Lamentavelmente, a imprensa que nós temos não ajuda a civilizar e/ou informar aos cidadãos. Faz coro comum com o poder econômico e o poder político da nossa região. Entende-se - embora não não se justifique - que a bolada de 100 milhões de reais para a propaganda institucional do ex-governador do Estado deve ter sido um grande argumento para torná-la dócil e a disposição das conveniências e interesses dos governantes de turno, seja de que partidos forem. Mas isso não explica porque a mídia local (e nacional) vem silenciando o lado obscuro das manobras eduardianas para obter recursos destinados ao financiamento (leia-se aliciamento de partidos e candidatos) de sua reeleição ao Governo do Estado, TAL COMO FOI DENUNCIADO PELO SENHOR PAULO ROBERTO COSTA, ex-gerente de operações da PETROBRAS, em delação premiada, na presença de testemunhas que estão vivas.
Mais ainda, toda operação midiática e partidária do clã eduardiano no sentido de transformá-lo num estadista, num herói nacional, num mito político, em um país carente de notabilidades instantâneas e midiáticas. O Jornal do Comércio entrou em contato com a assessoria de imprensa da Universidade Federal, através de um cientista político que fizesse um comentário (supõe-se que independente) sobre o falecido, pois estava preparando uma edição especial sobre o aniversário de morte do ex-governador. Citaram um nome de alguém que tinha escrito o único livro sobre o político pernambucano, de uma perspectiva crítica. O editor do jornal ou da seção ou da matéria preferiu ouvir os companheiros de infância e de adolescência da época do Colégio S. Bento, em Olinda, elogiando a capacidade política, agregadora, estrategista, de liderança do mesmo, desde o período do movimento estudantil e do diretório dos estudantes de economia, da UFPE.
Poderia ter repetido as palavras de Nietzsche: porque era tão inteligente, tão formoso, tão sábio etc., o livro "Ecce Homo". O outro, que já foi assessor de imprensa do ex-governador e presidente do sindicato dos jornalistas, tornou-se editor e curador de obras e eventos sobre o PSB, Arraes e o neto, com recursos da Fundação João Mangabeira. Ou seja, com recursos do fundo (público) partidário. Como se isso fosse pouco, os eduardólatras e cia. enviaram para as nossas caixas postais eletrônicas mensagem da Fundação do PSB, convidando para uma cerimônia, na casa de recepção Arcádia-Boa Viagem, para o lançamento das obras inéditas e inacabadas do grande e impoluto estadista falecido: Eduardo Campos. Melhor faria se não publicassem nenhum livro, com artigos alheios sem permissão estrita dos autores e tivessem, ao menos, a gentileza de comunicá-los.
Tudo isso faz parte de um movimento político-eleitoral antecipado. O grupo político do ex-governador , na ausência do chefe, caminha para se esfacelar, sobretudo quanto mais perto fica a eleição. As alianças - do amplo palanque montado com a dinheirama - começam a se desfazer. O PSDB dá sinais de querer uma candidatura própria, aproveitando o bom desempenho de seu candidato, nas eleições passadas. 0 rancoroso do PMDB também se movimenta, dando sinais de que o seu partido também possa ter candidato (talvez ele mesmo). 0 PC do B está sendo alijado pelo seu parceiro, em Olinda e no Recife. Enfim, toda essa comoção familiar e partidária em torno de quem já morreu não passa de uma artimanha política, com o objetivo de arrancar dos eleitores as últimas lágrimas, pela morte do indigitado político, que ajudem a eleger um a prefeito, outro a vereador,outro a deputado, outro a senador e por aí vai.
Um conselho: olho vivo no senador Fernando Bezerra Coelho, porque ele ainda não digeriu o fato de ter se preterido pelo chefe, na sucessão estadual. Nesse ambiente de disputas veladas e outras nem tanto, o apetite, a ambição política e a matreiriçe do senador sertanejo ainda pode surpreender a seus correligionários de partido aqui, em Pernambuco.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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