Às vezes, uma mexidinha no tabuleiro político constitui-se em fatos dos mais elucidativos para entendermos o que, de concreto, está em jogo em algumas quadras. Recentemente, o prefeito de João Pessoa, do PT, Luciano Cartaxo, deixou o partido para filiar-se ao PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, um hábil articulador político. Tão hábil que a presidente Dilma Rousseff espera contar com o seu concurso para ver se salva o seu pescoço de um impeachment. A eleição de Cartaxo se deu numa quadra bastante inusitada. Luciano Agra, que era ligado ao governador Ricardo Coutinho, vinha fazendo uma excelente gestão. Pleiteava ser indicado pelo PSB, como candidato à reeleição, com o apoio de Ricardo.
Mas Ricardo tinha outros planos. Apoiar a reeleição de Agra, praticamente certa, seria credenciá-lo ao Palácio da Redenção num futuro próximo. Agra morreu no ano passado, mas, quem sabe, se ainda estivesse movido pelo combustível do poder talvez ainda estivesse vivo. Com o apoio de Agra, Luciano Cartaxo infligiu uma derrota acachapante a Estelizabel Bezerra, a candidata indicada pelo governador Ricardo Coutinho. Apesar da experiência, Ricardo imagina que eleição era algum concurso de bumbum. A atitude de Cartaxo, naturalmente, foi muito mal recebida pelos companheiros do partido, cuja militância deu o sangue por sua eleição. A maioria dos companheiros entregaram os cargos na Prefeitura de João Pessoa.
Nós, que acompanhamos de perto aquele processo, podemos, de fato, afirmar que a militância petista fez a grande diferença naquelas eleições. Possivelmente em nome do interesse público e da origem de ambos - Ricardo Coutinho antes de ingressar no PSB havia sido um histórico militante do PT - prefeito e governador, estabeleceram um bom link. Na eleição para governador do ano passado, quando Ricardo Coutinho tentava a reeleição, Cartaxo o apoiou. Comenta-se, à boca miúda, que o seu apoio foi decisivo.Política é como as nuvens - mudam constantemente, como ensinava uma raposa mineira - o novo cenário que que começou a se desenhar para 2016 começou a incomodar o ator Luciano Cartaxo, que deve tentar uma reeleição.
Ele começou a desconfiar de algumas movimentações dentro do próprio partido, numa espécie de aproximação demasiadamente perigosas com o atual governador Ricardo Coutinho. Um outro lance dessa jogada, segundo alguns analistas, seria uma aproximação com o grupo liderado pelo senador Cássio Cunha Lima. Os cassistas comemoraram a decisão do prefeito. Para a boca do palco, no entanto, a explicação dada pelo prefeito para sair da agremiação não convenceu muita gente: sua insatisfação com as denúncias de corrupção envolvendo alguns petistas. Interessante observar que é a bancada petista ligada à Igreja que mais incomodava ao prefeito Luciano Cartaxo.
Em política, corrupto e traidor são dois adjetivos que desagradam bastante os eleitores, mas, segundo dizem, a pecha de traidor ainda é mais danosa do que a pecha de corrupto. Fazia algum tempo que não acompanhávamos - como em outros tempos - as movimentações políticas no Estado vizinho. Já fomos bem mais regulares. Essa mexida no tabuleiro, entretanto, suscitou alguns desdobramentos, como as declarações do senador Cássio Cunha Lima de que o atual governador Ricardo Coutinho, teria oferecido dinheiro para que ele retirasse a candidatura nas eleições passadas.
Ricardo o desmente e emenda que nunca ofereceu dinheiro a ninguém, muito menos a vagabundo. Ao contrário, quando ainda estavam em lua de mel,, Cássio o infernizava, pedindo dinheiro para saldar dívidas de campanhas com um certo operador. Segundo fui informado, durante aquelas eleições que elegeu Cássio governador, motoboys recolhiam contas de água e luz pela periferia de João Pessoa e as devolviam pagas, com o compromisso do beneficiário em votar em Cássio, num flagrante crime eleitoral. O gerente dessa operação irregular chegou a jogar, pela janela de um prédio, mais de R$ 300 mil reais para evitar um flagrante.
Hoje, o senador Cássio Cunha Lima, que coordenou a campanha presidencial do senador Aécio Neves, nas últimas eleições presidenciais, é uma das vozes mais ativas da Câmara Alta em defesa do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Foi exatamente com este vestal que o prefeito Luciano Cartaxo foi se juntar, cometendo, como informou um parlamentar petista, uma espécie de suicídio político.
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