José Luiz Gomes
O prefeito Geraldo Júlio(PSB) até que se esforça, mas o grau de insatisfação da base aliada na Câmara de Vereadores do Recife permanece emitindo alguns sinais preocupantes, como as reuniões de vereadores em conhecidos restaurantes da cidade, certamente não apenas para experimentar o rico cardápio das comidas regionais, preparados no capricho, em alguns botecos que se tornaram famosos, nos morros, periferias ou mercados públicos. Entre um molho de perua à cabidela, um caldinho de sururu, uma lapada de cana cobiçada, muitas coisas são articuladas, como as sondagens sobre mudança de sigla partidária, formação de bloquinhos, apoios a prováveis candidatos, além das inevitáveis traições, das quais nem Cristo escapou. Imagina um cidadão que atende pelo nome de Geraldo Júlio.
O atendimento das demandas da base aliada dependem de inúmeros fatores, inclusive a capacidade da máquina pública em suportar tais padrões, sempre orientados pelas chantagens, pelo mais vil fisiologismo, por puro pragmatismo. Quisera que fosse diferente, que essa base de apoio se constituisse por políticos interessados no bem da polis, no equacionamento dos seus problemas, na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Desejar isso, no entanto, parece ser demasiadamente idealista.
O que nos parece evidente - e pelas razões já expostas - é que o senhor Geraldo Júlio enfrenta alguns problemas de condução política de sua base de sustentação na Casa de José Mariano. Talvez ocorra com ele os mesmos problemas de Dilma Rousseff, no plano nacional. Nem gosta da raia miúda do cotidiano da política - a chamada micropolítica - tampouco foi feliz nas suas escolhas dos nomes da articulação. Esse sempre foi um gargalo do Governo Dilma Rousseff, até o presente. Hoje, o grande avalista político do Governo atende pelo nome de Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. Isso depois de inúmeras tentativas fracassadas, puxando para este meio de campo até mesmo gente muito experiente, mas perigosa, como é o caso do vice-presidente, Michel Temer, que mais conspirou do que articulou.
Em artigo recente, publicado aqui pelo blog, o cientista político Michel Zaidan revela detalhes sobre a composição do grupo político montado pelo ex-governador Eduardo Campos, dividido basicamente entre os estrategistas e os gerentes. Aos primeiros, competia a tarefa do planejamento, da montagem das estratégias, das costuras aliancistas, a missão de ganhar as eleições. Aos segundos, os gerentes, a tarefa técnica, gerencial, executiva. De personalidade egocêntrica, sempre que possível, o ex-governador costumava cortar as asas daquelas pombas políticas mais ousadas do grupo, abrindo um espaço mais expressivo para aqueles homens de sua estrita confiança, de observância cega às suas recomendações, sem brilho próprio, apenas executores.
Foi assim na escolha do nome do partido que concorreria à Prefeitura da Cidade do Recife, bem como a unção de Paulo Câmara para concorrer ao Governo do Estado. Dois nomes neófito na política, do seu grupo executivo, formados na cozinha do Palácio do Campo das Princesas. Deu até a entender que poderia agir diferente, distribuindo cargos estratégicos a secretários com um perfil mais político, mas, na última hora optou pelo nome dos gerentes, já que ele mesmo assumiria a coordenação política do processo. Emblemático que, por ocasião das homenagens de um ano de seu falecimento, o governador Paulo Câmara tenha afirmado que gostaria muito de estar governando com Eduardo Campos. Tadeu Alencar, Danilo Cabral, Milton Coelho, João Lyra Neto, Fernando Bezerra Coelho. Todos foram preteridos ao longo desse processo, sempre em favor do grupo gerencial.
Isso criou um vazio político na agremiação, sobretudo se entendermos que o grau de harmonização do grupo anda está muito longe atingir o ideal, se é que algum dia chegará a isso. Na ausência da liderança catalisadora exercida pelo ex-governador, a tendência é que se ampliem essas divergências, quiçá provocando algumas defecções. Como aqui no Estado nós tivemos uma espécie de eduardolização da política, o vácuo dessa liderança é perceptível dentro e fora das hostes socialistas. Como em poder não existe espaço vazio por muito tempo, logo, logo esse vácuo será preenchido de alguma forma. Quando o grupo deixar de usar a imagem do falecido como um capital político para os vivos - bem vivos - talvez isso possa ser apressado. Eles parecem que ainda estão sob o efeito do luto. Como afirmamos numa postagem no dia de ontem, é muito pouco provável que os familiares do ex-governador permitam que outros atores - que não o próprio irmão, a viúva ou os filhos - assumam essa liderança política.
A julgar como procedente matéria do colunista Inaldo Sampaio, publicada em sua coluna da Folha de Pernambuco, no dia de ontem, as divergências internas do grupo começaram a aflorar de vez. De acordo com o colunista, o escritor Antonio Campos, irmão do ex-governador, teria dado um ultimato ao prefeito Geraldo Júlio no sentido de que este indique se a máquina partidária dos socialistas estará com ele numa eventual candidatura à Prefeitura da Cidade de Olinda, nas próximas eleições municipais de 2016. O primeiro-irmão tomou gosto pela política e seria candidato independentemente do apoio dos socialistas. Caso, em 15 dias, o prefeito do Recife não se posicione a esse respeito, ele irá à procura de uma outra legenda onde possa viabilizar sua candidatura.
O problema de Geraldo Júlio diz respeito ao PCdoB. Este partido acompanha os socialistas desde algum tempo. Aqui no Recife e alhures, o comportamento dos seus membros tem sido marcado pelo mais puro pragmatismo. Há muito tempo não honra suas remotas tradições históricas, tampouco o "C" de comunista que ainda insiste em manter na sigla. Nada mais degradante do que um comunista convertido aos apelos do capital. Assim parece ser hoje o perfil dos comunistas do PCdoB. Lá pelo Estado do Maranhão - que é governado pelo "comunista" Flávio Dino, segundo soubemos, a polícia nunca reprimiu com tamanha violência os movimentos sociais. Dizem que nem na época mais dura da oligarquia Sarney. o pleito desses movimentos sociais? demarcação das terras quilombolas e indígenas, mais escolas para as aldeias. Coisas assim que os autênticos comunistas do passado lutavam bastante para materializar.
Aqui no Recife, quando perceberam que o barco petista estava naufragando, pularam na primeira hora, e entraram de sola no projeto socialista de tornar Geraldo Júlio prefeito da cidade do Recife. A manobra permitiu aos comunistas manter como intocável o seu reduto político, a cidade de Olinda. Num momento em que o prefeito Renildo Calheiros - já então desgastado - tentava a reeleição, e enfrentando algumas dificuldades, o ex-governador Eduardo Campos fez questão de emprestar sua solidariedade ao aliado. Os comunistas governam a cidade por 16 anos. Foram dois mandatos de Luciana Santos e dois mandatos de Renildo Calheiros. Num encontro nacional da legenda, a cidade já foi eleita como a prioridades das prioridades do partido. Há um desgaste natural, mas eles irão tentar manter a hegemonia de poder conquistada na Marim dos Caetés. Tudo indica que a deputada federal Luciana Santos deverá tentar voltar a administrar a cidade. A entrada de Antonio Campos, nesse cenário, dá uma mexida substantiva no conjunto da aliança entre as duas legendas.
Geraldo Júlio, um jogador inexperiente e defensivo, que tem medo até da própria sombra, não vê com bons olhos perder o concurso dos "comunistas" em seu projeto de reeleição. Mas uma vez fica evidente que, talvez em nenhum outro momento, com a entrada de Antonio Campos no pleito, nunca as eleições na Marim dos Caetés interferiram tanto no tabuleiro eleitoral da disputa no Recife.
P.S.: do Realpolitik: Ontem, sábado, dia 22, segundo a imprensa noticiou, ocorreu mais um daqueles famosos "cozidos" na casa de praia do Deputado Federal Jarbas Vasconcelos. Uma ausência suscitou muitos comentários: a do prefeito do Recife, Geraldo Júlio. Logo após o encontro, o vice-governador do Estado e fiel escudeiro do senhor Jarbas Vasconcelos, Raul Henry, passou a reproduzir o mesmo discurso do padrinho político no tocante a pedir a renúncia da presidente Dilma Rousseff. Essas movimentações do grupo liderado por Jarbas - talvez em função do vácuo de liderança política deixado com a morte de Eduardo Campos - inquieta bastante os neo-socialistas da província.
P.S.: do Realpolitik: Ontem, sábado, dia 22, segundo a imprensa noticiou, ocorreu mais um daqueles famosos "cozidos" na casa de praia do Deputado Federal Jarbas Vasconcelos. Uma ausência suscitou muitos comentários: a do prefeito do Recife, Geraldo Júlio. Logo após o encontro, o vice-governador do Estado e fiel escudeiro do senhor Jarbas Vasconcelos, Raul Henry, passou a reproduzir o mesmo discurso do padrinho político no tocante a pedir a renúncia da presidente Dilma Rousseff. Essas movimentações do grupo liderado por Jarbas - talvez em função do vácuo de liderança política deixado com a morte de Eduardo Campos - inquieta bastante os neo-socialistas da província.
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