José Luiz Gomes
Marcus Accioly, além de grande poeta, era um exímio contador de histórias. Menino de engenho, se estou certo, assumiu o eito ainda na juventude, com apenas 19 anos de idade, em razão da ausência do pai. Era ali de Aliança, cidade localizada na zona da mata setentrional do Estado de Pernambuco. Publicou seus primeiros poemas no suplemento literário do Diário de Pernambuco. Estreou com o livro Cancioneiro, tendo publicado algo em torno de 15 livros, alguns deles vencedores de prêmios literários. Poeta da geração 65 e integrante do Movimento Armorial, Marcus era da Academia Pernambucana de Letras. Morreu no dia 21 de outubro de 2017, aos 74 anos, na Ilha de Itamaracá. Gostava muito de sua
poesia, embora suas ligações políticas nos impusessem algumas reticências. Era,
no dizer de outro poeta, João Cabral de Mello Netto - que elogiava bastante os
seus poemas - um filho ilustre da açucorocracia do Estado. Marcus foi nosso
professor de Teoria da Literatura, no Centro de Artes e Comunicação da
Universidade Federal de Pernambuco. Aluno aplicado, passamos com louvor em sua
disciplina, depois de resenharmos uma de suas obras, apontando alguns aspectos
que, segundo ele, os críticos haviam ignorado.
Marcus Accioly, além de grande poeta, era um exímio contador de histórias. Menino de engenho, se estou certo, assumiu o eito ainda na juventude, com apenas 19 anos de idade, em razão da ausência do pai. Era ali de Aliança, cidade localizada na zona da mata setentrional do Estado de Pernambuco. Publicou seus primeiros poemas no suplemento literário do Diário de Pernambuco. Estreou com o livro Cancioneiro, tendo publicado algo em torno de 15 livros, alguns deles vencedores de prêmios literários. Poeta da geração 65 e integrante do Movimento Armorial, Marcus era da Academia Pernambucana de Letras. Morreu no dia 21 de outubro de 2017, aos 74 anos, na Ilha de Itamaracá.
Dificuldades mesmo apenas
com o Latim da professora Inalda. O curso de Letras era mais exigente àquela
época. Além de Latim, o aluno era contingenciado a sair do curso com duas
habilitações: a língua pátria e uma língua estrangeira. Hoje, o desenho
curricular, Janssen, é menos exigente. Marcus conduzia muito bem suas aulas,
entremeando teoria literária, vivências e, muito importante, depois da leitura
de alguma obra recomendada, normalmente, trazia o autor do livro para debates
em sala de aula, o que proporcionava bons momentos de discussão. No sábado, na
roda literária da Livro Sete, o diálogo era ampliado, regado às batidas de
Maracujá gentilmente preparadas pelo Tarcísio. Marcus possuía uma memória
privilegiada. Muitos dos seus poemas foram concebidos enquanto fazia suas
caminhadas pela orla de Casa Caiada, aqui em Olinda. Foi a última vez que o vi
antes de sua morte, sem esconder as marcas que a idade nos deixam.
Suas aulas eram bastante
concorrida porque ele, normalmente, fugia dos clichês acadêmicos. Claro que
existiam aquelas inúmeras fãs, mas os marmanjos também gostavam de ouvi-lo. Aguçava a nossa curiosidade, os hábitos estranhos
de alguns escritores, durante o ato de criação. Friedrich Schiller, por
exemplo, só produzia sentindo o cheiro de maçãs podres que guardava numa gaveta
de sua escrivaninha. Kafka escrevia compulsivamente, madrugada a dentro, com pouquíssimas horas de sono. Truman Capote nunca
começava ou terminava um trabalho às sextas-feiras, dia dedicado às outras atividades. Alexandre Dumas só escrevia
ficção em papel azul e só escrevia poesia em papel amarelo. Um dia, na ausência
de blocos de notas nessas cores, precisou usar papel creme e acredita que isso
tenha influenciado negativamente em sua criatividade. Lewis Carol só escrevia
com tinta roxa, um hábito adquirido quando dava aulas, ao corrigir os trabalhos
dos estudantes. Ernest Hemingway escrevia 500 palavras por dia, somente pela
manhã. Em carta, confessou a Scott Fitzgerald que, para cada página que
escrevia, uma era uma obra prima e 91 páginas era porcaria que ele jogava no
lixo. A lista dos tomadores de whisky durante os momentos de criação é longa e
prefiro deixar este assunto para uma outra crônica.
Marcus também tinha lá
seus hábitos. Nem tanto bizarros ou esquisitos. Usava sempre uma jaqueta, fosse
um dia frio ou sob um calor de 40 graus. Costumava ler bastante sobre aquilo que
se propunha a escrever. Creio que em razão da produção de Latinomerica,
precisou viajar à Nicarágua em plena revolução sandinista. Com aqueles poucos
cabelos louros, olhos azuis, seu maior temor era o de ser
confundido com um americano pelos guerrilheiros da Frente Sandinista de Libertação
Nacional e condenado a um pelotão de fuzilamento. Felizmente, voltou ao nosso convívio e faleceu de causas naturais, escrevendo seus versos, que era o que mais gostava de fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário