pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônica: Luís da Câmara Cascudo
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terça-feira, 19 de junho de 2018

Crônica: Luís da Câmara Cascudo


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 José Luiz Gomes


Essas redes sociais...leitores! Um pernambucano, na Copa da Rússia, acha de fazer gracinha com uma jovem e já existem milhões de brasileiros e brasileiras não apenas condenando a sua atitude, mas pedindo que a sua manifestação explícita de misoginia seja severamente punida. Há algum tempo mantenho um blog de pesquisa escolar onde publicamos alguns verbetes, especialmente sobre aspectos da cultura nordestina. Exposto, recebo um convite para falar de Luís da Câmara Cascudo, numa faculdade potiguar. Tanta gente boa por aquelas bandas e eles acham de convidar este humilde cronista,  que o admira muito, mas conhece pouco do folclorista potiguar.  
Posso até estar equivocado, mas a impressão que eu tenho é que depois da morte de Luís da Câmara Cascudo e de Mário Souto Maior não surgiram outros grandes folcloristas por essas terras nordestinas. Hoje, reli uma crônica escrita pelo jornalista Aluízio Furtado de Mendonça, em 1986, por ocasião da morte do folclorista. Rebento de uma família de posses, Câmara Cascudo, em razão do seu habitus, Pierre Bourdieu, teve algumas boas oportunidades na vida. Estudou em bons colégios durante os estágios regulares, depois fez medicina na Bahia - curso não concluído - e direito na Faculdade de Direito do Recife, da Universidade Federal de Pernambuco. Aguça a nossa curiosidade, conhecer um pouco sobre a sua passagem aqui pela capital pernambucana, notadamente em razão dos possíveis círculos literários que ele, certamente, frequentou. Isso talvez agregasse algum valor à nossa fala, uma vez que os passos de Cascudo em terras potiguares devem ser bem conhecidos pelo estudantada.  
Como se sabe, mesmo formado em direito, Cascudo  se apaixonou mesmo foi pela cultura popular, sobre a qual produziu centenas de publicações. Tornou-se um especialista sobre a influência gastronômica dos africanos na formação da culinária brasileira. Quando dirigia o Instituto Nacional do Livro, o poeta Augusto Meyer o convidou para escrever o Dicionário do Folclore Brasileiro, um clássico imbatível na área até os nossos dias. Cascudo publicou sua primeira crônica - O tempo e eu - num jornal mantido pelo pai, A Imprensa. O que mais nos impressionou nesta crônica de Aluízio Furtado de Mendonça, no entanto - depois dos aspectos relacionados à biografia do folclorista - foram os seus comentários sobre a participação do escritor potiguar nos círculos literárias que se reuniam em torno do seu casarão, hoje transformado em memorial, que devemos visitá-lo nos próximos dias, quando de nossa visita à Natal.  
Esses círculos literários são curiosíssimos, Foucault. Através de um deles, que se reunia em Maceió, por exemplo, se descobre que é bem possível que Olívio Montenegro tenha exercido uma influência até maior sobre a carreira literária de Jose Lins do Rego, do que Gilberto Freyre, por exemplo. Menino de Engenho foi escrito em Maceió. Este círculo reunia uma turma da "pesada": Jorge Amado, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz. No tocante aos círculos literários potiguares, fala-se bastante sobre o casarão da Praça André de Albuquerque, número 30,  onde residia o folclorista, sempre frequentado por jovens candidatos às letras. E o que deixa transparecer na crônica de Aluízio, é que havia sempre uma luz acesa naquele casarão, até altas horas da noite, onde Câmara Cascudo recebia com total humildade tantos quantos o procurasse para discutir literatura ou mesmo fazer uma leitura dos manuscritos, sempre entregues com aquela advertência acanhada: Veja se isso presta, veja se isso tem alguma serventia...  
Já sugerimos por aqui que, se o Mário estivesse vivo, certamente se interessaria pela lista de apelidos curiosos que os executivos da construtora Odebrecht designavam os recebedores de propinas(ops!) doações da empresa. Os apelidos são curiosíssimos, segundo eles mesmos, utilizados com o propósito de que os entregadores dos malotes não identificassem os beneficiários. Se Cascudo ainda estivesse neste plano, certamente, iria sugerir a ele ficar atento às famosas listas de compra dos palácios dos governadores, onde aparece algumas curiosidades, como a compra, realizada por uma granja oficial do Estado vizinho, de 2 mil latas de farinha láctea e quase uma tonelada de leite em pó, numa estimativa de consumo de um ano, para uma criança bastante gulosa. Um detalhe: a última criança que nasceu naquela granja foi o autor do Auto da Compadecida.

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