Nunca pensei que no país houvessem tantos especialistas em análise de discurso. A constatação veio no dia de ontem, depois dos dois minutos de fala do presidente Jair Bolsonaro. O rápido discurso do presidente deu margem a inúmeras interpretações. Alguns tentaram extrair dalí - não sem uma certa forçação de barra - uma fala que se coadnuna à aceitação das regras do jogo democrático, uma admissão de derrota e uma captulação natural aos resultados das urnas. Neste aspecto, a nossa democracia poderia respirar aliviada, pois as recorrentes ameaças de golpes estariam superadas. Tenho dúvidas sobre se possamos chegar a tais conclusões.
Os bolsonaristas fizeram outra leitura dessa fala, entendendo que os protestos são legítimos, posto que amparados num processo eleitoral onde eles foram sensivelmente prejudicados. O que o presidente condenou foram os protestos à la esquerda, marcados por violências e badernas, consoante essa análise. Convém sempre tomar muitos cuidados em relação aos discursos. Bem lá atrás, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche nos informava que todo discurso é uma fraude, toda palavra uma farsa.
As verdadeiras intenções de um discurso não estão naquilo que ele revela, mas naquilo que ele omite, onde se pode identificar as reais intenções do autor do discurso. Essas preocupações de Nietzsche seriam depois retomadas pelo filósofo francês Michel Foucault, que, ainda inspirado no filósofo alemão, empreendeu uma algumas reflexões caucadas em narrativas sobre determinadas questões, ao longo de períodos históricos, como em História da Sexualidade, ou História da Loucuca. Quando criança, aqui no Nordeste, por exemplo, a virgindade feminina já foi um considerado um grande tabu. Hoje, nem tanto.
Na fala de Jair Bolsonaro - sem entrar nas entrelinhas ou no "não dito', pois a própria celeridade da fala já mereceria uma análise - prevalece duas questões preocupantes: A de que ele atua dentro das quatros linhas, embora alguns outros não o façam. Os "outros" são os velhos inimigos de sempre. Um outro aspecto é o não convencimento sobre a lisura na condução do processo eleitoral, ao afirmar que, supostamente, foram vítimas de alguns equívocos. Não queremos aqui fazer o papel do advogado do Diabo, mas, sinceramente, ainda não ficamos satisfeitos.
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