A rigor, não é de hoje que suspeitamos sobre as irregularidades cometidas pelos serviços de inteligência do Estado no país. Depois das intensas mobilizações de rua de 2013 - que ficaram conhecidas como as Jornadas de Maio - vários episódios vieram à tona, como alguns inquéritos instaurados para punir supostos envolvidos naquelas manifetações, grampeados pelos serviços de inteligência. Pelo andar da carruagem das bisbilhotagem e eventuais punições, ficava claríssimo o viés seletivo dessas investigações, atingindo, majoritariamente, atores ligados aos movimentos de esquerda.
Salvo melhor juízo, algumas pessoas ainda estão encrencadas juridicamente por atos relativos àquelas mobilizações. Acreditamos que, por aquela época, já estava se desenhando o apagão democrático que presenciríamos nos anos seguintes, em especial por ocasião do Golpe Institucional de 2016 e o Governo de Jair Bolsonaro logo em seguida. Conforme observávamos naquele momento- mesmo sem ser agente da ABIN - tudo estava sendo milimetricamebte planejado e executado. Não havia improviso, embora houvesse algumas trapalhadas, típicas do despreparo dos atores envolvidos nas operações.
Até mesmo por ocasião do planejamento da tentativa de golpe de 2023, algumas dessas trapalhadas foram verificadas, como, por exemplo, as mensagens trocadas entre os conspiradores e as minutas de golpe que ficavam nas xérox para reprodução, como se fzia em nossa época de estudante, quando os professores deixavam o material para as aulas seguintes. Certo estava mesmo o Deputado Federal Pedro Aleixo, que afirmou, quando do recrudescimento do Regime Militar, em 1967, com a instituição do AI-5, que não confiava mesmo era no guarda da esquina.
Em 2013 havia um agente infiltrado entre os manifestantes da esquerda, encarregado de grampear telefones e acompanhar as movimentações dos "companheiros". Numa dessas conversas, ele ouviu a menção ao nome de um tal Karl Marx. Não teve dúvida, em seu relatório, ao sugerir o indiciamento desse indivíduo perigoso. A Casa Civil da Presidência da República, numa medida acertadíssima, determinou a exoneração dos agentes públicos envolvidos nessas operações irregulares da ABIN. É preciso ficar atento, no entanto, ao fato de que eles provavelmente cumpriam ordens, sendo necessário, por conseguinte, apurar e adotar medidas concretas contra eventuais superiores envolvidos.
O bolsonarismo transformou as instituições públicas brasileiras em charcos autoritários, onde, à revelia de princípios legalistas ou republicanos, as práticas asseditavias tornaram-se recorrentes, sob o beneplácito dos gestores - alguns deles ideologicamente identificados com o bolsonarismo - naquilo que classificamos como "assédio institucionalizado", atingindo atores que, sabidamente, não coadunavam com tal ideologia. Isso é grave. Gravíssimo. Sobretudo quando tais missões foram delegadas aos guardas da esquina, como sugeria Pedro Aleixo. O caso verificado na ABIN se extendeu para outras repartições, como prática de um desgoverno fascista, autoritário, sem o menor compromisso com os princípios que deveriam reger o serviço público. Causa asco observar, mesmo no Governo do PT, alguns desses atores ocupando espaço relevante na máquina pública.
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