José Luiz Gomes
O Planalto amanheceu mais calmo nesta segunda-feira. De uma certa forma, o arrefecimento em torno das possíveis mega manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, apenas se confirmaram. O comitê de crise foi instaurado, cumpriu suas formalidades, mas, no final, pode comemorar uma vitória parcial. Aliás, no Governo Dilma, tudo se tornou muito parcial, inclusive essa vitória nas ruas. Os "consensos" de governabilidade construídos nessa gestão estão muito fragilizados, movidos por tréguas temporárias, cessão às chantagens, um alto custo republicano e prazos de validade exíguos. A linha de políticas públicas que se propunham ao enfrentamento das nossas históricas desigualdades sociais e ausência de oportunizações ao andar de baixo da pirâmide social - tão elogiada em todo o mundo, em razão das conquistas irrefutáveis - penso, terá que esperar alguns anos. Isso para não dizerem que somos pessimistas.
Sinceramente, não creio que, nessa conjuntura política e econômica, possamos ter a retomada dessas políticas estruturadoras. Não com o mesmo vigor de outrora. As negociações em torno de sua materialização estão irremediavelmente comprometidas, até mesmo pelo "ranço" de nossas elites, que nunca viram com bons olhos essas concessões ao andar de baixo. Não sei quanto tempo ainda vamos esperar por isso, mas, a rigor, este "país" continuará cindido, marcado a ferro e fogo, em suas relações sociais, pelas origens da Casa Grande & Senzala, como dizia o sociólogo Gilberto Freyre.
Pontualmente, as manifestações do dia de ontem dão bem a dimensão disso. A classe média e a elite não escondiam o rancor, o preconceito, a intolerância, a incompreensão contra aqueles que ousaram reconhecer os direitos inalienáveis dos segmentos mais socialmente fragilizados da sociedade brasileira. Coisas horrorosas foram vistas nas ruas no dia de ontem, como cartazes pedindo socorro aos militares; outros lamentando que Dilma não tenha sido morta durante a ditadura militar; outros ainda lamentando que essa "corja" não tenha sido exterminada naqueles idos. Confesso que não sei sequer como qualificar isso. Despreparo? Falta de informação? De responsabilidade? Talvez um misto de tudo isso.
Custa a acreditar que alguém, em sã consciência, possa pedir "socorro" aos militares. Eles não fazem ideia do que representou para o país uma ditadura militar, que torturou; censurou; cassou parlamentares; exilou nossos melhores intelectuais; perseguiu os opositores; abortou as reformas de base etc. Num excelente artigo, publicado aqui pelo blog, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, defende a tese de que, até mesmo as conquistas sociais obtidas nas administrações petistas foram negociadas com possíveis permissividades às orgias com o desvio dos recursos públicos. Por fora, alguns petistas de caráter mais duvidoso, também teriam cedidos à tentação.
É neste sentido que fica mais evidente que o Governo acabou. Não há solução a curto prazo. O sistema político está irremediavelmente comprometido por um câncer em estado avançado. Por que não haverá mais golpe? Porque, em última análise, ele já foi dado, conforme afirmamos antes. O capital dita suas regras na condução da política econômica e,na política, o grande avalista do Governo hoje é um cara que atende pelo nome de Renan Calheiros. O Brasil é um caso perdido.
Crédito da foto: Bruno Toturra.
Crédito da foto: Bruno Toturra.
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