pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do cotidiano: José Lins do Rego e as rodas literárias das Alagoas.
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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Crônicas do cotidiano: José Lins do Rego e as rodas literárias das Alagoas.




José Luiz Gomes



As aulas de Teoria da Literatura, ministradas pelo poeta Marcos Accioly, eram bastante concorridas. As salas do Centro de Artes e Comunicação da UFPE ficavam abarrotadas de alunas, algumas delas mais interessadas no poeta do que no professor. Sabíamos disso pelas inscrições que ficavam registradas nas portas e carteiras, todas em alusão aos seus poemas. Didaticamente, Marcos também conduzia muito bem suas aulas, entremeando a teoria com as suas experiências pessoais e de viagens, o que deixava o ambiente menos anuviado. 

Um outro aspecto importante dessas aulas de Teoria da Literatura era a presença dos escritores pernambucanos, da velha e da nova geração, que discutiam suas obras com o alunado. Tornamo-nos amigos de alguns deles e voltávamos a nos encontrar, sempre aos sábados, na tradicional batida de maracujá, preparada pelo livreiro Tarcísio Pereira, na Livro 7. Desse grupo, aquele com o qual mais nos afinamos, Gilvan Lemos, morreu recentemente. Recife sempre foi uma cidade muito pródiga em termos de "rodas ou círculos literários". Sempre tivemos preferência pelo termo "rodas". Em sua época de estudante da Faculdade de Direito do Recife,  o escritor paraibano, José Lins do Rego, participou de algumas delas. 

Como já afirmamos em momentos anteriores, literatura, boemia e Flamengo eram as paixões do escritor paraibano. Não era mesmo do "eito" nem das "leis". Suas notas na Faculdade de Direito do Recife não passavam de um "simplesmente", o que significava que ele era aprovado "no limite". Era o que a gente poderia chamar de média mínima nos currículos atuais. O que nos intriga é que há uma intensão de trazer para o Recife a condição de berço literário de José Lins do Rego, menosprezando a importância de outros círculos ou rodas literárias na sua formação de escritor, como a de Maceió, nas Alagoas, onde ele escreveu e publicou quatro dos seus principais livros, inclusive o "Menino de Engenho"

Gilberto Freyre sempre fez questão de se colocar como uma espécie de mentor literário do escritor paraibano, José Lins do Rego. O curioso é que, no contexto dessa estratégia de consagração utilizada pelo sociólogo de Apipucos - como bem definiu o professor Diego Fernandes, no seu livro Contando o Passado, Tecendo a Saudade - possivelmente em razão do prestígio intelectual de Gilberto Freyre, José Lins nunca o contestou. Ao contrário, penso que até o estimulava. Pelas rodas de conversas regadas aos licores de pitanga e pela correspondência trocadas entre ambos - hoje exposta no Museu José Lins do Rego, em João Pessoa - não se pode minimizar o estímulo, os conselhos, as orientações de Gilberto ao discípulo. 

Portador de uma visão holística dos fatos sociais e detentor de uma inteligência singular, não foram poucos os atores sociais - bem conceituados dentro e fora da academia - que pediram conselhos ao mestre de Apipucos, como o historiador dos "flamingos", José Antonio Gonçalves de Mello e, de certa forma, o historiador do cangaço, Frederico Pernambucano de Mello que, dentro da perspectiva buourdieusiana de "legitimação", até recentemente voltou para a academia para cumprir os ritos acadêmicos.

Talvez em razão disso, como adverte Diego Fernandes, as rodas literárias do Recife também aparecem como determinantes na carreira literária José Lins, ao passo que outras rodas literárias, como as de Alagoas, são propositadamente minimizadas. A verdade é que, aqui no Recife, no apogeu da boemia, o escritor paraibano farreou bastante. Passava com um "simplesmente" pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, como já afirmamos, e caia na gandaia, até as altas horas, em redutos tradicionais do Recife daqueles tempos, na companhia de grandes nomes de nossa literatura e, certamente, de algumas "mariposas".Eita vidão, José Lins! 


Mas, como adverte o autor, não se pode ignorar a estadia do escritor na terra dos menestréis, inclusive no tocante à sua formação de escritor. Ali, nas rodas literárias, que se reuniam em bares conhecidos da orla de Maceió, José Lins trocou ideias com Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, gente importante para a sua formação literária, e alguns atores responsáveis pela publicação de seus livros, que apresentaram seus originais aos editores da época. A despeito do enorme sucesso de crítica e público que alcançaria, a primeira edição de "Menino de Engenho" foi bancada pelo próprio escritor. Somente depois - bem depois - já consagrado como um escritor em ascensão - é que José Olympio e Monteiro Lobato entraram na jogada.

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