pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Lula, uma jararaca de grande intensidade.
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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Editorial: Lula, uma jararaca de grande intensidade.




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Nossa experiência democrática nunca foi lá grandes coisas. Talvez o historiador Sérgio Buarque de Holanda tenha mesmo razão ao afirmar que a democracia entre nós nunca passou de um grande mal-entendido. Adjetivos não faltam para tentar identificar esse mal-entendido, mas, mais recentemente, em artigo aqui publicado, a filósofa Marcia Tiburi tenha diagnosticado bem o problema de nossa inanição democrática, ao apontar que vivemos uma democracia de baixa intensidade, que funciona aos trancos e barrancos, com rompantes antidemocráticos aqui e ali - com muita frequência, aliás - mas nos permitem agir ou atuar dentro de um ambiente onde, até certo ponto, algumas regras e parâmetros são relativamente respeitadas, dentro dos marcos impostos pelas regras do jogo democrático. O golpe institucional de 2016 colocou em risco esse "ambiente', com uma possibilidade concreta de suprimi-lo de uma vez, já que ele ainda tem chão pela frente. Diante do avanço das artimanhas antidemocráticas e a consequente fragilização das forças do campo progressista e popular, conclui a autora, talvez fosse o caso de nos concentramos naquilo que ela denomina de princípio Lula.

Como se sabe, uma das premissas básicas da engenharia do golpe institucional de 2016 foi a de esmagar o PT e suas lideranças. O expediente jurídico foi muito bem utilizado com este propósito. Daí porque a via institucional utilizada pelo PT com o propósito de combater a investida se mostraria completamente ineficiente, conforme temos afirmado por aqui. Lula está preso e não será a via institucional que restabelecerá as suas prerrogativas de cidadão, muito menos ainda com o direito a candidatar-se às eleições de 2018. É diante dessas circunstâncias adversas que se recomenda um flerte com alguma candidatura que se aproxime da plataforma do princípio Lula. E o que é o princípio Lula? Ora, com algumas ressalvas, aquela agenda que conhecemos durante os governos da coalisão petista, traduzida nas políticas sociais de redistribuição de renda; na inclusão de segmentos sociais excluídos ( 36 milhões saíram da extrema pobreza e a metade já voltou neste retrocesso golpista ); mais educação para os empobrecidos; reconhecimento e avanço dos direitos de grupos minoritários como indígenas, quilombolas e LGBTT's. Como disse aqui antes, Lula foi o cara que mais fez pelo avanço da democracia substantiva no país. Os marcos aos quais a filósofo Marcia Tiburi se referem diz respeito aos limites impostos pela democracia formal.

O PT, no entanto, é um poço até aqui de contradições. Seus movimentos parecem indicar, mais uma vez, que o partido dará prioridade a uma política de alianças pragmáticas - movidas unicamente por interesses eleitoreiros - em detrimento do princípio Lula. É a velha e surrada conciliação de classes que acaba sempre no momento em que a elite brasileira - que odeia pobre, de acordo com o sociólogo Jessé de Souza - resolve quebrar unilateralmente os acordos. Alguns petistas chegaram a comemorar uma nota do partido - publicada no dia de ontem - adiando as convenções estaduais - que devem deliberar sobre candidaturas próprias nos Estados - para o final do mês. Essas convenções estavam previstas para ocorrerem no próximo dia 10. Aqui em Pernambuco, quem deve estar comemorando essa medida devem ser aqueles que defendem uma aliança com o governador Paulo Câmara, do PSB, que está com a reeleição ameaçada e busca no PT uma tábua de salvação.  Para os partidários da candidatura própria de Marília Arraes(PT), na verdade, isso soa como mais uma manobra de balcão de negócios. Até porque, segundo fontes do próprio partido, a tese de uma candidatura própria seria vitoriosa na convenção do domingo. A candidatura de Marília é a mais identificada com o princípio Lula. Não preciso dizer aqui o que o PSB representa hoje.

A notícia boa é que Lula esta inteiro. A cabeça da jararaca vai muito bem, obrigado. Sua primeira aparição pública depois da prisão demonstra isso. Lula atuou como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral, acusado de manobras de caráter pouco republicana para trazer as olimpíadas para o Rio de Janeiro, em 2016. Fala-se na possível compra de voto de alguns delegados. Confesso a vocês que temia pela saúde mental do ex-presidente, acossado por todos os lados e, ainda mais, detido numa cela onde recebe poucas visitas, exceção apenas para os familiares. É uma barra pesada, amigo. Numa democracia frágil como a nossa, Lula continua como uma figura pública de grande intensidade, amado pelos brasileiros e brasileiras que lhes conferem o primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto. Com Lula de fora da disputa, lidera um fascista, que poderá encaminhar o país para trevas ainda mais nebulosas do que essas que ora experimentamos. Os operadores do golpe institucional de 2016, se ainda tiverem um pouco de consciência, devem ter a dimensão de que colocaram o país numa profunda crise política e econômica.

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