Sempre foi muito importante tomarmos alguns cuidados com as narrativas. Numa época como a de hoje, caracterizada pela pós-verdade, pela disseminação de fake news, então, esses cuidados precisam ser redobrados, para que não incorramos na possibilidade de disseminar mentiras como verdades absolutas. Alguns setores militares, por exemplo, não tratam do Golpe Civil-Militar de 1964 como um golpe de Estado, mas como uma revolução. Até mais recentemente, um dos expoentes ou viúvas desses estertores, voltou a tratar o assunto como tal, em fala proferida no dia 31 de março.
Por vezes, as narrativas se tornam tão eficientes que as próprias vítimas acabam reproduzindo-as, como foi o caso de uma leitura que fizemos, até mais recentemente, de uma fala produzida por um operário têxtil, tratando o golpe de 1964 como revolução, reproduzindo a narrativa dos militares. Outra falsa narrativa sobre as razões do Golpe Civil-Militar de 1964 diz respeito à ausência de apoio popular do ex-presidnete João Goulart.Quando ocorreu o golpe, o presidente Goulart detinha 70% de apoio popular, não reprimia os movimentos sindicais, estudantis e populares em curso, que colocavam amplos setores sociais na luta pelas reformas de base.
Foram exatamente essas reformas de base que passaram a incomdar amplos setores conservadores da burguesa nacional, que aliaram-se aos militares e arquitetaram a deposição de João Goulart, naquilo que o historiador e cientista político uruguaio, René Armand Dreifuss classifica como um golpe de classe. A burguesia nacional, consorciada aos interesses estratégicos norte-americanos na região, montou o cenário para a tomada do poder pelos militares. Até recentemente, um ministro do STF declarou-se estarrecido com o nível de alienação das pessoas que foram detidas por ocasião da tentativa de golpe frustrada do dia 08 de janeiro. É num ambiente como este que essas fake news ou narrativas falsas vicejam. Atenção, historiadores. Isso é um perigo!
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