José Luiz Gomes
Ontem, publicamos aqui no blog um artigo do professor da UFPE e cientista político, Michel Zaidan Filho. Numa almoço de confraternização, uma fonte ligada aos neo-socialistas locais desde os tempos de militância estudantil, revela detalhes da engenharia política montada pelo ex-governador Eduardo Campos no Estado. Talvez não houvesse pessoa mais indicada para ter acesso a essas informações do que o professor Zaidan. Michel já estuda essa engrenagem política a um bom tempo - tendo produzido artigos e livros sobre o assunto - além de possuir uma aguçada capacidade de interpretação dos fatos políticos da província e do país. Um outro dado preponderante - observado pelo professor - é que essas revelações nos fornecem elementos para analisar com mais clareza o quadro político das próximas eleições municipais de 2016, no Recife, além dos possíveis desdobramento da correlação de forças políticas no Estado.
A morte prematura do ex-governador Eduardo Campos deixou, entre os neo-socialistas tupiniquins, uma espécie de sentimento de orfandade, agravada pela ausência de consensos sobre quem, na realidade, deveria herdar o espólio do ex-governador. Numa declaração recente, o irmão Antonio Campos, numa resposta a uma indagação sobre a sua disposição em entrar para política partidária/eleitoral, teria afirmado que as famílias Campos e Arraes não poderiam ficar de fora da quadra política do Estado. O problema maior é que existem muitos aspirantes a essa liderança e poucas possibilidade de construção de consensos. Falta aos neo-socialistas no Estado uma liderança agregadora, com vaselina política suficiente para superar os obstáculos e argamassa para juntar as pedras, permitindo os rejuntes necessários para a flexibilidade da dilatação, contribuindo para evitar a implosão do grupo.
A rigor, a liderança política e estratégica do grupo era exercida pelo ex-governador. Com a sua morte, ficaram no exercício do cargo público os seguidores com perfil executivo, os gerentes, homens de fidelidade canina ao chefe, mas que até preferiam atuar nos bastidores, coxias políticas, sem o menor traquejo para o manejo político. Tanto o atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio(PSB), assim como o governador do Estado, Paulo Câmara(PSB), se enquadram nesse perfil. Com Eduardo, não morreu apenas um homem, mas o estrategista do núcleo de poder dos neo-socialistas locais. Alguém com capacidade aglutinadora, de formulação política, capaz de soldar as alianças, estabelecer as estratégias, escolher (não seria determinar?) os nomes, vencer as eleições.
Morto prematuramente, também não houve tempo do ex-governador preparar alguém para assumir essa tarefa, que recairia, muito provavelmente, entre um dos seus filhos, fiel à tradição do familismo amoral. Já faz algum tempo que os neo-socialistas locais estão batendo cabeça, embora não se soubesse, com precisão, os reais motivos. Agora já se sabe. Compreende-se agora porque Geraldo Júlio encontra-se num campo minado, enfrentando problemas de condução política entre aliados e opositores. O caboclo não é do ramo.
Alguém já informou que a estratégia política do senhor Geraldo Júlio consiste, tão somente, em esvaziar possíveis candidaturas que possam atrapalhar seus planos de continuar como inquilino do Palácio Antonio Farias. Não nego que, em certa medida, isolar as pedras mais competitivas do tabuleiro adversário seja uma estratégia que possa produzir seus efeitos positivos, mas ele irá precisar muito mais do que isso. Isola-se esses adversários no contexto de uma estratégia onde fique claro qual será o lance a seguir. Com Geraldo Júlio, certamente isso não vem ocorrendo. Ele parece desconhece os próximos lances, permitindo a penetração nos seus flancos.
Como não existe vácuo de poder que não seja ocupado, nesta semana, duas das mais expressivas raposas políticas do PSB foram a um encontro com o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos (PMDB). Em tese, o ex-governador João Lyra e o senador Fernando Bezerra Coelho teriam ido conversar sobre a conjuntura nacional, posto que o nome do deputado passou a ser ventilado, caso venha a ocorrer um possível afastamento do senhor Eduardo Cunha(PMDB) da presidência da Câmara dos Deputados. Além, evidentemente, das especulações em torno de uma possível pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, onde o pernambucano já assumiu uma posição claramente contrária. Um passarinho nos contou, entretanto, que a conjuntura dos arranjos políticos locais também teria entrado nas discussões.
A blogueira Noélia Brito, durante a semana, informou que poderia estar sendo articulada uma chapa envolvendo os nomes dos deputados Jarbas Vasconcelos(PMDB), na cabeça, e do também deputado Daniel Coelho(PSDB) na vice. Segundo se diz, seria uma chapa invencível. Caso isso se materialize, estaríamos diante, quem sabe, de uma reedição da União por Pernambuco, inclusive com um "escalonamento" de poder previamente acertado entre os atores. Da primeira vez, a entrada em cena de um ator como o ex-prefeito João Paulo(PT), hoje na presidência da SUDENE, precipitou a implosão do grupo. O problema aqui é o da imprevisibilidade política, ou seja, como advertia o saudoso Mané Garrincha, é preciso "combinar" antes com os adversários. A primeira eleição de João Paulo para prefeito do Recife, desmontou o planejamento do grupo, ampliando os problemas internos daquela coalizão política.
Observem bem que foram duas lideranças com experiência política que procuraram o senhor Jarbas Vasconcelos, o que pode indicar que, de fato, reside aqui o maior problema dos socialistas locais, embora, do ponto de vista "gerencial", a cidade do Recife também apresente sérios problemas. O núcleo político comandado pelo ex-governador, diante da ausência de sua liderança aglutinadora, pode estar apresentando, hoje, indícios mais consistentes de possíveis "fissuras". Nunca foi muito integrado, essa é que a realidade. Os dois atores políticos que procuraram Jarbas, inclusive, já tiveram sérios problemas no contexto das correlações de forças internas.
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