José Luiz Gomes
Hoje li um artigo muito lúcido do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. Tivemos a oportunidade de conversar com ele, por alguns poucos minutos, há alguns anos atrás, antes de sua palestra no antigo Seminário de Tropicologia da Fundação Joaquim Nabuco, ainda sob o comando do sociólogo Sebastião Vilanova. Depois, em razão de nossa dissertação de mestrado utilizar algumas referências teóricas concebidas por ele, voltamos a manter alguns contatos pontuais. Wanderley é o autor da tese de Lei de Ferro da Competição Eleitoral, que, literalmente, centrifuga as mais nobres aspirações das agremiações partidárias, mediante o jogo pragmático da competição pelo voto, que estabelece suas regras próprias, inexoráveis. Alguns partidos, sobretudo os orgânicos como o PT, nascem pequenos, conquistam os eleitores ideologicamente orientados, mas, no decorrer do tempo, precisam acenar para outros contingentes eleitorais, concretizar alianças, formalizar coalizões de governo e é exatamente aqui que mora o perigo. O ideal seria se esses partidos, depois que chagassem lá, pudessem se livrar dessas forças auxiliares - conforme recomendava Maquiavel - mas nem sempre isso é possível.
O PT, de certa forma, também foi vítima disso. Para chegar lá, precisou compor alianças com forças conservadores; fazer concessões demasiadas aos setores da elite; conviver com a corrupção dentro do seu quintal, atingindo, inclusive seus membros de caráter mais frágil. Com bastante lucidez, o professor Wanderley Guilherme, em linhas gerais, advoga que esse foi o preço a ser pago pelo partido ao adotar as políticas sociais que favorecerem o andar de baixo, em suas gestões.À medida em que essas políticas se ampliavam, na mesma proporção, ampliavam-se as necessidades de novas e perniciosas permissividades aos setores conservadores da sociedade brasileira. Conservadores e não menos corrupto. Eis aqui uma equação bastante complicada.
Esse jogo, segundo o cientista político, levou a esse impasse político ou crise institucional gravíssima que estamos vivendo no momento. É... isso não poderia dar muito certo mesmo. A dimensão do problema é perceptível pelos atores políticos envolvidos nessas falcatruas. Tudo indica que teremos um suspiro de república na próxima segunda-feira. Rodrigo Janot, que foi reconduzido ao cargo de Procurador-Geral da República - numa atitude louvável da presidente Dilma Rousseff - deve denunciar nada menos que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha(PMDB), Renan Calheiro(PMDB), presidente do Senado Federal, e o senador Fernando Collor de Mello, que o tratou de filho da puta recentemente. Os três, em tese, são "aliados" do Governo Dilma. Vejam que confusão estamos metidos.
Nos raros momentos em que a república atua, tem que cortar na própria pele. Num debate recente, o também cientista político, Claudio Gonçalves Couto, da FGV, que inciou seus estudos acadêmicos com uma dissertação sobre o Partido dos Trabalhadores, também se declarou pessimista sobre o rumo do país. Essa profunda hierarquização do país, cindindo em polos opostos, o andar de cima e o andar de baixo, constitui-se, de fato, num gravíssimo problema. Infelizmente, talvez não tenhamos mesmo solução para isso. Quando houve a "libertação dos escravos", já naquela época, o abolicionista Joaquim Nabuco alertava sobre a necessidade de construirmos mecanismos de inclusão social para os recém-libertos, homens e mulheres desprovidos de educação formal, sem terra, sem teto, sem família, num quadro de profunda fragilidade social.
Os anos se passaram e a situação mudou um pouco, mas muita coisa ainda precisaria ser feita pelo andar de baixo. Ao se confirmarem a tese do professor Wanderley Guilherme, essa concessões ao andar de baixo só podem ser materializadas através dessas negociatas, em última análise, lesivas aos interesses republicanos, já que envolvem "liberalizações" para malversações de recursos públicos e corrupção desenfreada dos seus agentes. Algo que só temos a lamentar profundamente. Parece não haver um denominador comum ou uma equação política para um país chamado Brasil. Pelo andar da carruagem política, vamos continuar cindidos, sem aquele encontro fundamental entre os andar de cima e o andar de baixo.
Nada mais ilustrativo desse quadro descrito pelo professor do que a foto acima, publicada por um jornal de grande circulação, sobre o famoso "Panelaço" promovido pelos coxinhas contra o Governo Dilma Roussef, durante o programa do PT. Não temos mais nada a dizer sobre as nossas elites, que já não tenha sido dito. Continua escravocrata, preconceituosa e com um grau de insensibilidade social fora do comum. Esse é legado de 365 anos de escravidão, como dizia o professor Paulo Henrique Martins, da UFPE. Hoje se dissemina um ódio voraz contra um partido que ousou quebrar esse paradigma, mesmo com esse alto custo. Para ser mais fiel ao professor Guilherme, ódio aos seus eleitores, vítimas preferenciais desses algozes. No final do texto, Guilherme faz até um apelo a presidente Dilma Rousseff no sentido de defender os seus eleitores. Eles não tem culpa de nada.
O resultado é este que estamos presenciando cotidianamente. Um partido que, numa busca desenfreada pelo poder, meteu os pés pela mão - como diria nossos avós -; oligarquizou-se e afastou-se dos movimentos sociais que sempre lhes deu suporte; e, no final, capitulou-se a um receituário de corte neoliberal, comprometendo as políticas de inclusão social e subtraindo direitos dos trabalhadores. Estudo o partido dos Trabalhadores desde as suas origens, na histórica reunião do Colégio Sion, em 10 de fevereiro de 1980. Sinceramente, não gostaria de estar escrevendo isso no dia dos pais. A julgar pelo que diz o professor Wanderley Guilherme, no contexto da quadra política brasileira, talvez não houvesse mesmo outra saída. É triste chegarmos a essa conclusão. Observem que a senhora apenas medita sobre o comportamento da patroa, que bate panela atrás dela. Como nós gostaríamos de saber o que ela estaria pensando.
O resultado é este que estamos presenciando cotidianamente. Um partido que, numa busca desenfreada pelo poder, meteu os pés pela mão - como diria nossos avós -; oligarquizou-se e afastou-se dos movimentos sociais que sempre lhes deu suporte; e, no final, capitulou-se a um receituário de corte neoliberal, comprometendo as políticas de inclusão social e subtraindo direitos dos trabalhadores. Estudo o partido dos Trabalhadores desde as suas origens, na histórica reunião do Colégio Sion, em 10 de fevereiro de 1980. Sinceramente, não gostaria de estar escrevendo isso no dia dos pais. A julgar pelo que diz o professor Wanderley Guilherme, no contexto da quadra política brasileira, talvez não houvesse mesmo outra saída. É triste chegarmos a essa conclusão. Observem que a senhora apenas medita sobre o comportamento da patroa, que bate panela atrás dela. Como nós gostaríamos de saber o que ela estaria pensando.
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