pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônica: República Dominicana
Powered By Blogger

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Crônica: República Dominicana


 Imagem relacionada

José Luiz Gomes
E aquela viagem dos sonhos? Quem sabe Paris? Mesmo enfrentando as filas e os "engarrafamentos" para ver a Monalisa de Leonardo Da Vinci, no Louvre. Conseguiu ingresso para a visitar a Torre Eiffel? E se pintar um nevoeiro, embaçando a tua visão? São os ônus dos pacotes mais baratos, oferecidos em certas épocas do ano, para conhecer a cidade luz.  Depois, uma caminhada pela Saint Elysee e terminar o dia ( ou começar?) no bairro boêmio de Montemartre. Se chove, Paris é ainda mais bonita num dia de chuva, Woody Allen. Ou, quem sabe, o Central Parque num outono de Nova York, para esbanjar aos amigos que pisou no palco onde Simon and Garfunkel se apresentaram em 1981, reunindo 500 mil pessoas, cuja renda foi revertida para as obras do próprio parque. Ainda guardo aquele vinil, que escuto de vez em quando, num toca-discos que optei por não jogar fora. Mania de fã. Londres? talvez não fosse aconselhado porque os pombinhos da família real ainda estão em lua-de-mel, o Big Ben está passando por reformas e andam atropelando muita gente em suas pontes. Modestamente, prefiro a República Dominicana. Bem que poderia ser pelas praias de Punta Cana, mas não é este o motivo. Já explico a vocês.   
Faz pouco tempo, acompanhei alguns programas de gastronomia pela TV fechada. Quando o apresentador  desembarcou na República Dominicana, leitores, foi uma verdadeira farra. Existe um prato naquele país que se assemelha muito à nossa feijoada, feito em grandes panelas, com ingredientes específicos, servido em pratos fundos, no fundo de quintal, acompanhado pelos ritmos locais e uma cachaça de rolha. Não sei se em razão da influência espanhola - São Domingos, foi a primeira capital do império espanhol   na América - o fato é que a culinária dominicana é fora de série. Somente a influência espanhola não daria conta de tantos sabores. O que mais nos impressionou, num entanto, foi um desses restaurantes de beira de estrada. Não apenas pela comida - pedaços de porcos, que são assados inteiros no local - mas em razão de sua localização, bem em frente a um monumento erguido em homenagem à morte do ditador Rafael Trujillo, que infernizou a vida dos habitantes daquele país durante décadas. Precisas três décadas, de 30 a 61.Coisa de idealistas. A lista é grande...ainda inclui as trilhas da Sierra Maestra, La Higuera...
Agora, por ocasião da divulgação dos memorandos da Agência de Inteligência Americana sobre torturas e assassinatos no país, escrevi um longo texto sobre o assunto, mas preferi não publicá-lo, numa espécie de auto-censura, Laércio, em razão dos tempos bicudos que atravessamos. Há uma grande polêmica em torno dessas revelações da CIA, justamento no momento em que se observa um recrudescimento do golpe institucional de 2016, no Brasil. Li até algumas ingenuidades sugerindo que a CIA estaria apreensiva com os rumos políticos do país, quiçá preocupada com uma nova escalada autoritária no continente americano, como já ocorrera em décadas passadas. A CIA nunca esteve preocupada com isso, gente? O importante para aquele órgão é salvaguardar os interesses norte-americanos na região, seja nos parâmetros de regimes de democracia precária, seja através de ditaduras veladas, como ocorreu, por exemplo, durante o regime do ditador Rafael Trujillo. 
Seu chefe de polícia, uma expressão eufemística para designar, na realidade, o homem que chefiava as torturas, andava com uma agenda indefectível. Normalmente, se anda com uma agenda para se anotar os compromissos e coisas assim. Quando elas não são preenchidas, servem como caderninhos de anotações em reuniões. Esta, no entanto, tinha uma peculiaridade macabra: ali eram listados, por ordem alfabética e por países, todas as práticas de torturas existentes, aplicadas sem piedade, aos opositores do ditador. Sua ascensão na cúpula de segurança do regime foi meteórica. Se prestava perfeitamente aos serviços sujos, às práticas dos estertores do regime. Mesmo em regimes fechados, ditatoriais, os membros da Igreja Católica gozam de uma certa blindagem. Na República Dominicana, ocorreu a morte de duas freiras, o que causou uma manifestação de repúdio da comunidade internacional contra o ato bárbaro. Acionado, o então secretário de Estado Norte-Americano, Cordell Hull, teria deixado escapar uma expressão lapidar para se entender o que, de fato, conta quando se está em jogo os interesses norte-americanos na região: Ele pode ser um filho da puta, mas é o nosso filho da puta. Que filho da puta...

Nenhum comentário:

Postar um comentário