José Luiz Gomes
E aquela
viagem dos sonhos? Quem sabe Paris? Mesmo enfrentando as filas e os "engarrafamentos" para ver a Monalisa de Leonardo Da Vinci, no Louvre. Conseguiu ingresso para a visitar a Torre Eiffel? E se pintar um nevoeiro, embaçando a tua visão? São os ônus dos pacotes mais baratos, oferecidos em certas épocas do ano, para conhecer a cidade luz. Depois, uma caminhada pela Saint Elysee e terminar o dia ( ou começar?) no bairro boêmio de Montemartre. Se chove, Paris é ainda mais bonita
num dia de chuva, Woody Allen. Ou, quem sabe, o Central Parque num outono de Nova
York, para esbanjar aos amigos que pisou no palco onde Simon and Garfunkel se
apresentaram em 1981, reunindo 500 mil pessoas, cuja renda foi revertida para as obras do próprio parque. Ainda guardo aquele vinil, que escuto de vez em quando, num toca-discos que optei por não jogar fora. Mania de fã. Londres? talvez não fosse aconselhado porque os pombinhos da
família real ainda estão em lua-de-mel, o Big Ben está passando por reformas e
andam atropelando muita gente em suas pontes. Modestamente, prefiro a República
Dominicana. Bem que poderia ser pelas praias de Punta Cana, mas não é este o motivo. Já explico a vocês.
Faz
pouco tempo, acompanhei alguns programas de gastronomia pela TV fechada.
Quando o apresentador desembarcou na República Dominicana, leitores, foi uma verdadeira
farra. Existe um prato naquele país que se assemelha muito à nossa feijoada, feito em
grandes panelas, com ingredientes específicos, servido em pratos fundos, no
fundo de quintal, acompanhado pelos ritmos locais e uma cachaça de rolha. Não sei se em razão da
influência espanhola - São Domingos, foi a primeira capital do império espanhol na América - o fato é que a culinária dominicana é fora de série. Somente a influência espanhola não daria conta de tantos sabores.
O que mais nos impressionou, num entanto, foi um desses restaurantes de beira de
estrada. Não apenas pela comida - pedaços de porcos, que são assados inteiros no
local - mas em razão de sua localização, bem em frente a um monumento erguido em homenagem à morte do ditador Rafael Trujillo, que infernizou a vida dos habitantes
daquele país durante décadas. Precisas três décadas, de 30 a 61.Coisa de idealistas. A lista é grande...ainda inclui as trilhas da Sierra Maestra, La Higuera...
Agora,
por ocasião da divulgação dos memorandos da Agência de Inteligência Americana
sobre torturas e assassinatos no país, escrevi um longo texto sobre o assunto,
mas preferi não publicá-lo, numa espécie de auto-censura, Laércio, em razão dos tempos bicudos que atravessamos. Há uma
grande polêmica em torno dessas revelações da CIA, justamento no momento em que
se observa um recrudescimento do golpe institucional de 2016, no Brasil. Li até
algumas ingenuidades sugerindo que a CIA estaria apreensiva com os rumos
políticos do país, quiçá preocupada com uma nova escalada autoritária no
continente americano, como já ocorrera em décadas passadas. A CIA nunca esteve
preocupada com isso, gente? O importante para aquele órgão é salvaguardar os
interesses norte-americanos na região, seja nos parâmetros de regimes de
democracia precária, seja através de ditaduras veladas, como ocorreu, por
exemplo, durante o regime do ditador Rafael Trujillo.
Seu
chefe de polícia, uma expressão eufemística para designar, na realidade, o homem
que chefiava as torturas, andava com uma agenda indefectível. Normalmente, se
anda com uma agenda para se anotar os compromissos e coisas assim. Quando elas
não são preenchidas, servem como caderninhos de anotações em reuniões. Esta,
no entanto, tinha uma peculiaridade macabra: ali eram listados, por ordem
alfabética e por países, todas as práticas de torturas existentes, aplicadas
sem piedade, aos opositores do ditador. Sua ascensão na cúpula de segurança do
regime foi meteórica. Se prestava perfeitamente aos serviços sujos, às
práticas dos estertores do regime. Mesmo
em regimes fechados, ditatoriais, os membros da Igreja Católica gozam de uma certa
blindagem. Na República Dominicana, ocorreu a morte de duas freiras, o
que causou uma manifestação de repúdio da comunidade internacional contra o ato bárbaro. Acionado, o
então secretário de Estado Norte-Americano, Cordell Hull, teria deixado escapar uma expressão lapidar para se entender o que, de fato,
conta quando se está em jogo os interesses norte-americanos na região: Ele pode ser um filho da puta, mas é o nosso filho da puta. Que filho da puta...
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