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Prezado Sr. Reitor
Professor Anísio Brasileiro
É com um sentimento de indignação -e até de espanto- que tenho assistindo às ações que veem sendo cometidas por uma Comissão de Sindicância que supostamente está investigando alguns funcionários e alunos do Centro de Educação a respeito de sua participação nos eventos que culminaram na ocupação temporária da Reitoria e terminaram, como, aliás, vem se tornando prática corrente, com intervenção policial e processos judiciais contra seus autores.
Já deixei claro em outras ocasiões que sou contra as formas violentas de ação sobre adversários ou contendores, formas estas que desinstitucionalizam a política e sobretudo minam a autoridade de quem as utiliza. E é exatamente porque eu sou contra tais formas que não posso assistir indiferente ao espetáculo de judicialização de ocorrências que, no entanto, tiveram suas razões assentadas em motivos perfeitamente aceitáveis: a protelação da discussão e aprovação do Novo Estatuto, minuciosa e diligentemente coordenado pelo seu Vice Reitor à época, Professor Sílvio Marques, e que prevê, entre outras, a participação paritária de alunos e funcionários no Conselho Universitário.
E é porque sou contra tais formas destruidoras dos fundamentos da autoridade que não posso aceitar com tranquilidade que o principal dirigente de nossa instituição tenha tomado para si a condução de atos que, ao invés de proteger patrimônios ou espaços públicos contra supostos “semeadores do mal” (tal como consta dos autos) –uma linguagem, diga-se de passagem, mais adequada às formas expeditivas dos Tribunais do Santo Ofício do que a uma instituição laica e que se pretende conduzida por critérios de racionalidade moderna!- ações, repito, que minam a própria autoridade que o Senhor representa: quando tais ações são violentamente reprimidas por uma guarda pretoriana fantasiada de “tropa de elite”; quando as “recomendações” dos autos apontam para a transformação da Reitoria num “bunker” protegido a apartado dos agentes institucionais que ela representa para tratá-los como... bárbaros ameaçando as fronteiras do Império; quando os trabalhos da sindicância são conduzidos por uma professora que abertamente defende nas redes sociais intervenções militares na ordem constitucional e cerceamento do Estado de Direito, eu me municio de todas as razões para suspeitar do grau de legitimidade de que o Senhor dispõe para solicitar, como o faz constantemente, a união e a cooperação de todos para superarmos a quadratura grave que se anuncia para nossa instituição.
Não bastasse o delicado momento político-institucional que se desenha; a ameaça às conquistas sociais e educacionais dos últimos anos; as tentativas de criminalização dos movimentos de protesto e reivindicação; a chaga corruptora que corrói o caráter republicano de nossas instituições; a manipulação descarada da opinião pública pela mídia; o sentimento de abandono e desesperança dos mais pobres... e ainda temos de enfrentar, em nossa casa -a UFPE- formas de intimidação e amedrontamento que só vi em meus anos iniciais de UFPE, em plena período de exceção quando reagir a desmando e injustiças poderia ser a diferença entre continuar vivendo e desaparecer.
Não vejo a razão pela qual o Senhor danificaria a tal ponto a sua própria biografia, acatando denúncias e instalando tribunais (que no fundo irão julgar opiniões e não atos, como pode parecer!) que terminarão por manchar definitivamente a imagem que o Senhor construiu de pessoa interessada na coisa pública e com um passado de engajamento político que, provavelmente, muito o honra. Agir contra este passado e esta biografia o igualaria aos “injustos” e faria com que o Senhor tivesse que conviver até o fim de seus dias, com alguém que está em frequente desacordo consigo mesmo.
Não crie mais um abismo em nossa instituição; aja com serenidade, decrete o fim deste processo, e saia dele com a diginidade necessária para ainda se fazer depositário de nossa confiança.
Atenciosamente
Flávio Brayner
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