Insuflada por motivações políticas, a oposição radical ao Governo Lula parece ter perdido o bom-senso - e tornou-se igualmente inconsequente - propondo um conjunto de medidas que não ecoaram bem junto a segmentos expressivos de nossa sociedade. Enquanto avolumam-se graves problemas no país, alguns integrantes dessa oposição apresentam propostas para atender a demandas específicas - como esta PEC do Aborto, que se coaduna com o segmentos evangélicos - sem considerar suas implicações sociais, políticas e jurídicas mais amplas. O resultado é que o monstro das ruas acordou, produzindo um, barulho infernal, tendo, como consequência, manobras de recuo acachapante.
A sociedade brasileira enfrenta um grave problema de agenda. Praticamente não existem pontos de convergências entre Governo e oposição, principalmente aquela oposição organicamente identificada com o bolsonarismo. Fala-se muito que Lula poderia fazer um esforço maior para construir alguma ponte, um governo de conciliação, ampliando ainda mais os padrões de concessões. Não há condições políticas para se fazer um governo de convicções. Não sabemos mais onde ele poderia ceder, uma vez que a agenda progressista já está irremediavelmente comprometida diante de tal ambiente político adverso.
A conversa que a outra parte está querendo com Lula é derrubá-lo. Infelizmente, nós já entramos no modo 2015, ou seja, daqueles dias sombrios que iriam culminar, algum tempo depois, no afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, num processo sabidamente ardiloso, sem uma motivação jurídica que o justificasse. Lula 3 é um Governo que envelheceu precocemente, encurralado pela derrota de narrativas muito bem elaboradas e disseminadas pela extrema-direita. Contra isso ele pouco pode fazer sem o apoio das ruas. O recuo da PEC do Aborto não é obra de ações do Governo - que, aliás, pouco se pronunciou em relação ao assunto - mas da mobilização da sociedade civil. Daqui para a frente tais mobilizações vão se tornarem cada vez mais necessárias.
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