Na edição deste domingo, 09, o jornal O Estado de São Paulo publica um editorial onde condena veementemente eventuais articulações políticas com o propósito de anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, tornando-o apto a disputar as próximas eleições presidenciais. Nas entrelinhas - ou linhas mesmo - o articulista do jornal adverte que, se as instituições democráticas não encontrarem o prumo, colocamos nossa democracia sob o risco das tessituras golpistas. Na realidade, o espectro de um regime político de perfil autoritário continua a rondar as nossas instituições, neste clima de desordem institucional, à qual se refere o editorialista.
No Legislativo, no bojo das tessituras visando a eleição do presidente das duas Casas, partidos como o PL, já colocaram suas exigênias para os principais concorrentes aoa cargo, o que incluiria, segundo o que vazou para a imprensa, uma anistia ampla a todos os que estiveram envolvidos nas tentativas golpistas do 08 de janeiro, o que, certamente, incluiria o ex-presidente Jair Bolsonaro. A situação jurídica do ex-presidente é bastante complicada, mas sempre existe uma alternativa e esta alternativa está sendo buscada através do Poder Legislativo.
Acossado por inúmeros fatores, o Governo Lula hoje enfrenta uma espécie de tempestade perfeita. Alguns desses problemas poderão ser superados, mas existe um grave problema de agenda política, sobre a qual pouquíssima coisa poderá ser feita. Se tomarmos como parâmetro a questão da segurança pública, por exemplo, aqui não se construirá acordo algum com setores ativos da oposição, a exemplo da Bancada da Bala. Ontem postamos por aqui uma matéria sobre essa questão, evidenciando a mudança de uma geografia da violência, concentrando os estados mais violentos do país no Nordeste, um reduto eleitoral tradicionalmente identificado com o petismo.
O Governo irá trabalhar numa perspectiva de respeito aos direitos humanos, enquanto Bancada da Bala defenderá o bordão do bandido bom é bandido morto. Citamos por aqui apenas um desses exemplos. Existem outras questões onde os acordos igualmente não poderão ser costurados, mantendo este cenário de instabilidade política que não é bom para o país. Quanto à ameaça do espectro autoritário, este também será mantido, pois o país continua sendo um ambiente propício a tais experimentos da extrema-direita internacional, conforme advertia o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.
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