Há uma data no tronco da velha paineira
Relembrando a vez primeira
Em que você me beijou
Mais embaixo outra data está dizendo
Que você foi me esquecendo
E depois me abandonou
E a paineira hoje triste desolada
Quando vê passar na estrada
O casal feliz no amor
Fica triste recordando com saudade
A nossa felicidade
Nosso romance de amor
Dia de votação é uma festa para este editor. Acordo logo cedinho e me dirijo a secção eleitoral, onde aguardo na fila o momento de sufragar o meu voto nos candidatos escolhidos, criteriosamente, consoante uma série de clivagens pessoais. Nem sempre eles são eleitos, mas a minha consciência fica tranquila, pois a minha decisão se deu em torno de seus perfis como homens públicos, seja atuando no Poder Legislativo ou como gestores das máquinas nas esferas municipais, estaduais ou federal. Sempre acompanho seus trabalhos, seus projetos, suas votações. Se não realizarem um bom trabalho, na próxima legislatura estarão fora de nossa agenda. O critério ideológico conta, mas o seu trabalho em prol do interesse público e a sua conduta são os elementos definidores por excelência.
É um bom momento, igualmente, para rever a nossa cidade, que fica aqui na região metropolitana do Recife. Lembrar dos tempos de infância, quando passávamos horas debaixo de suas frondosas paineiras, depois das aulas, jogando conversa fora, planejando as ações do nosso clube de futebol de várzea e, não menos importante, começando a interagir com o primeiro alumbramento, daí a citação da música de Carlos Gonzaga, sobre as datas marcadas na Paineira. A cidade, infelizmente, nunca mais se acertou. Há relatos de desmandos na gestão dos negócios públicos, com denúncias de corrupção nos poderes Executivo e Legislativo, o que invocou, por mais de uma vez, a presença da Polícia Federal, acionada depois de verificados os desvios de verbas públicas.
Ao longo dos anos, perdemos completamente a esperança sobre a possibilidade de alguma assepsia republicana na condução da máquina pública municipal. Os esquenas de corrupção parecem azeitados, de tal forma, que nem um gestor é eleito sem estar atrelado a esses "compromissos" de caráter nada republicanos.Há um conluio entre Executivo, Legislativo e agentes privados no sentido de lesar o erário. Na minha época de infância, éramos uma espécie de pulmão do Estado. Hoje, perdemos mananciais enormes de nossas reservas de mata atlântica, assoreamos os rios mais importantes da cidade - símbolos identitários, o que é mais grave - tudo em nome da especulação imobiliária, sob a complacência dos gestores públicos, que, certamente, auferem vantagens dessas liberações criminosas.
A rigor, as nossas paineiras de infância foram preservadas tão somente em razão de uma Legislação Ambiental Federal, o que dá a dimensão da importância de não permitir a passagem da boiada, como definu um ex-ministro do meio-ambiente(?), o que implicaria no afrouxamento da legislação para permitir a ação das motoserras, dos grileiros, dos exploradores de garimpos e pesca ilegal em terras indígenas, além de outras figuras igualmente abomináveis. Esse microcosmo municipal diz muito sobre o que está ocorrendo no país e dá a dimensão sobre o que está sendo decidido nessas eleições. Vamos às urnas, votar com a consciência tranquila, em defesa da democracia, do meio-ambiente, da condução responsável dos negócios públicos.
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