pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônica: Lula lê?!
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sábado, 16 de junho de 2018

Crônica: Lula lê?!

 
 
 
Lula lê?!
 
 
José Luiz Gomes
 
 
Quando Lula assumiu a Presidência da República pela primeira vez, convidou Fernando Lyra para assumir a Presidência da Fundação Joaquim Nabuco. Foi uma gestão importante, entre outros motivos, porque episódica ou emblemática, ou seja, representou uma cisão num controle familiar de mais de três décadas. Um aspecto que deve ser enaltecido na gestão Lyra foi o seu caráter democrático, bem condizente com um ator politico que esteve na linha de frente na luta pela redemocratização do país. Não houve contradição ou incoerência aqui, requisitos hoje tão escassos. Numa declaração polêmica, durante uma reunião com os pesquisadores da Casa, Lyra afirmou que nunca havia lido um livro. Motivações políticas levaram um dos pesquisadores a criticá-lo, num espaço que tinha num jornal local. Como disse antes, motivação exclusivamente politica, em razão de suas ligações com o ancien regime.

Numa crônica publicada neste blog recentemente - onde reconheço o papel de Lula como um dos atores políticos mais relevantes na construção de nossa democracia substantiva - afirmo, ali para as tantas, nas entrelinhas, que Lula não gostava de ler. Como se sabe, este cronista não teria nenhuma razão para emitir alguma declaração indevida sobre o ex-presidente. Muito pelo contrário, como se pode depreender pelo próprio teor daquela crônica, enaltecendo sua importância política para o país. Faço tal afirmação em razão de uma entrevista concedida pelo próprio Lula, onde ele afirma sua pouca familiaridade com a leitura.
 
Agora, através das redes sociais - que Lula, depois da prisão, passou a usar com mais freqüência - surgiu uma polêmica em relação às suas leituras na prisão. Foi anunciado que que ele teria lido 21 livros nesses meses de prisão, numa média, calculadas pelos direitistas de plantão nas redes - que se reproduzem numa velocidade espantosa - de 55 páginas por dia. Impossível,  preconceitualmente, diriam eles.  Olha, em primeiro lugar, seria muito interessante que as pessoas seguissem alguns procedimentos básicos antes de se pronunciar sobre determinados assuntos. Eu, por exemplo, vou pesquisar sobre os hábitos na prisão dos presos da operacão Lava Jato. Certamente, teríamos panos para as mangas para as próximas crônicas. Duas certezas: José Dirceu lê e escreve bastante. Tem centenas de páginas escritas, que deverão se tornarem livros de memórias posteriormente. Cabral também gosta de umas leituras. Tenho uma curiosidade enorme em saber como andam as leituras do Caranguejo. Creio que o leitor também.
 
Pelo menos o livro do sociólogo Jessé de Souza, A elite do Atraso, Lula está lendo. O fato concreto é que Lula está lendo e isso é muito bom. Essa polêmica é em razão do estágio de acirramento ideológico a que chegamos, depois do engendramento do golpe institucional de 2016. O clima é pesado e vamos nesse diapasão sabe-se lá até quando. Como tenho afirmado desde o inicio, a tessitura golpista foi muito bem planejada. Como se não fosse suficiente  a hegemonia e controle sobre a grande mídia - que de grande não tem é nada, na realidade, pequeníssima - os caras investem pesado nas redes sócias, na blogosfera, em eventos, no YouTube etc. Quer um exemplo? Quem já não recebeu no seu aparelhinho de celular propaganda daquele candidato militar? Aquele mesmo que destrata quilombolas e outro dia sugeriu medidas higienistas para o controle da natalidade. Esse papo sobre as leituras de Lula esta para lá de preconceituoso. Vamos deixar o cara ler, preparar-se melhor para os embates que ainda terá de enfrentar pela frente.

P.S.: Wilson Gomes, em artigo publicado pelo site da revista Cult, aborda este mesmo tema. Com a licença poética, Wilson, não encontrei um outro título mais adequado para esta crônica e o reproduzi aqui.


 


 

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