pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Dilma Rousseff: Pai, afasta de mim esse cálice.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Dilma Rousseff: Pai, afasta de mim esse cálice.


 


José Luiz Gomes

Tenho lido muitos artigos e comentários lúcidos sobre este momento de turbulência da política brasileira. Embora polêmico, o artigo de Gregório Duvivier, publicado em primeira mão no Jornal Folha de São Paulo, é um deles. Não menos importante, as reflexões do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, que suscitaram um outro artigo escrito por nós. O artigo do articulista Duvivier, por alguma razão desconhecida - talvez pelo fato de ter sido publicado num espaço como a Folha de São Paulo - provocou maiores polêmicas do que o artigo do professor do IUPERJ, Wanderley Guilherme, inevitavelmente com algum sotaque acadêmico, o que pode ter inibido alguns leitores desavisados. Não sabem o que perderam. Wanderley Guilherme é um dos mais argutos observadores da nossa realidade política.  O artigo foi publicado no blog pessoal, mantido pelo professor. No final, ambos vão convergir para a encruzilhada política em que o PT se meteu, fazendo concessões demasiadas a essa corja de políticos fisiologistas, empreiteiros, banqueiros e empresários sem o menor pendor de espírito público, que, por fim, conduziram a legenda a esse cadafalso, esse beco sem saída, esse caminho sem volta, com alguns integrantes, possivelmente, envolvidos em ilícitos, como está sendo evidenciado em alguns casos.  


Lamentavelmente, segundo Wanderley, essa parece ter sido a única forma de engenharia política possível, que permitiu a adoção das políticas públicas redistributivas adotadas nos Governos da Coalizão Petista. Sempre soubemos que a decisão de atender às demandas dos setores desafortunados foi alcançado com muito custo, mas não imaginávamos o quanto. Aos poucos, o Governo Dilma vai perdendo completamente a sua identidade, se aprofundando num terreno pantanoso, de futuro incerto. Pelas redes sociais, pululam as convocações de manifestações contra e a favor do Governo. Uma para o dia 16, contra, e a outra pra o dia 20 de agosto, esta a favor. Mais uma vez, nos intervalos dessas possíveis polarizações, perde-se muito em termos de análise.  

Melhor seria dizer que ambas são contra o Governo e a do dia 20 pode ter um caráter até mesmo mais emblemático, demonstrativo de que o Governo vem perdendo espaço na sua base de apoio popular, o que pode ser até mais grave do que essas manifestações convocadas pelos "coxinhas".  Apoios aqui Dilma nunca teve mesmo. O problema maior é a erosão do capital político do PT junto às suas bases de sustentação política históricas. A cada dia o Governo Dilma aprofunda esse hiato. Por último - numa manobra política de sobrevivência até compreensível - está sendo comemorado com grande alarde a tal agenda política positiva do senador Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. 

Um primor de agenda neoliberal, capaz de fazer corar os mais ilustres representantes do tucanato. Alguns pontos, como a frouxidão na legislação de proteção às terras indígenas; possíveis pagamentos às intervenções realizadas pelo SUS, consoante a faixa de renda dos indivíduos atendidos, e o não estabelecimento de índices que amarrariam os investimentos de verbas públicas destinadas à educação, acreditamos, nem eles mesmos teriam a ousadia de propor. Acuada, Dilma Rousseff disse com todas as letras que essa era a agenda para o país, sem qualquer reparo à proposta do senador. Aliás, tudo aqui cumpre um script. Renan é mais uma peça da engrenagem anti-golpista. Por outro lado, também é um fato que Dilma "loteou" o seu Governo entre os seus algozes, descaracterizando-o completamente. O mercado conduz as políticas econômicas, o PMDB traça as linhas políticas, num clima de equilíbrio instável, disposto a assumir o leme no menor vacilo. Um cheiro bizarro no congote da presidente Dilma Rousseff, como bem ilustrou em charge o colega Renato Aroeira. 

O que fazem Dilma e o PT?apenas observam, sem reunirem as condições necessárias para uma reação, aceitando essas imposições, ampliando o fosso que os separa dos movimentos sociais. Este, definitivamente, como disse uma amiga internauta no dia de ontem, não é o meu governo, não é o governo que ajudamos a eleger. O legado de conquistas sociais obtidas nos últimos anos, embora esteja muito longe de horizontalizar a sociedade brasileira, é inegável. Essas reformas substantivas, acredito que apenas um partido com as características do PT poderia implementá-las. 

Defenderemos até as últimas consequências o seu mandato, constitucionalmente obtido nas urnas, dentro de um esquadro de legalidade; não há nada que justifique um pedido de impeachment e isso seria muito traumático para a saúde de nossa frágil democracia. Mas, infelizmente, política é feita de circunstâncias e estas se tornaram sombrias logo no início deste segundo mandato. Dilma já não faz aquele governo para o qual foi eleita. Foi literalmente atropelada pelo torniquete político e econômico imposto pela oposição. Ela é muito forte, forjada na luta. Do tipo que cai de cabeça erguida, mas, lá no fundo, pode estar repetindo o refrão da música do Chico Buarque de Hollanda: Pai, afasta de mim essa cálice. 

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