pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Nas entrelinhas das mobilizações contra o Governo Dilma Rousseff
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terça-feira, 15 de março de 2016

Editorial: Nas entrelinhas das mobilizações contra o Governo Dilma Rousseff






É preciso que se lance um olhar com bastante acuidade sobre as últimas manifestações ocorridas no Brasil, no domingo 13, contra a corrupção e o Governo da Presidente Dilma Rousseff. Impossível separar aqui, da agenda do movimento, o reforço ao pedido de afastamento da presidente Dilma. Não há dúvida de que chegamos a um estágio de impasse institucional. Alguma solução, construída a partir das instituições da democracia, terá que surgir desse imbróglio. Tudo leva a crer que o PMDB, sem qualquer remorso, entregará a cabeça da presidente Dilma Rousseff aos seus algozes, assim como um Judas, talvez antes mesmo da semana santa. 

Os atores principais que entabularão essas negociações não serão os representantes do Governo, mas da oposição ao Governo. Falta apenas chegar a um consenso sobre o naco de poder que o partido abocanha nessa fase de transição e o compromisso de não criar embaraços aos tucanos em 2018. Há alguma tendência da base governista em apressar o andamento do processo de impeachment, numa derradeira tentativa de manter um mínimo de controle do processo, antes do estouro definitivo da boiada. Hoje, é mais provável um golpe branco, uma vez que Lula poderá assumir a Casa Civil, deixando Dilma Rousseff, em sua poltrona, tal como uma rainha da Inglaterra, até o final do seu mandato.  

Creio que não seja mais o caso aqui de estarmos contestando a sustentabilidade de um pedido de impeachment, produzido sem um fundamento consistente, com o propósito claro de apear a presidente Dilma Rousseff do poder. A inação dos poderes constituídos da república nos conduziram a este impasse, solapando princípios comezinhos da nossa já frágeis instituições democráticas. Nenhuma resposta do Executivo às legítimas reivindicações da agenda proposta pelas Jornadas de Junho; um presidencialismo de coalizão agonizante; Lei dos Meios para conter a sanha golpista de alguns veículos de comunicação; uma proposição de reforma política que não avança; diretrizes econômicas equivocadas, que minaram o apoio dos agentes econômicos e financeiros; um escândalo de corrupção de proporções gigantescas; um governo com pouco apoio popular. Ou seja, é um emaranhado de problemas que minam qualquer gestão.

Ontem, domingo, foi um dia fatídico. A oposição conseguiu colocar mais de 6 milhões de pessoas nas ruas, de acordo com os seus cálculos. De acordo com a Polícia Militar, sempre mais precisa, a metade disso. De qualquer forma, um número expressivo. Dizer que a este grupo se juntam os tradicionais banhistas das orlas do Recife, do Maranhão, de Copacabana, apesar de ser verdade, também não ajuda muito. A despeito da identidade dos governos de coalizão petista com o andar de baixo da pirâmide social, governo é governo. Não se exclui aqui a elite ou classe média. E esses, no dia de ontem, manifestaram ma profunda rejeição ao Governo Dilma Rousseff. Uma rejeição que não pode ser ignorada. Movidos pelo ódio de classe? Talvez. Imbuídos de propósitos que não se coadunam com os pressupostos da democracia? igualmente. Alguns deles pediam intervenção militar e trajavam uniformes das forças armadas. Esse fato já nos oferece uma outra unidade de análise. Das mais preocupantes. 

Nada disso muda, entretanto, uma constatação. O Governo da Presidente Dilma está mergulhado numa profunda crise. Perdemos uma valiosíssima oportunidade de aperfeiçoamento de nossas instituições, de consolidar o respeito às regras do jogo democrático, através dos bancos escolares, através da sociedade civil, dos movimentos sociais. Ao invés disso, como disse, Mauro Santayana, cevamos urubus. Nosso grande temor é o que virá depois desse longo e tenebroso inverno. É exatamente aqui que entram as questões relacionadas às entrelinhas. 

Ontem senti que ficou um dia indefensável para os aliados da presidente Dilma Rousseff. Acompanhei as mobilizações dos amigos pelo microblog Twitter, o Facebook e a blogosfera. Já tivemos dias melhores. Já tivemos argumentos melhores. O ator global, José de Abreu, acabou baixando-se ao mesmo nível dos coxinhas, ao xingar de m. uma família de classe média. Se propomos a tolerância, não cabe aqui fazermos esse jogo. O espírito abatido parece ter turvado a inspiração e os argumentos dos seus defensores. Que nos perdoem os amnigos Turquim, Rovai, Azenha, Paulo Henrique, Brito entre outros. O grande mote para tentar desacreditar o movimento foi a foto daquele casal de classe média acompanhado dos filhos, sendo transportando num carrinho empurrado por uma babá. 

O que, de fato, preocupa. Preocupa a sintonia entre setores nada confiáveis da mídia, movimentos conservadores da sociedade civil, com caixa de ressonância nas instituições judiciais. A sequência de fatos que embalaram essas mobilizações de rua sugerem ações muito bem coordenadas. Houve quem informasse que o objetivo da condução coercitiva de Lula tinha como objetivo conduzi-lo à Justiça do Paraná. A intenção só não foi materializada pela intervenção de policiais da Polícia da Aeronáutica. O açodado pedido de prisão preventiva de Lula, formulado pelo Ministério Público de São Paulo, por sua vez, pareceu algo urdido para ser anunciado antes das mobilizações previstas para este domingo, inflando, assim, setores descontentes com o Governo. Essa tecitura preocupa na medida em que sugerem um engendramento entre os atores.

Outro fato relevante a ser observado diz respeito ao fermento de um Estado Policial entre nós, cujo tentáculos já se mostram visíveis, como nas ações da Polícia Militar de São Paulo para impedir uma assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos, em Diadema, São Paulo. As pichações ocorridas na sede da UNE.Quando as instituições vão perdendo credibilidades, esses grupos começam a ganhar força, agindo, por vezes, por iniciativas pessoais. Durante o Regime Militar, existia um Comando de Caça aos Comunistas. A quem esse pessoal dava satisfações sobre suas ações? Outro ovo da serpente são as possíveis ações de grupos fascistas, que já praticaram crimes de xenofobia e homofóbicos. Durante as manifestações de ontem, foram observadas saudações tipicamente relacionadas a esses grupos. Vamos voltar a falar sobre este assunto.  

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