Diretamente do seu retiro, localizado na zona rural da aprazível Bananeiras, cidade localizada na região do Brejo Paraibano, recebo um telefonema do comendador Arnaldo pedindo nossa opinião sobre uma polêmica decisão do Tribunal de Justiça da Paraíba, que proibiu a leitura da Bíblia na abertura dos trabalhos da Câmara Municipal da cidade. Faz algum tempo que não voltamos à cidade, outra queixa do amigo comendador. Tempos bons aqueles, em que nos embreávamos pelas trilhas, tomávamos banhos de cachoeira, comíamos a melhor comida do Brejo, em restaurante localizados nos antigos engenhos banguês do período do apogeu da cana de açúcar na região. Hoje eles produzem apenas cachaças e uma boa rapadura. O prazer é ainda maior, em razão de nossas conecções literárias, quando sabemos que estamos numa ambiente oinde foram produzidas grandes obras da literatura regional, a exemplo de A Bagaceira, de José Américo de Almeida.
Ora, Arnaldo, sobre a questão em lide, somos a favor. Concordamos com a decisão do Tribunal de Justiça. Afinal, o Estado é laico, consoante exara a Constituição Brasileira, promulgada em 1988. Simples assim. Nada contra os evangélicos e, muito menos ainda, com as Sagradas Escrituras. A laicidade é republicana. Existe exatamente para permitir a livre manifestação de uma crença religiosa, seja de qual natureza for. Convém sempre tomar os cuidados necessárias sobre essa partidarização das religiões. No final da década de trinta do século passado existiam setores conservadores da Igreja Católica apoiando a ditadura do Estado Novo.
Em tempos atuais, sabe-se, por exemplo, que amplos setores neopentecostais acompanhariam as insanidades antirrepublicana e autoritária do bolsonarismo radical. Sempre advertíamos por aqui que, na Bolívia, o golpe de Estado foi dado com a Bíblia na mão. O país está vivendo um momento bastante delicado de instabilidade institucional. Convém tomar as medidas necessárias para não inflamar ainda mais esses radicalismos, acompanhados, quase sempre, de intolerância, como já ocorre em relação aos cultos de matriz africana, tratados por alguns grupos evangélicos como adoração do demônio. É isso, comendador.
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