José Luiz Gomes
Anda
circulando pelas redes sociais um manifesto em protesto contra o tratamento
dispensada a Manuela D'Ávila, candidata do PCdoB às próximas eleições presidenciais, durante entrevista concedida ao Programa Roda Viva, transmitido pela TV Cultura. Elegante, inteligente e polida, a candidata teria sido interrompida várias
vezes durante a entrevista, com dificuldade de estabelecer uma linha de argumentação coerente, sob o olhar complacente do coordenador do programa ou âncora da emissora. A TV Cultura de hoje não é a mesma TV Cultura
de alguns anos atrás, quando existia uma maior autonomia dos seus gestores,
assim como maior liberdade de atuação dos seus servidores, mesmo no escopo de seu perfil de uma TV pública. Nos últimos anos, ela passou por constrangimentos e ingerências diversas, o que se refletiu, possivelmente, na qualidade de sua programação. Um assessor do "coisa ruim"- vocês podem imaginar? - estava na bancada de entrevistadores.
Ao
longo dos anos, o formato dos debates televisivos, por sua vez, perdeu muito de
sua dinâmica, com regras criadas justamente com o objetivo de permitir um
controle mais efetivo sobre as falas dos candidatos e das manifestações da
plateia. Aqui para nós, leitores, bons mesmos eram os debates de antigamente,
com as tiradas do Franco Montoro, do Jânio Quadros, do Leonel Brizola, do Mário Covas. Os
formatos de hoje são chatos, monótonos, cansativos, não permitindo um tête-à-tête entre os contentores. Se a plateia se manifestasse durante a sua fala,
Brizola gritava de lá, em alto e bom som: Filhotes da Ditadura! Filhotes da
Ditadura!. Que falta nos faz, nesses tempos bicudos, uns caras com a coragem cívica de um Miguel Arraes
ou de um Leonel Brizola.
Jânio
Quadros poderia ser um cidadão estranho, dado às esquisitices,
como uma visita que fez ao sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, por exemplo, logo
cedinho, já mamado, o que, certamente, não recomendou bem à família do sociólogo oferecer a ele o famoso licor de pitangas com o qual Gilberto recebia seus convidados. Jânio Quadros foi protagonista de tiradas impagáveis durante os debates em que
participou como candidato, como num debate com Franco Montoro, quando este tentou ler uma citação sobre ele, escrita por Carlos Lacerda. Jânio interrompeu Montoro afirmando que ele citava Belzebu para falar das escrituras. A plateia veio abaixo e Montoro não conseguiu continuar com a leitura. Já depois de sua renúncia à Presidência da
República, manteve um programa de entrevistas na televisão, onde também era
muito rápido no gatilho verbal.
Já na iminência de pendurar as chuteiras, quando ainda governou a cidade de São Paulo, pouco dias antes do pleito, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, certo de que ganharia aquelas eleições, sentou-se na cadeira de prefeito. Com os resultados das eleições - onde não se confirmou tal vaticínio, as eleições foram vencidas por Jânio Quadros - quando este assumiu, uma das primeiras providências foi desinfetar a cadeira sob o argumento de que nádegas indevidas haviam sentado ali antes. Este era o Jânio Quadros, certamente um dos atores políticos que deram a maior contribuição para o folclore político brasileiro. No Programa Roda Viva, parafraseando Jânio, havia, sim, uma nádega indevida sentida na bancada de entrevistadores e é pouco provável que possamos falar aqui de uma escolha malsucedida. Cheirou mesmo à premeditação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário