pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: O uso político da memória
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quinta-feira, 13 de março de 2014

Michel Zaidan Filho: O uso político da memória

 
                                                                       
                                           No dia 1º de abril deste ano, o golpe civil-militar de 1964 completa 50 anos. Como outras efemérides históricas do nosso calendário, vai ganhar vários seminários e debates. O grupo memória, da Pós-graduação de História, da UFPE, vai realizar um. O Espaço Socialista  também estará realizando um debate público, no SIMPERE, no próximo sábado.  Mas o governo do estado de Pernambuco parece ter se antecipado e juntamente com a UNICAP, o GAJOP e a Comissão da Verdade, resolveu fazer o seu na universidade jesuítica, durante esta semana.
                                          É sintomática a atitude de se antecipar às demais iniciativas da sociedade em rediscutir as consequências do regime militar no Brasil. Certamente, o nosso dirigente estadual tem interesse direto na reescritura desse triste evento. Primeiro, porque a família Arraes foi duramente atingida pelo golpe: o ex-governador Miguel Arraes foi deposto. preso, teve seus direitos políticos cassados e foi exilado do país. A lembrança dos seus feitos foi conspurcada pela historiografia do regime militar. Só se pôde deles ter  conhecimento  através de teses, livros e autobiografias produzidas  ao longo de todos esses anos. Em segundo lugar, há o interesse político do seu herdeiro político em tirar dividendos eleitorais das homenagens e louvaminhas aos atingidos, sobretudo aos da família do ex-governador. A propósito, a família foi alvo de uma homenagem, no início do encontro.
                                          O que mais importa chamar a atenção é o uso político, estratégico da memória histórica, destinado a produzir uma hagiografia cívica que sirva aos interesses do presente, às motivações da hora, aos objetivos políticos do grupo (familiar) ora no poder. Neste sentido, retornamos sempre ao conceito orwelliano da história, com o seu infame departamento da memória, reescrevendo o passado de acordo com as conveniências políticas  do presente. Podemos dizer como Nietzsche, Foucault e Crocce, já existe história do presente, nunca do passado. A nossa visão do passado não passa de uma mera racionalização de imperativos de poder. E ponto. Não sei se esses políticos de Pernambuco operam com essa sofisticação intelectual. São pragmáticos demais. Talvez contratem alguns pesquisadores, publicistas e acadêmicos para o fazerem.
                                           O fato é que se todo esse esforço hermeutico sobre o golpe civil-militar de 1064 deixar de realçar a sua essência bonapartista, apoiada na histeria anti-comunista das classes  média, para o aumento da internacionalização da economia brasileira, a formação de um sindicalismo de ponta, uma indústria cultural moderna e a  emergência de novos atores sociais, for trocado por uma hagiografia de sinal invertido, para satisfazer  interesses da hora, de nada terá valido todo esse vozerio e o ruido, a não ser para a publicação de artigos e livros, que irão rechear o curriculum lattes de alguns.
                                         Como dizia um filósofo, nada do que aconteceu está perdido para a História. Mas se permitirmos que os vencedores de outrora continuem vencendo,  nem os mortos, os desaparecidos, os torturados estarão a salvo em suas sepulturas.

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