente. Na medida em que o encontro se aproxima, a situação do Brasil apenas piora no sentido de se construir algo positivo para o país em termos de relações comerciais. O discurso de Lula, carregado da tinta ideológica de uma banda do Itamaraty, foi no sentido de reforçar a soberania, construir alternativas de relações comerciais menos dependente da moeda americana, entre outros pontos da agenda dos interesses dos países latino-americanos. As ações encetadas pelos EUA no que concerne ao enfrentamento do tráfico de drogas pelo Mar do Caribe, por exemplo, foram criticadas em sua fala, que pediu que tais ações não ferissem o respeito aos espaços territoriais dos países atingidos, numa clara alusão à Venezuela, quando a CIA já recebeu sinal verde para operações em seu território.  

É neste "climão" que Lula irá se encontrar com Donald Trump, de onde não se pode, realmente, manter algum otimismo em relação ao assunto. Estima-se que o encontro entre o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado Marco Rubio não tenha sido superior aos quinze minutos, quando o assunto exigiria, naturalmente, uma agenda mais extensa. As tarifas são um punição a um comportamento político do Governo brasileiro, identificado como inadequado pelo Governo dos Estados Unidos.  

Editorial: A frase infeliz de Lula


Repercute bastante no país uma frase dita pelo presidente Lula, durante uma coletiva de imprensa, em Jacarta, na Indonésia, onde se encontra em visita oficial. Nesta frase, o presidente afirma que os traficantes também são vítimas dos usuários de droga. Depois ele tentou consertar, afirmando que a frase estava fora de contexto e que, mais importante do que a fala, são as ações do seu Governo no sentido de combater o crime organizado, algo que nunca foi tão duramente enfrentado no país. A fala, como já se previa, está sendo muito bem explorada pela Oposição, que ontem mesmo utilizaram suas redes sociais para amplificar seus aspectos negativos. No momento em que Lula concede essas entrevistas ou falas de improviso não são incomuns a ocorrência desses deslizes verbais. 

Neste caso, para completar o enredo nebuloso, fala proferida num país de legislação duríssima contra o tráfico de drogas - que já condenou brasileiros a pena de morte - e prestes a ter um encontro com o presidente Donald Trump, que empreende ações militares ousadas no mar do Caribe de combate aos narcotraficantes. Não acreditamos que a frase será suficiente para produzir um desgaste de imagem ao ponto de frear a melhora dos seus índices de popularidade, o que o anima a tentar um quarto mandato presidencial. Outro fator preocupante é que a segurança pública será o grande tema da campanha eleitoral de 2026, quando já se sabe que ele será candidato, conforme confirmou em viagem àquele país asiático. 

A segurança pública é uma questão nevrálgica para o país e por aqui Governo e Oposição não irão construir um consenso mínimo sobre o assunto, conforme já antecipamos em inúmeras ocasiões. No Ceará, por exemplo, onde o crime organizado avança de forma preocupante sobre o aparelho de Estado, um dos grandes motes da campanha de oposição liderada por tucanos e bolsonaristas moderados, sob a batuta do ex-governador Ciro Gomes, hoje filiado ao PSDB, é o enfrentamento dessas facções. Neste contexto, talvez se entenda porque Ciro Gomes, em alguns momentos, reconhece o bom trabalho que o governador Ronaldo Caiado realiza em seu estado, Goiás.  

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Editorial: Lula comemora 80 anos com fôlego de trinta e é candidato em 2026.



A revista Veja desta semana traz uma interessante matéria sobre a performance do PT nas redes sociais, mostrando que, gradativamente, o partido começa a equilibrar o jogo com as hordas bolsonaristas naquela arena, antes hegemonicamente controlado por eles. Assim que assumiu a Comunicação Institucional do Governo Lula 3, o marqueteiro Sidônio Palmeira convidou alguns integrantes da equipe do prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), para auxiliá-lo na missão de melhorar a imagem do Governo nas redes sociais. Depois, a imprensa noticiou que o Governo havia aberto licitações milionárias para a contratação de empresas que teriam como objetivo cuidar deste setor na SECOM. 

Na realidade, Sidônio Palmeira, que já não sabia mais o que fazer, quando contou com a providência do Tio Sam, que forneceu o arsenal da comunicação institucional que ele precisava, calcada no soberanês. Lula está falando tão fluentemente o idioma que, mesmo numa viagem onde se prevê um encontro com Donald Trump, não perdeu o sotaque. Aproveita sua viagem à Indonésia para comemorar os seus 80 anos de vida, algo que só ocorre na próxima semana. Empolgado, já disse que tem a mesma tesão dos trinta e é candidato às eleições presidenciais de 2026. 

Ainda ontem saiu uma pesquisa que aponta que a boca do jacaré entre aprovação e desaprovação ainda não se fechou, mas, no geral, todos concordam que ele estancou a sangria. As mudanças são lentas mesmo. Pontinho a pontinho. As trapalhadas da extrema direita deram as coordenadas para a tal recuperação do petista. Quem se encontra hoje atordoados são eles. O Governo, ao contrário, consolida um processo de enraizamento à esquerda, traduzida na ascendência do deputado federal Guilherme Boulos à Secretaria-Geral da Presidência da República. Neste contexto, agora se entende melhor o convite a Gleisi Hoffmann para assumir a Comunicação Institucional. 

Editorial: Governo Lula avisa que cortará um bi em emendas.


Está é uma das chamadas principais do jornal Folha de São Paulo, hoje, dia 24. A Ministra da Articulação Política, Gleisi Hoffmann, teria comunicado ao Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, que o Governo vai reter um bilhão em emendas parlamentares, em razão de problemas junto ao Tribunal de Contas da União. Numa outra frente, tomamos conhecimento de que o Governo está recorrendo a um antigo aliado, o ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, para tentar minimizar o desgaste junto ao Legislativo. Nesta barganha, estaria em jogo os cargos que o alagoano mantém no Governo, assim como o seu projeto político na terra das marechais. 

Isso dá bem a dimensão sobre o enrosco em que o Governo se encontra, ainda não totalmente refeito das últimas derrotas. No plano internacional, enquanto mantém uma narrativa de contraposição aos Estados Unidos, prospectando possíveis mercados para os produtos de exportação brasileiros, Lula deverá se encontrar com o presidente Donald Trump. O enrosco é interno e no plano internacional, agravado pela guerra psicológica encetada pelos Estados Unidos contra a Venezuela, com a presença, inclusive, das tropas especiais que foram buscar Bin Laden no Paquistão. Essas tropas da Marinha dos Estados Unidos foram vistas recentemente nas imediações do país, sempre sob o argumento de que estão combatendo o narcotráfico. 

A química, que eventualmente teria rolado entre os dois governantes, hoje está por um fio, com o agravamento da situação no continente. Não há química que resista a tantas intempéries. Os Estados Unidos estão realmente decididos a enfrentar os cartéis de drogas que atuam na região, em alguns casos sob a leniência dos governantes de turno. Aliás, esses governos são impotentes para combater o narcotráfico. Sempre solicitaram a ajuda do Governo dos Estados Unidos, que antes mandava apenas os agentes da DEA, num trabalho em conjunto com as forças policiais locais. Hoje o cenário mudou completamente. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Editorial: A declaração infeliz de Wolney Queiroz sobre a CPMI do INSS.


Esta é uma das CPMI's mais sérias já conduzidas pelo Legislativo. Em uma delas já tivemos a suspeita de cooptação dos parlamentares por parte dos investigados, o que se constitui numa excrescência, uma vez que votamos para os parlamentares cumprirem sua missão de zelar pelo bem público. A CPMI do INSS, conduzida pela presidência do senador Carlos Viana, e pelo relator, Alfredo Gaspar, se conduz de forma profissional, ética e republicana. A experiência de Promotor Público do deputado Alfredo Gaspar tem sido muito importante neste sentido, esclarecendo a dinâmica da teia de roubalheira que foi montada para roubar os aposentados, mesmo que as testemunhas e investigados convocados mantenham o silêncio, através dos habeas corpus concedidos. 

Nos depoimentos de hoje, 23, surgiram dois fatos curiosos. Uma tentativa de estabelecer uma eventual relação de parentesco entre a senhora Thaisa Hoffmann e a Ministra Gleisi Hofmann, da Articulação Política. Esta possibilidade foi completamente rechaçada pelo bancada do PT presente à comissão. Um outro fato que provocou, inclusive, um pedido de desculpas, foi protagonizado pelo atual Ministro da Previdência Social, o pernambucano Wolney Queiroz, que teria supostamente afirmado que a CPMI teria uma certa pirotecnia. Ele, em suas desculpas, afirmou que não se referia à CPMI como um todo, mas a referência se devia ao comportamento de alguns parlamentares. De qualquer forma, trata-se de uma declaração infeliz. Tem coisas que não se dizem. 

Mas, para ser sincero, o mais impressionante naquela sessão foi a propaganda gratuita, que chamou a atenção para um prédio luxuosíssimo que está sendo construído em Balneário Camboriú, o Senna Tower. Thaisa Hoffmann, supostamente, teria reservado um dos apartamentos, avaliado em R$ 28 milhões de reais. Este apartamento seria o mais barato entre os apartamentos à venda, num dos prédios mais requintados do mundo. Pelo andar da carruagem política, o rombo no INSS é bem superior ao que foi divulgado, ou seja, R$ 6, 3 bilhões. E o pior é que o roubo continua. Ainda recentemente a Polícia Federal realizou uma operação aqui no Recife.  

Editorial: Na Indonésia, Lula confirma que é candidato em 2026.



Isso todo mundo já sabia desde algum tempo. Somente numa situação claramente desfavorável ou em razão de algum problema de saúde Lula não se habilitaria a um quarto mandato. Agora que os ventos voltaram a ser favoráveis, mesmo no exterior, em visita à Indonésia, Lula confirma que estará disputando mais um mandato em 2026. O mais curioso é que a direita ou extrema direta concedeu mais esta oportunidade ao presidente Lula. Alguns dos seus mais ilustres representantes tomaram algumas atitudes que apenas fortaleceram a candidatura do petista. Hoje eles estão batendo cabeça, com enormes dificuldades de construir algum consenso mínimo sobre o assunto. Até o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, andou tirando o pé do acelerador e voltou a se concentrar nos afazeres do estado que governa, que não são poucos. 

No afã de contar com o apoio do clã Bolsonaro, Tarcísio acabou cometendo alguns erros de avaliação. O silêncio neste momento é prudente, uma  vez que ele já foi verificado e ungido pela Faria Lima. Os ajustes fazem parte do jogo. Há alguns meses atrás, mesmo com a convicção de que gostaria de se manter no poder, prudentemente, diante dos percalços dos índices de popularidade, Lula não se arriscaria a confirmar mais uma candidatura presidencial. Se o assédio americano hoje favorece o petista, só Deus sabe o que o amanhã pode reservar, principalmente porque o Brasil se enquadra dentro de uma leitura negativa do Tio Sam sobre o continente de um modo geral. Repercute de forma bastante negativa para o PT as informações de um ex-Chefe do Serviço de Inteligência do Governo Hugo Chaves. 

A campanha, a rigor, já está nas ruas. O idioma é o soberanês. Isso já se configura nas peças da comunicação institucional do Governo Lula 3, comandada pelo marqueteiro baiano Sidônio Palmeira. O palanque de Lula nos estados, principalmente no Nordeste, voltou a ser disputado pelos políticos locais, a exemplo da Paraíba, onde ele se divide entre o atual governador, João Azevedo, e o prefeito da capital, Cícero Lucena, que deverá entrar na disputa pelo Palácio da Redenção. Em Pernambuco, os movimentos de João Campos(PSB-PB) praticamente fecharam as portas para qualquer pretensão da governadora Raquel Lyra(PDS-PE) neste sentido. No Ceará, tucanos e bolsonaristas estarão juntos contra o PT, depois que Ciro voltou ao ninho. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Editorial: Os curiosos arranjos da política. Parte dois.


Líamos há pouco, na coluna Diário do Poder, que o convite ao deputado federal Guilherme Boulos para ocupar uma cadeira de Ministro no Palácio do Planalto guarda uma relação direta com as próximas eleições estaduais em São Paulo, onde o Planalto já está comprometido com outra candidatura. O arranjo, embora surpreendente, uma vez que estamos tratando aqui do deputado federal mais votado no estado nas últimas eleições, não é absolutamente improvável. A Folha de São Paulo, no dia de hoje, 22, traz uma matéria com o Ministro de Portos e Aeroportos, o pernambucano Sílvio Costa Filho. Sílvio tem se destacado na condução de sua pasta e é um dos fiéis escudeiros do Governo Lula. Há um consenso de que o pernambucano realiza uma boa gestão da pasta. 

A despeito de suas movimentações pelo estado, no sentido de pavimentar sua candidatura ao Senado Federal, Sílvio Costa Filho mantém uma postura invejável de fidelidade à base aliada do Governo Lula. Não há o que se queixar por aqui. E olha que o rapaz é filiado ao Republicanos, partido que conta com um dos prováveis adversários de Lula em 2026, Tarcísio de Freitas. Pois bem. Durante a matéria Sílvio Costa admite que, se o morubixaba petista pedir para ele continuar no Governo, ele pode reavaliar o seu projeto de candidatar-se ao Senado Federal nas eleições de 2026. Para ele o mais importante é a reeleição de Lula. 

Na Paraíba, depois de praticamente ter ajustado os ponteiros com o candidato do socialista João Azevedo(PSB-PB) ao Palácio da Redenção, Lucas Ribeiro, o PT agora abriu um amplo canal de negociações com o prefeito Cícero Lucena, agora no MDB. Depois que Lula voltou a recuperar seus índices de popularidade, mesmo acanhado, segmentos do MDB começam a sinalizar positivamente para o petista. Na Paraíba, é projeto de Cícero contar com o apoio de Lula para a sua candidatura. Cícero lidera todas as pesquisas de intenção de votos até aqui realizadas no estado. Por outro lado, João Azevedo é socialista da gema, com fortes vínculos à direção nacional da legenda, leia-se João Campos, um dos principais aliados do Planalto no plano nacional. 

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


Charge! Thiago Lucas via Jornal do Commércio.

 


terça-feira, 21 de outubro de 2025

Editorial: Boulos é o novo Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou o deputado federal Guilherme Boulos para a ocupar a vaga de Secretário-Geral da Presidência da República, cargo com status de ministério. Havia sinalizações a este respeito há algum tempo, mas só agora o presidente Lula resolveu assinar a portaria de nomeação do companheiro socialista. Sem muitas alternativas e acossado pelas circunstâncias da política externa, em atos e em bravatas, o líder petista consolida uma identidade mais próxima de sua base histórica de apoio. A despeito do diálogo do chanceler Mauro Vieira com Marco Rubio, Secretário de Estado Norte-Americano, o líder petista sugere-se ter se tornando fluente em soberanês, pois voltou a criticar o presidente Donald Trump. 

Depois de um longo e tenebroso inverno de impopularidade, o presidente Lula voltou a ser competitivo para o pleito presidencial de 2026. Porta de entrada no Palácio do Planalto, a Secretaria-Geral da Presidência da República estabelece as prioridade de acesso ao presidente Lula, o que significa que o novo ocupante do cargo deverá proceder uma espécie de clivagem ideológico de acesso ao chefe. O jornalista Josias de Souza sugere, em sua coluna do Portal UOL, que a indicação poderia significar uma certa contradição de Lula, quando se sabe que o parlamento se torna uma arena decisiva para a preservação de nossa democracia a partir de 2026. O próprio Lula teria externado essa preocupação em discurso recente. Neste caso, manter Boulos como um "puxador" de votos num colégio eleitoral decisivo como São Paulo talvez seria mais importante. 

Há quem assegure que Lula poderia estar preparando o companheiro para projetos mais ambiciosos. O ministério seria uma espécie de vitrine de exposição para tais projetos. Uma maneira de dar visibilidade ao psolista. Uma hipótese. Acreditamos, por outro lado, que a entrada de Boulos no Governo é mais pessoal do que partidária. Em várias ocasiões, o PSOL deixou de acompanhar o Governo em votações importantes no Legislativo. 

Editorial: Antes de governista, Kassab é kassabista.


A política é capaz de produzir alguns contorcionismo que, se não ficarmos atentos, poderemos perder o bonde de sua compreensão. Nas eleições municipais de 2024, por exemplo, vários partidos que integravam a base de apoio de Ricardo Nunes(MDB-SP), ficaram preocupados com a desenvoltura do PSD, que criou bastante musculatura em São Paulo. Na medida em que endossa o projeto de Tarcísio de Freitas para as eleições presidenciais de 2026, o PSD não se descuida de trabalhar o nome de Ratinho Junior(PSD-PR), governador do Paraná, como uma opção alternativa. Até recentemente, embora integrando o Governo Lula 3, Kassab já chegou a externar que não vê muitas expectativas em torno do projeto de reeleição de Lula em 2026. À época, sua franqueza incomodou o Planalto. Em tese, não mudou de ideia. Ou será que mudou? 

Um fato inusitado, no entanto, vem de lá das Alterosas. Mateus Simões, vice-governador do Estado, desligou-se do Novo e filiou-se ao PSD, com um projeto de candidatar-se ao Palácio Tiradentes, em 2026. O que se especula é que o nome de Simões agrada ao PT, uma vez que se trata de um nome viável eleitoralmente, O que não seria bem o caso de Rodrigo Pacheco ou outro representante da legenda. O arranjo é curioso, uma vez que, Romeu Zema(Novo-MG), deverá habilitar-se a uma candidatura presidencial em 2026. Seu vice, neste caso, pode liderar um processo em contraposição ao próprio Zema, em apoio ao Planalto, uma vez que Kassab ainda não abandonou completamente a canoa do Governo Lula 3. 

Aqui em Pernambuco, cada vez mais se acentua o "estranhamento" entre a governadora Raquel Lyra e o Governo Lula 3. O dado mais emblemático talvez seja mesmo a recusa do Governo Estadual em receber recursos do Governo Federal para as obras de recuperação do aeroporto de Caruaru, berço político da governadora Raquel Lyra. Vale aqui a máxima atribuída a Ulisses Guimarães: nunca tão distante que não se possa reaproximar-se. O que ocorre aqui em Pernambuco é que os movimentos do prefeito João Campos no sentido de estreitar os laços com o petismo e o Governo Lula deixaram a governadora sem margem de manobra.  

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Editorial: Cícero filia-se ao MDB e altera a correlação de forças na disputa pelo Governo do Estado.

 


Com a direita batendo cabeça e a volta de Lula ao jogo eleitoral das eleições presidenciais de 2026, as placas tectônicas da política começam a se movimentar de forma inusitada. Desde as eleições municipais passadas que a direita e o centro político se movimentam no sentido de construir um nome de consenso que possa disputar o pleito presidencial de 2026, em certo momento dado como uma oportunidade única de desbancar o PT do Palácio do Planalto. O senador Ciro Nogueira, durante uma entrevista recente, concedido ao Programa Livre, da Rede Bandeirante, afirmou que alguns movimentos da direita podem ser entendidos como um tiro no pé, onde critica ações que, no seu entendimento, serviram apenas para trazer Lula de volta ao jogo.  

O mais interessante de tudo é que as articulações da direta são encetadas ou lideradas pelo ex-presidente Michel Temer, do MDB, hoje um partido que passou a aventar uma aliança com o Planalto, em 2026. Historicamente, o PT sempre teve o apoio das chamadas oligarquias familiares regionais, mesmo a despeito da orientações oficiais, a exemplo das últimas eleições presidenciais. O que ocorre de novo agora é essa movimentação dos setores mais burocráticos da legenda, a exemplo do Presidente Nacional, Baleia Rossi, que afirmou que Lula, neste momento, tornou-se favorito para 2026. O MDB da Paraíba, comandado pelo família Vital do Rego, abriu amplas negociações com o prefeito da capital Cícero Lucena, que havia abandonado o Progressistas, depois que o partido não encampou sua candidatura ao Governo do Estado. 

Cícero Lucena, por sua vez, esteve em Brasília, conversando com a direção nacional do PT, o que se refletiu no comportamento da direção da legenda no plano estadual. Cida Ramos, por exemplo, afirmou que o partido não havia fechado as portas para o prefeito Cícero Lucena. Hoje, depois da filiação dele ao MDB, afirmou que o cenário político estadual muda sensivelmente, uma vez que o ingresso do gestor municipal coloca o partido como protagonista para as próximas eleições. São as voltas que a política dá, quando se sabe que, em tese, o PT já estaria fechado com o projeto de João Azevedo, socialista retinto, do PSB, daquele núcleo nacionalmente mais próximo do PT. Seria curioso que Cícero Lucena viesse a sustentar o palanque da reeleição de Lula no estado.