José Luiz Gomes
No dia de ontem,
repercutiu bastante uma decisão tomada por um juiz, quando estava em julgamento
uma ação movida por uma conhecida senadora da República, que pedia uma
indenização, por danos morais, a um jornalista que havia se referido a ela pelo
apelido de amante, como constava nas famosas planilhas de doações da
Construtora Odebrecht. Como se sabe, os caras que cuidavam da tramitações dessas "doações" eram bastante profissionais,
executivos de carreira, lotados num departamento especializado da empresa:O Setor
de Operações Estruturadas, que bem poderia ser traduzido como departamento de
propinas e corrupção de agentes públicos.
Não nutro nenhuma
simpatia pelo jornalista, ligado às Organizações plim plim, que trama
contra a democracia no país há décadas. Tenho, por outro lado, um grande apreço
pela sanadora, mas não é esta a questão em discussão: o que está em jogo é o
direito sagrado do exercício da liberdade de expressão, direito tão
respeitosamente observado pelo magistrado que julgou o caso. Logo em seguida, a
presidente da Suprema Corte também pronunciou um discurso enaltecendo a
liberdade de expressão. Mas, discursos são discursos, e como diria o filósofo
Nietzsche, eles podem estar eivados de segundas e até de terceiras intenções. Toda
palavra é uma máscara e todo discurso é uma fraude, o filósofo alemão já
vaticinava em Além do Bem e do Mal. No caso do juiz, houve um
indeferimento concreto, associado a argumentos convincentes, onde deixa claro
que o jornalista não havia cometido nenhum ilícito, apenas exercido seu direito
sagrado, de ofício, a partir de informações amplamente divulgadas por outros
órgãos de imprensa, não havendo aqui nenhum dano a reparar.
Já disse aqui outras
vezes - mas volto a repetir - uma pena mesmo que o folclorista Mário Souto
Maior tenha nos deixado tão cedo. Ele, que vivia prospectando em cartórios s
nomes próprios pouco comuns - hoje teria um manancial de apelidos, cada um mais
curioso do que o outro, concebidos pelos executivos da empresa, com o propósito
de burlar a identificação dos órgãos de controle do Estado, assim como
disfarçar a identidade desses políticos pelos funcionários mais subalternos,
esses que se encarregavam, digamos assim, da expedição das propinas(ops!),
doações.
Outro dia, fiz uma
conjectura por aqui sobre como se dava o processo de ascensão profissional dos
executivos lotados neste departamento: Seria pela sua capacidade de corromper
agentes públicos, o que facilitaria os ganhos da empresa, através de licitações
fraudulentas? Não se sabe ao certo. Certo mesmo é que os critérios de avaliação
de suas capacidades deveriam seguir caminhos igualmente nebulosos. Menciono alguns desses apelidos, já pedindo permissão ao leitores para não
identificar os políticos a eles associados. Nesses tempos de insegurança
jurídica, vai que não se encontre um juiz com a mesma lucidez, convicções
democráticas e espírito republicano pela frente...
Abelha, Acelerado, Aço,
Anão, Alemão, Gremista, Amante, Amarelou, Amigo, Angorá, Aracaju, Aspirina,
Atravessador, Avião, Azeitona, Babão, Babel, Baianinho, Baixada, Balzac, Barbie,
Barrigudo, Bateria, Belém, Bitelo, Biscoito, BMW, Boca Mole, Bocão, Botafogo,
Brigão, Bruto, Caim, Caju, Candomblé, Caldo, Campari, Caranguejo, Castor,
Cerrado, Chorão, Cobra, Colorido, Comuna, Decrépito, Dengo, Dentuço, Do Reino,
Drácula, Duro, Escritor, Esquálido, Lindinho, Filósofo, Fodinha, Goleiro,
Gripe, Guerrilheiro, Igreja, Índio, Inferno, Itacaré, Italiano, Jacaré,
Jangada, Jujuba, Lagarto, Maçaranduba, Menino da Floresta, Mercedez, Moleza,
Navalha, Nervozinho, Padre, Paris, Patati, Pavão, Pescador, Rio, Roberval
Taylor, Roxinho, Sapato, Soneca, Trincaferro, Tuco, Verdinho, Vizinho, Wanda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário