Me perdoem por apelar para um título tão sensacionalista, mas não
resisti. Peço também desculpas aos estrategistas da campanha de Eduardo
Campos pelo susto.
O título me veio à mente assim que li matéria
de Bernardo Mello Franco, na Folha, informando que “a menos de um mês de
deixar o cargo para se lançar à presidência, o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, está concluindo uma licitação de R$ 100
milhões em propaganda”.
Segundo a matéria, o valor será o maior
já aplicado num ano desde que Campos tomou posse, em 2007; até 2012,
Campos gastava R$ 55 milhões e no ano passado esses gastos pularam 25%
para R$ 70 milhões. Em 2014, a alta sobre o ano anterior será de 17,6%.
Não vou criminalizar o gasto com propaganda de Campos, talvez não haja
nada de errado, mas aí você vê quanto mal causou ao país a manipulação
da opinião pública no caso do mensalão.
O mesmo publicitário que
receberá esses R$ 100 milhões do governo do estado, Edson Barbosa, da
Link Bagg, será o responsável pela campanha de Eduardo Campos. Aliás,
ele já é o publicitário de Campos há tempos: coordenou as campanhas do
governador, e depois a do prefeito do Recife, Geraldo Júlio, também do
PSB e, naturalmente, apoiado por Campos.
Se Antonio Fernando de
Souza, então procurador-geral da República, e Joaquim Barbosa, juiz
responsável pelo inquérito 2245 (que seria transformado na Ação Penal
470 alguns anos depois), não tivessem escondido o relatório de Flavio
Zampronha no gavetão secreto onde enfiaram o inquérito 2474, o Brasil
teria a oportunidade de conhecer as entranhas do financiamento eleitoral
no país.
O que Zampronha descobriu, em sua investigação, era que
Valério recebia dinheiro de inúmeras estatais, inclusive do Ministério
Público de Goiás, e investia em campanhas políticas.
Não é isso
que Edson Barbosa faz, de forma muito mais descarada? Ele receberá R$
100 milhões do governo de Pernambuco este ano, e ainda mais um cachê à
parte para fazer a campanha de Eduardo Campos. Me parece evidente ou
inevitável que uma parte daqueles R$ 100 milhões serão usados na
campanha de Campos, nem que seja, para sermos respeitosos, na forma de
“know how” e estrutura física.
Quem controlará se um computador,
se uma máquina fotográfica, se um grupo de operadores, adquiridos com os
R$ 100 milhões do governo pernambucano serão ou não usados na campanha
eleitoral de Campos? Não dá para controlar isso, até porque talvez não
haja nada de ilegal, embora, seguramente, seja um tanto questionável do
ponto-de-vista ético.
Ou talvez seja a realidade de todas as campanhas eleitorais no Brasil. Todo mundo arruma esquemas para financiá-las.
Ao manter o inquérito 2474 sob sigilo, Barbosa cumpriu o objetivo da
oposição midiática: o mensalão tinha que focar no PT, e apenas no PT.
Não podia ser transformado, como deveria ter acontecido, numa
oportunidade para o Brasil discutir o financiamento de campanha e
pressionar o parlamento a aprovar uma reforma política.
Isso não
interessava aos donos do poder, que adoram o fato das campanhas serem
caras. Porque assim eles podem controlá-las, e impor o filtro ideológico
mais importante para as elites: só os ricos podem se eleger. Com sua
fortuna de R$ 60 bilhões, a família Marinho, sozinha, pode bancar umas
20 ou 30 campanhas. Ou seja, pode bancar a campanha de seus candidatos
preferidos em eleições presidenciais por um período superior a 100 anos.
E não estou contando com a estrutura física das Organizações Globo, que
certamente somaria outros cem anos ao potencial dos Marinho de
patrocinar eleições.
Eles só não ganham (e se consomem de ódio
por causa disso) porque suas propostas são tão miseráveis, que não
conseguem convencer nem o mais simples representante do povo.
Por
isso, aliás, o ódio da mídia e da direita ao sindicalismo. Com todos
seus inúmeros problemas, o sindicalismo brasileiro é a única ferramenta
que a classe trabalhadora (leia-se esquerda) possui para conquistar uma
representação política.
Sem sindicatos, como será possível eleger um trabalhador?
Por isso também a direita quer tanto o voto distrital, que é a maneira
mais certeira de matar o voto sindical. Se tivermos de votar somente no
candidato do bairro, eliminaremos automaticamente o voto por categoria
de trabalho.
O voto distrital, por esta razão, é retrógrado, e
corresponderia a um profundo retrocesso democrático. É preciso libertar o
voto, não aprisioná-lo num distrito.
Eu penso inclusive que
poderíamos libertar uma parte dos votos legislativos do limite
geográfico. Podíamos votar em alguns deputados fora do nosso limite
estadual, o que abriria a oportunidade de elegermos representantes
políticos conforme a nossa afinidade ideológica ou categoria
profissional, independente do estado de origem dos mesmos. Surgiriam
mais representantes dos garis, dos motoristas de ônibus, dos
professores, dos blogueiros.
Miguel do Rosário no site Tijolaço.
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