Nas décadas de 20\30 do século passado, o escritor alagoano Graciliano Ramos, muito tempo antes de consolidar-se como um dos grandes escritores regionalistas brasileiro, dedicava-se ao ofício de publicar suas crônicas em jornais do Estado. Posteriormente, essas crônicas foram reunidas no livro Linhas Tortas, que traz, mesmo que ainda incipientemente, algumas observações e conselhos do alagoano sobre o hábito de escrever. O texto chegou a ser utilizado pelo escritor pernambucano, Raimundo Carrero em uma de suas oficinas de escrita criativa. O livro deve ter sido publicado depois da morte de Graciliano. Em vida, exigente como ele era com a escrita, jamais permitiria que o texto fosse publicado.
Graciliano morreu sem nunca ter aceito o seu primeiro romance, Caetés, que ele considerava uma obra muito aquém do seu talento, a despeito da boa receptividade da crítica literária, inclusive do insuspeito Antonio Candido. Haveria um outra razão para o escritor rejeitar Linhas Tortas. Numa dessas crônicas, Graciliano, num momento de infelicidade, externa um comportamento de caráter misógino ou machista, ao afirmar que O Quinze, da amiga Rachel de Queiroz não poderia ter sido escrito por uma mulher. Ambos participavam de um círculo literário que se reunia no Bar Central, em Maceió, ao lado de Jorge Amado, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Gilberto Amado, Olívio Montenegro, Aurélio Buarque de Holanda.
É preciso tomar muito cuidado com as falas neste sentido. Na escrita, então, até alguns verbos estão sendo abolidos, como é o caso de "Esclarecer", tido como racista. Preocupa esse radicalismo proposto pelo identitarismo neoliberal, mas não se pode negligenciar suas implicações, sobretudo quando se considera os lugares de fala. O nosso presidente, por exemplo, foi muito infeliz ao perdoar os corinthianos recentemente, quando se referiu à violência contra as mulheres. Nesses tempos bicudos de lacrações pelas redes sociais, todo o cuidado ainda é insuficiente.
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