pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônica: Marcus Accioly, um poeta na terra de Sandino.
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sexta-feira, 15 de junho de 2018

Crônica: Marcus Accioly, um poeta na terra de Sandino.


 
José Luiz Gomes


Marcus Accioly, além de grande poeta, era um exímio contador de histórias. Menino de engenho, se estou certo, assumiu o eito ainda na juventude, com apenas 19 anos de idade, em razão da ausência do pai. Era ali de Aliança, cidade localizada na zona da mata setentrional do Estado de Pernambuco. Publicou seus primeiros poemas no suplemento literário do Diário de Pernambuco. Estreou com o livro Cancioneiro, tendo publicado algo em torno de 15 livros, alguns deles vencedores de prêmios literários. Poeta da geração 65 e integrante do Movimento Armorial, Marcus era da Academia Pernambucana de Letras. Morreu no dia 21 de outubro de 2017, aos 74 anos, na Ilha de Itamaracá.  Gostava muito de sua poesia, embora suas ligações políticas nos impusessem algumas reticências. Era, no dizer de outro poeta, João Cabral de Mello Netto - que elogiava bastante os seus poemas - um filho ilustre da açucorocracia do Estado. Marcus foi nosso professor de Teoria da Literatura, no Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Aluno aplicado, passamos com louvor em sua disciplina, depois de resenharmos uma de suas obras, apontando alguns aspectos que, segundo ele, os críticos haviam ignorado.   
Dificuldades mesmo apenas com o Latim da professora Inalda. O curso de Letras era mais exigente àquela época. Além de Latim, o aluno era contingenciado a sair do curso com duas habilitações: a língua pátria e uma língua estrangeira. Hoje, o desenho curricular, Janssen, é menos exigente. Marcus conduzia muito bem suas aulas, entremeando teoria literária, vivências e, muito importante, depois da leitura de alguma obra recomendada, normalmente, trazia o autor do livro para debates em sala de aula, o que proporcionava bons momentos de discussão. No sábado, na roda literária da Livro Sete, o diálogo era ampliado, regado às batidas de Maracujá gentilmente preparadas pelo Tarcísio. Marcus possuía uma memória privilegiada. Muitos dos seus poemas foram concebidos enquanto fazia suas caminhadas pela orla de Casa Caiada, aqui em Olinda. Foi a última vez que o vi antes de sua morte, sem esconder as marcas que a idade nos deixam.   
Suas aulas eram bastante concorrida porque ele, normalmente, fugia dos clichês acadêmicos. Claro que existiam aquelas inúmeras fãs, mas os marmanjos também gostavam de ouvi-lo. Aguçava a nossa curiosidade, os hábitos estranhos de alguns escritores, durante o ato de criação. Friedrich Schiller, por exemplo, só produzia sentindo o cheiro de maçãs podres que guardava numa gaveta de sua escrivaninha. Kafka escrevia compulsivamente, madrugada a dentro, com pouquíssimas horas de sono. Truman Capote nunca começava ou terminava um trabalho às sextas-feiras, dia dedicado às outras atividades. Alexandre Dumas só escrevia ficção em papel azul e só escrevia poesia em papel amarelo. Um dia, na ausência de blocos de notas nessas cores, precisou usar papel creme e acredita que isso tenha influenciado negativamente em sua criatividade. Lewis Carol só escrevia com tinta roxa, um hábito adquirido quando dava aulas, ao corrigir os trabalhos dos estudantes. Ernest Hemingway escrevia 500 palavras por dia, somente pela manhã. Em carta, confessou a Scott Fitzgerald que, para cada página que escrevia, uma era uma obra prima e 91 páginas era porcaria que ele jogava no lixo. A lista dos tomadores de whisky durante os momentos de criação é longa e prefiro deixar este assunto para uma outra crônica.
Marcus também tinha lá seus hábitos. Nem tanto bizarros ou esquisitos. Usava sempre uma jaqueta, fosse um dia frio ou sob um calor de 40 graus. Costumava ler bastante sobre aquilo que se propunha a escrever. Creio que em razão da produção de Latinomerica, precisou viajar à Nicarágua em plena revolução sandinista. Com aqueles poucos cabelos louros, olhos azuis, seu maior temor era o de ser confundido com um americano pelos guerrilheiros da Frente Sandinista de Libertação Nacional e condenado a um pelotão de fuzilamento. Felizmente, voltou ao nosso convívio e faleceu de causas naturais, escrevendo seus versos, que era o que mais gostava de fazer.

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