Seria inevitável que os políticos mantivessem um certo grau de pragmatismo. Mas seria igualmente necessário que esse pragmatismo fosse acompanhado do respeito às regras do jogo democrático, do interesse público acima tudo. Espanta o comportamento do senhor Fernando Henrique Cardoso, um homem que já foi presidente do país por dois mandatos, manter uma postura temerária, oscilante - e de certa forma irresponsável - quando se trata de preservar as instituições de nossa já combalida democracia. Parece mover Fernando Henrique Cardoso uma torcida indisfarçável pelo malogro do Governo Dilma Rousseff. Para que não se sabe muito bem, uma vez que o consenso a que se chegou - mesmo entre os golpistas de turno - é que seria inoportuno uma ruptura institucional neste momento, onde todos teriam muito a perder.
Na nossa época de peladeiro, desconfiávamos bastante daquele garoto que dizia que jogava bem em qualquer posição. Essa regra parece que se aplica ao ex-presidente Fernando Henrique. Consoante as mudanças das nuvens, ele se coloca como um conciliador, no dia seguinte aparece postando em sua página que a presidente faria um gesto de grandeza se renunciasse, porque o seu governo é legal, mas não é legítimo. Não satisfeito, conhecendo as divisões no ninho tucano, antecipou-se em procurar o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves no sentido de que eles afinassem o discurso.
Conhecedor do desgaste do senador Aécio Neves, o governador Geraldo Alckmin foi um dos principais avalistas no abortamento dessa conspiração golpista. Ele disputa a vaga de concorrente em 2018 e sabe que isso só será possível com a manutenção das regras do jogo democrático. Do alto dos seus mais de 80 anos de vida, intelectual respeitado, duas vezes presidente da República, confesso que esperava mais comedimento do ex-presidente. Podia se dedicar agora a escrever seus artigos, dar suas palestras. Faria um bem danado ao país se ficasse na sua, como se diz aí fora.
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