pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: O coito do PT pernambucano
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sexta-feira, 1 de junho de 2018

Editorial: O coito do PT pernambucano

 
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
Felipe Ribeiro/JC Imagem
 
 
Não faz muito tempo, li um artigo de um pesquisador cearense onde se fazia uma avaliação das estratégias políticas adotadas pelo Partido dos Trabalhadores no plano nacional. Para embasar seus argumentos, como nordestino da gema, o aludido pesquisador observava as recomendações de um ilustre pernambucano, ali de Serra Talhada. Nada mais nada menos do que Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Virgulino, de acordo com este pesquisador, recomendava aos seus cabras nunca invadir uma cidade com mais de uma torre de igreja, tampouco entrar num coito de uma única saída. Invadir uma cidade com mais de uma torre de igreja significava subestimar o poder de reação do inimigo, possivelmente com uma efetiva capacidade de defender-se. Seria uma cidade de porte médio, do tipo de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde Lampião e seu bando sofreram um grande revés.  Coito de uma única saída, na realidade, trata-se de uma ratoeira, bastante vulnerável a uma emboscada, sem chances de defesa. No plano nacional, a opção do PT em enfrentar as urdiduras golpistas pela via institucional mostrou-se profundamente equivocada, resultando em derrotas sucessivas, consolidando, assim, uma das premissas básicas dos operadores do golpe de 2016: esmagar o PT.
 
Neste momento de instabilidade institucional e  política, a garantia das eleições presidenciais de 2018 tornou-se uma incógnita, a depender de uma série de variáveis. Turbulências é o que não deverão faltar daqui para frente, o que pode levar os atores envolvidos nessas tessituras a "justificarem" seu cancelamento ou adiamento. Sempre convém observar que o establishment golpista ainda não possui um candidato para chamar de seu e salvar as aparências da não-democracia. Mesmo nessas circunstâncias, o PT ainda insiste em manter-se na estratégia de  apostar numa candidatura que se encontra numa cela da sede da Polícia Federal lá de Curitiba, dependendo da "via institucional" para viabilizar-se ao pleito. Dialogar com outras forças políticas do campo progressista, para alguns setores do partido, trata-se de uma atitude reprovável, uma heresia. Uma das condições impostas pelo PT ao PSB pernambucano - para consolidar uma aliança que rifa a eventual candidatura própria do partido do Estado - enfatiza que os socialistas não devem apoiar a candidatura presidencial de Ciro Gomes(PDT) no plano nacional.
 
Parte do PT pernambucano parece ter vocação para entrar em ratoeira. Isso vem de longas datas, desde a aliança com o então governador Eduardo Campos, que hegemonizou todo o processo aliancista - consoante seus interesses pessoais - abandonando o partido quando achou oportuno, colocando em curso seu projeto presidencial. Nem os nacos tradicionais de poder do partido - como era o caso da Prefeitura da Cidade do Recife - foram respeitados, mantendo-se na máquina apenas alguns "queijos-do-reino", que logo se mostraram mais amarelos do que vermelhos. Aqui em Pernambuco, uma aliança com o PSB representa não apenas uma derrota política, mas moral para o PT, como observou o cientista político Michel Zaidan Filho. Ela atende unicamente os interesses comezinhos de uma determinada caciquia partidária que já mandou às favas as instâncias deliberativas do partido, composta por sua militância, e, igualmente, os anseios mais nobres e republicanos da sociedade pernambucana, que, certamente, gostaria de ter na disputa candidaturas com um alinhamento político e programático distinto das velhas oligarquias carcomidas do Estado.
 
Embora nunca tenha participado de uma disputa majoritária, a vereadora Marília Arraes - sangue bom dos Arraes - aparece muito bem nas primeiras pesquisas de intenção de voto realizadas, num empate técnico com os principais nomes da disputa, o governador Paulo Câmara(PSB), que tenta a reeleição, e o senador Armando Monteiro, do PTB. De acordo com o levantamento do Instituto Múltipla, os três principais nomes da disputa aparecem com 15%. Não se nega aqui que Marília seja oriunda de uma linhagem política tradicional do Estado: Os Arraes. Ela hoje, no entanto, constrói seu projeto político envolvendo amplos setores da sociedade civil, além do seu comprometimento com a normalidade democrática e a sensibilidade às demandas sociais de setores socialmente fragilizados. Há uma identidade orgânica entre Marília  e amplos setores do PT, o que anima a militância em torno de sua candidatura. Abortar essa candidatura seria mais um equívoco.  
 
Aqui em Pernambuco, até recentemente, abriu-se uma competição macabra entre o PSDB e o PSB para se saber quem era mais golpista. O tal mandatário foi acusado por um adversário de ser até mesmo padrinho do atual chefe do Executivo Federal. Eis aqui uma das razões pelas quais a movimentação de alguns morubixabas petistas estejam causando tanta repulsa em setores da militância. Em outros momentos, não foram poucas vezes  em que a cidade amanheceu pichada com dizeres que afirmavam que o PT havia matado o ex-governador Eduardo Campos. Um outro gravíssimo problema seria a imposição dessa aliança pela Executiva Nacional da legenda, passando por cima das instâncias deliberativas locais do partido. Se se mantiver essa tendência, a Gruta do Angico do PT fica por ali nas imediações do Palácio do Campo das Princesas. A saída atende pelo nome de Marília Arraes.  

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