Ainda estamos em campanha. Setores da população continua armado até os dentes, numa torcida infernal para que o Governo Lula não dê certo. Há um bolsonarismo renhido torcendo contra o governo e isso pode ser concluído pela última pesquisa de avaliação, quando os escores praticamente empataram na margem de erro do Instituto Datafolha. Entre os bolsonaristas, as razões são simples. Eles ainda não assimilaram a derrota. Mas aqui também se incluem alguns formadores de opinião, segmentos empresariais e políticos oposicionistas, cujas indisposições com Lula são conhecidas.
De fato, o estrago produzido pelo governo anterior foi grande e não estamos tratando aqui de retórica - que poderia ser utilizada como justificativa para as eventuais dificuldades enfrentadas - mas de um dado efetivo da realidade. Lula enfrenta um grande problema estrutural, de qualquer chefe de Executivo no país: o chamado presidencialismo de coalizão, que contingencia o governante a estabalecer relações de corte nada republicanos com o Poder Legislativo, cedendo espaço na máquina e liberando emendas parlamentares. É isso ou se impõe o impasse, que pode desengavetar os pedidos de impeachment. Gente interessada em apresentá-los é o que não falta.
No plano das definições das macropolíticas públicas, há um impasse com as taxas de juros praticados pelo Banco Central, que colide com a macropolítica econômica do governo, criando diversos embaraços para o deslanchamento de algumas atividades econômicas. Ou seja, tanto do ponto de vista político, quanto econômico, Lula continua travado. Até um prêmio Nobel de Economia já tratou deste assunto, endossando a narrativa de setores do partido de que nossas taxas de juros são injustificáveis, para ficarmos com um termo menos polêmico. Por outro lado, há bons analistas do campo econômico que endossam essas taxas de juros praticadas pelo Banco Central. Aqui, pouco coisa pode ser feita, uma vez que o mandato de Roberto Campos Neto continua até bem próximo do final do terceiro governo Lula.
Para assegurar um mínimo de governabilidade, Lula já colocou até o Centrão no governo, mas o apetite dessa gente é insaciável. Este, aliás, é um dos aspectos que mais expõem o PT, pois vai de encontro às suas diretrizes político\ideológicas. A própria Gleisi Hoffmann, presidente nacional da legenda, trata o problema como um estelionato eleitoral. No varejo, Lula tem acertado todas, revogando medidas do governo anterior; retomando e moralizando programas importantes, como o Bolsa Família; atualiando os valores da merenda escolar e das bolsas de pesquisa da CAPES e do CNPq; reinstitucionalizando ou republicanizando a máquina, indicando servidores ou pessoas qualificadas e comprometidas para a direção de órgãos estratégicos, com anúncio, inclusive, de novos concursos públicos. Na realidade, Lula reverteu uma política de desmonte, de um lado, e de bolsonarização, do outro, ambas igualmente danosas. O Brasil voltou!
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